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     A mão livre passava por cima do gesso, testando o endurecimento falso sobre seu braço.

     Eijirou estava tão confuso. Agora entendia a origem de toda tensão no cheiro de Katsuki. Mas não fazia ideia de como ajudar e não conseguia sossegar o grande protetor que morava dentro de si dessa forma.

     Katsuki determinado; Katsuki másculo; Katsuki com uma armadura de ferro; o pequeno Katsuki machucando seu primeiro amigo de infância e sustentando todo esse peso... Mesmo que não tivesse visto o pequeno Bakugou, conseguia imaginar a criança livre de muros, inocente e feliz que morou no seu parceiro, afinal, quando olhava no fundo dos seus olhos, bem no fundo, conseguia ter um vislumbre daquele Katsuki.

     Aquele Katsuki onipotente, conquistador o mundo dos heróis. Másculo e determinado, mas antes de tudo isso feliz, feliz, não irritado. Esse era o Katsuki que ele conseguia enxergar mais que ninguém. Era leve, como uma brincadeira, um jogo criado por ele. E no meio dessa brincadeira de criança, através daquele vislumbre no olhar, Katsuki já tinha conquistado o coração de Eijirou há muito tempo... Precisava conversar com ele...

     A porta do quarto se abriu.

     — É bom ver que nem uma cama de hospital tira esse sorriso pontudo do seu rosto, Baby Shark! — Kaminari atravessou o quarto e parou ao lado da cama.

     Kirishima riu alegre. Estava sorrindo antes?

     — Bom te ver também, Pikachu! — Respondeu animado.

     Bakugou ocupou o outro lado da cama. Kirishima agradeceu por ninguém ali saber ler um oxímetro e muito mais por ele não fazer nenhum barulho, pois sentiu o coração bombear seu sangue com mais força. Todas aquelas palavras da noite anterior; a felicidade da prima; da melhor amiga e aquela declaração, amoleceram o músculo que ele mais tentou endurecer nos últimos anos.

     — Mina terminou de te ajudar com o café da manhã? — Bakugou batia o pé no chão como se marcasse os segundos.

     — Sim, comi todo o meu mingau como um bom garoto, será que ganho uma estrelinha por isso? — Riu, tentando fazer do próprio nervosismo uma piada.

     O brilho do sorriso iluminou Bakugou, e ele parou de marcar os segundos batendo o pé. Refletiu o sorriso e disse:

     — Sua estrelinha chega em três dias. A Velhota está viajando.

     Kaminari deu um longo assovio do outro lado da sala.

     — É, o Kacchan não brinca em serviço. — Kaminari levantou gargalhadas, uma careta dolorida de Eijirou, as costelas ainda o matariam, e um breve risinho de Bakugou ao relembrar o apelido idiota dos tempos de U.A.

     — Hoje vou deixar passar. — Bakugou pontuou.

     Kaminari sorriu de canto e olhou para Eijirou, ele fitava Bakugou enquanto Katsuki disfarçava, fingindo não estar gostando dos olhos vermelhos sobre si. Tão óbvios. Será que deveria contar a eles? Talvez. Mas o papel de intrometido não combinava bem com seu perfil, invés disso falou:

     — E a pergunta que não quer calar: como está se sentindo, Bonitão? — Kirishima voltou sua atenção para Kaminari.

     — Tô bem, Bro. Os remédios devem estar fazendo efeito, não sinto dores, só o incomodo dessa armadura de gesso e doi um pouquinho quando respiro fundo ou quando rio.

     — As costelas, não é? Quantas foram?

     — Quatro, mas só trincadas. — Katsuki respondeu. Surpreendendo os dois.

     — A enfermeira da manhã passou aqui antes de chegarem. No total são quatro costelas trincadas, um braço imobilizado — levantou levemente o braço — alguns ralados, furos das agulhas e remédios antibióticos e anti-inflamatórios por alguns meses. — Deixou o tronco descansar no travesseiro alto, desanimado, enquanto leu a expressão de Kaminari: "isso deve ter doído" — Ela também disse que se eu tivesse levado mais tempo para chegar ao hospital, provavelmente teria danos colaterais permanentes na minha quirk. — E olhou para Bakugou, com a expressão que vazava agradecimento e gratidão.

     Bakugou se contorceu diante daquele olhar, não merecia gratidão. Então recuperou a postura e disse:

     — Nada de pensar em meses de tratamento até a velhota chegar aqui. Você vai ficar bem logo.

     — É, com certeza ela vai te livrar daqui rapidinho, relaxa aí, Bro. — Kaminari pousou delicadamente a mão no ombro de Eijirou. — Trouxe uma coisinha pra te ajudar a passar o tempo. — Do bolso interno da jaqueta, Kaminari tirou uma case preta, com detalhes vermelhos e azuis nas laterais.

     — Uoooo! — os olhos brilharam ao ver a case, correu os dedos no zíper para colocar as mãos no precioso passa-tempo.

     Bakugou ainda não tinha entendido o motivo do alarde, cruzou os braços e esperou por respostas.

     — Caralho, Bro! Como você conseguiu comprar um nintendo switch? As vendas foram suspensas no Japão! — Kirishima brandia o pequeno objeto, vasculhando todos os detalhes do aparelho.

     — Presentinho das viagens a trabalho do Shin. — Kaminari deu de ombros. — Eu preferia um vale de um mês de férias com ele, mas ele realmente sabe como dar bons presentes — riu breve, coçando a nuca.

     — Realmente sabe dar bons presentes — os olhos de Eijirou dançavam pelo aparelho.

     Bakugou anotou mais essa no seu caderninho mental: nintendo switch é um bom presente. Já sabia o que dar de natal para Eijirou. Mina ficaria no chinelo.

     — Vocês estão bem, Bro? — Kirishima voltou a olhar para o amigo com cuidado nos olhos.

     — Ah, ainda não conseguimos conversar direito desde aquela discussão que te falei, mas ele volta logo de viagem. Vamos resolver. — Kaminari se empertigou e olhou para o relógio de pulso — bom, falando em resolver os b.o's do coração, vou deixar o caminho livre pra quem precisa. — Piscou de leve para Katsuki, que corou em um instante, como se tivesse explodido o próprio rosto.

     Eijirou pareceu não entender, ou fingiu não entender, ou só estava encantado demais pelo videogame. Voltou a prender os olhos no aparelho, o guardando com cuidado dentro da case e fechando o zíper.

     — Pode ficar com o nintendo quanto tempo quiser, Bro. — Bateu os punhos com Eijirou.

     — Obrigada, Bro, e por ter vindo também!

     — Volto amanhã pra ver como está sua recuperação. E Bakugou qualquer coisa pode me mandar mensagem! — bateram os punhos e se dirigiu a porta. Antes de fecha-la acrescentou: — Espero que não se esqueça da nossa conversa, Kacchan. — Fechou a porta tão rápido que o potinho de lenços, lançado por Bakugou, acertou o alvo errado e caiu com um ruído leve.

     — Ah! Mas eu ainda pego esse Pikachu. — Esbravejou com os dentes cerrados.

     Eijirou murmurou uma risada.

     — Você sempre diz isso. Mas eu fiquei curioso, sobre o que conversaram?

     Katsuki sentiu a tranquilidade vazar, como se alguém tivesse aberto o ralo do tanquinho de lavar roupa, o buraco engolia a água de forma barulhenta e voraz, deixando um redemoinho para marcar a água que partia para o esgoto e de lá não voltaria. 


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Oi, meus amores! Como vocês estão? 

Confesso que quase não consegui postar o capítulo hoje, dias estressantes por aqui, mas seguimos! 

Espero que estejam gostando <3

Próximo cap sai na segunda, até lá! E se cuideeeem 

Declaração Súbita | KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora