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POV Melanie

Eu estava lendo um dos livros que tinha acabado de comprar, tentando me concentrar ao máximo, coisa que estava praticamente impossível visto que 98% daquela sala conversava super alto, quase gritando.

E uma dessas conversas que mais me chamou à atenção foi a do grupo do fundão, os chefões daquela turma, e pelo jeito, de toda a escola.

Um deles veio conversar comigo, fiquei feliz e irritada ao mesmo tempo, feliz por alguém finalmente vir falar comigo e irritada que ele interrompeu minha leitura.

Eu ouvi, ouvi muito bem ele e seus amiguinhos falando de mim e dos meus dentes.

Eles nem fazem questão de disfarçar, nunca fazem.

Olhei rapidamente para a loira que me encarava, até onde eu soube, ela se chamava Elita Harvok, filha de um magnata milionário, talvez uma das mais ricas dali, ou a mais rica.

Ela era a típica adolescente bonita, rica, desejada por todos e invejada por várias, que fazia bullying com as feias e era enaltecida pelos professores apenas por bom status de família, mas que não saberia nem ao menos resolver uma conta de divisão.

Quando olhei rapidamente, ela no mesmo segundo desviou o olhar e fingiu demência

Voltei à minha leitura quando o professor entrou na sala, imediatamente todo mundo parou a algazarra e se sentou corretamente em suas bancas.

- Mas será possível que em toda reunião de professores vai ser a mesma coisa? - Ele perguntou em um tom de tédio misturado com raiva, todos permaneciam calados - Eu já deixei claro que odeio bagunça, barulheira e desorganização. Portanto esse é meu último aviso: Se isso acontecer de novo, será suspensão para todos, essa escola é uma das mais relevantes que existe atualmente, vocês são filhos de pessoas importantes e devem mostrar que tiveram uma educação de qualidade, coisa que ultimamente está muito difícil.

Todos continuaram calados com as típicas caras pensativas, mas eu sabia que no fundo eles não se importavam com esse tipo de bronca, certeza que aquela não foi a primeira e nem seria a última.

- Pois muito bem - Ele falou se levantando de sua cadeira e olhando na minha direção - Hoje, como vocês já devem ter visto, temos uma nova estudante entre nós, minha querida, levante-se e se apresente para nós, por favor.

Nessa hora meu coração parou.

Eu era a pessoa mais tímida possível, odiava falar em público, apresentar trabalhos na frente das pessoas, postar fotos nas redes sociais, eu era, como diria minha falecida avó: "um bicho do mato"

- N-não professor - demonstrei todo meu desespero nas expressões faciais - Deixa eu aqui mesmo

- Como assim? - Ele lançou um olhar confuso na minha direção - Você é uma nova aluna, entrou em plena metade do ano, todos estão esperando sua apresentação, vamos lá querida, todos aqui já fizeram isso antes, você é só mais uma, eles são feios e mal educados, mas não mordem, pelo menos não que eu saiba

Todos riram no mesmo segundo, aproveitei e fiz a mesma coisa, mal conhecia o professor e já sabia que ele era super simpático.

Levantei da minha cadeira deixando o livro em cima da banca e fui para a frente da lousa, todos me olhavam com atenção, eu pude ver que uns cochichavam com o amigo da frente ou do lado.

"Feia pra porra", "Viu os dentes dela?", "Que cabelo é esse?", "Parece um palhaço"

Eram alguns dos comentários que consegui ouvir, na mesma hora meus olhos ameaçaram encher de lágrimas e fiz uma careta, o professor percebeu meu desconforto e provavelmente ouviu algum dos comentários maldosos e chamou a atenção.

- Ei, eu quero silêncio! - Ele gritou batendo o apagador com força na lousa, todos se assustaram e ficaram calados - Será possível que nem com uma novata vocês têm respeito??

- Tudo bem professor - Falei de cabeça baixa, me segurando ao máximo pra não chorar.

- Não, não está tudo bem, nenhum aqui tem educação, vivem falando que têm nojo de pobres, mas tem milhares de pobres que são respeitosos, completamente diferentes de vocês. - Ele parou e ainda todos continuavam em silêncio - Pode começar minha querida, qual o seu nome completo?

- Melanie Adele Martinez.

"nome pobre"

Ouvi alguém dizendo, e alguns riram baixinho.

- Quem disse isso? - Ele olhou imediatamente tentando achar alguma pista, mas todos só olhavam para o nada, ele deu um último olhar de repreensão e voltou sua atenção para mim. - Muito bem, Melanie, Voc-

- Professor William? - Uma moça alta e loira interrompeu o aparentemente "professor William" abrindo a porta da sala.

- Aconteceu algo? - Ele perguntou com um olhar confuso -

- Sim, aparentemente você deixou seu celular na sala da direção e sua amiga ligou pedindo pra falar com você urgentemente.

- Droga... - Ele olhava pra mim e para o resto da turma ao mesmo tempo, pensando se saía ou não - Tudo bem, estou indo. Melanie, fica aqui, não vou demorar menos que um minuto, quando eu voltar você pode terminar sua apresentação e começamos a aula, ok?

- Ok, pode ir.

Ele se retirou rapidamente junto com a mulher e fechou a porta.

Agora eu tinha que ficar ali igual um objeto na frente daqueles loucos.

- Ei, novata - uma garota morena de traços latinos que estava no fundão chamou a minha atenção - Você usa um fio dental ou uma corda pra limpar esses seus dentes aí?

No mesmo instante todos ali explodiram em uma gargalhada, aumentando mil vezes a minha vontade de chorar.

- Ei novata - um garoto loiro me chamou, segurando o riso ao máximo - Você trabalha no circo nas horas vagas?

As risadas só aumentaram, igualmente minha vontade de sair correndo dali e chorar até adormecer

- E aí Melanie, quantos anos você acha que tem pra usar essas roupas? Cinco anos? Roubou de qual brechó inclusive? - Essa foi a vez da loira, a tal de Elita, soltar seu veneno.

E as risadas aumentaram mais ainda, foi aí que eu não aguentei e saí correndo em direção à porta, abri a mesma de forma desesperada e saí correndo pelos corredores enquanto desabava em um choro desesperado, cheio de dor e tristeza.

Saí correndo até estar super longe da sala, foi então que cheguei ao banheiro feminino.

Entrei em uma das cabines, tranquei a porta e chorei até não aguentar mais.

Eu gritava muito enquanto chorava, e socava a porta, certeza que minha maquiagem estava toda borrada e meu cabelo em um estado deplorável, eu me esforcei para me arrumar bem, me sentir bonita e "ser aceita" pelos demais, mas tanto trabalho acabou em menos de cinco minutos.

- Meu Deus, eu não aguento mais! - Desabafei enquanto sentei no chão - Eu não aguento mais ser tratada como um lixo!

in detention Onde histórias criam vida. Descubra agora