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            Tragou mais uma vez o cigarro enquanto tirava o celular da orelha para ler "ligação finalizada" no visor. Estalou a língua no céu da boca e murmurou um insulto. Andava em círculos na frente do hospital, se sua mãe estivesse ali com certeza diria algo sobre abrir buracos no chão de tanto caminhar... Soltou a fumaça do cigarro, tamborilou os dedos pelo celular e esperou, pela quarta vez consecutiva, ser atendido.

            Ouviu a sequência de tuuuu e em seguida o ruído típico anunciando a mensagem: "Ligação finalizada".

            — Mas que porra! — Falou sem conseguir controlar o volume da voz. Viu algumas pessoas sentadas em um banco próximo se assustarem e tentou respirar fundo.

            Por que caralhos aquela velha não atendia o celular? Se não fosse o atender por que comprou um celular? Por que os médicos estavam demorando tanto para dar notícias? Por que Kirishima sempre fazia coisas tão idiotas?

            Nenhuma resposta.

            Apagou a bituca na sola do sapato e a jogou no lixo. Buscou o maço novamente no bolso e para sua surpresa — talvez nem tanta — estava vazio. Detestava fumar, mas desde que ouviu Mina contar à Uraraka seu plano de pedir Kirishima — ou o cara que Katsuki amava desde a U.A. — em noivado, não encontrava mais tantas formas de se acalmar. Pelo menos tragar um cigarro o obrigava a "respirar fundo".

            Seu único refúgio sempre fora Eijirou. Ele o compreendia como ninguém. Com o tempo se tornaram unha e carne. Compatíveis tanto no ofício de heróis, quanto na vida pessoal. Confiava sua vida a ele, mas o medo de estragar esse laço o fez esconder seus sentimentos por anos. E assim, como se o destino tirasse sarro dele, no dia em que decidiu contar a Eijirou seu segredo, ouviu as amigas conversando antes da reunião semanal sobre a divisão de turnos dos heróis.

           A lembrança do nó quente na garganta o fez engolir audivelmente.

           Que péssimo melhor amigo era. Não fazia ideia que Kirishima estava namorando, muito menos com Mina. Eles sempre passaram bastante tempo juntos, contudo, nunca os vira como namorados, pensava que fossem melhores amigos, mas claro, nunca perguntou nada a Eijirou. Detestava falar sobre o óbvio. Eijirou sabia disso e, provavelmente não o contou por pensar que já soubesse. Estapeou a testa.

           Caminhou de volta a entrada do hospital e foi diretamente até o balcão.

            — Alguma notícia? — Se esforçou para manter um volume baixo na voz.

             — Ainda não, senhor Bakugou, o avisarei assim que a médica disser alguma coisa, pode se sentar ali. — Apontou com o indicador para os bancos da recepção enquanto repetia a mesma frase pelo que achava ser a quinta vez naquela noite.

             Cerrou os punhos e se forçou a andar até os bancos. Sentado, voltou a mexer no celular. Nenhum retorno daquela velhota. Buscou a conversa do seu vizinho de apartamento e quase se sentiu aliviado por vê-lo online.

          "Shoto, foi mal pelo horário, mas você pode colocar comida pro Sasuke pra mim? A chave está debaixo do tapete"

         "Hmmm, a princesinha ta de role e esqueceu de dar comida pro gato?"

         "Se fosse isso tava bom... Você pode?"

         "O que você não me pede chorando que eu não faço sorrindo, né? Mas tá tudo bem?"

         "Não muito, mas te explico melhor depois, valeu, meio pau meio shota"

         "Os anos passam e os apelidos ficam... Incrível... Tá bem, se cuida aí, birimbinha"

Declaração Súbita | KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora