Assim que Katsuki viu o prato do café da manhã soube que Eijirou não iria gostar.
O prato preferido do seu parceiro era carne e a textura tem um papel fundamental nesse fato. Mingau de aveia certamente não tem uma textura parecida... Pensou em comprar algo na padaria que Sakura mencionou para o agradar, mas rapidamente descartou a ideia: isso não ajudaria em nada na recuperação... Tamborilou os dedos na lateral da bandeja, eles não eram mais crianças, então, Kirishima iria comer o mingau sabendo que era o melhor para a saúde dele no momento e ponto.
Calou os pensamentos e subiu a rampa para o bloco B. Segurava a bandeja de mingau de aveia com destreza.
No caminho sentiu o celular vibrar, despertando sua esperança. Equilibrou a bandeja em uma mão e pescou o celular no bolso com outra.
— Finalmente! — As palavras saltaram da sua boca assim que viu "mensagem de Velhota Girl" na tela do celular.
"Oi, Katsuki! Desculpe não atender, estou em um fuso horário diferente. Volto para casa em 3 dias, te aviso assim que chegar, espero que possa esperar. Tchau, querido!"
Embaixo da mensagem havia uma foto: Toki com um chapéu rosa bebê e 13 com um cachecol preto por cima da roupa de astronauta, acenando para a selfie com a torre Eiffel ocupando o fundo da imagem.
Estalou a língua no céu da boca e enterrou o celular no bolso. Essa Velhota nunca sai de Musutafu, mas claro que, quando mais precisava dela ela não estaria presente.
Mordeu a própria língua, o gosto da amargura explodiu na boca. Como poderia pensar que ela nunca esteve presente? Assim que se formou na U.A, foi ela quem descobriu que se não aprendesse a lidar com sua quirk de outra forma, seu cortisol em alta afetaria completamente seu futuro como o herói número 1. Afetaria tanto que não sobraria nenhum Katsuki para contar história de como se tornou o maior herói do Japão e como derrotou o maior vilão de todos, pois estaria com muitos danos no seu corpo, ou, nas palavras de Toki: danos permanentes na sua memória e no controle do próprio corpo... Talvez até Alzheimer precoce pelos altos níveis diários de cortisol.
O fato era: estresse elevava sua eficiência com a quirk, mas o tal do cortisol — o vilão que acabaria com seu futuro —, é o hormônio do estresse.
Recovery Girl teve toda paciência em lidar com Katsuki, tentando reeducar a utilização de sua quirk para uma forma mais saudável, e dessa vez, diferente do que aconteceu com Best Jeanist, Katsuki se permitiu ser ajudado.
Buscou novamente o celular e se esforçou para digitar um "divirta-se", afinal, a Velhota merecia um descanso. Não deixou de ficar cabisbaixo, mas não se entregaria para o estresse. Fora ela mesma quem ensinou a técnica de respiração que colocava em prática nesse exato momento: inala em um, dois, três, quatro segundos, como se enchesse uma bexiga dentro da sua barriga; segura um, dois; exala murchando a bexiga gradualmente em um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete.
Kirishima estava sendo bem cuidado no hospital e três dias passam rápido, não é? Contava com isso.
Voltou a rumar pelo hospital. O turbilhão sob as novas restrições não cessava em sua mente. Se Kirishima não voltaria logo para casa, o certo seria avisar Mina — sua futura noiva — do acontecido. Ela não deve ter estranhado o "pequeno sumiço" até agora, já que Katsuki e Eijirou sempre passam os finais de semana juntos. Mas preferia contar antes que ela descobrisse e tentasse influenciar Eijirou a não ser mais seu parceiro de trabalho por ser o desnaturado que não a avisou enquanto o noivo precisava de cuidados no hospital; eles começariam uma nova vida juntos e a opinião dela importaria muito... Sentiu o estômago se embrulhar, os nervos esticaram como se fossem fios repuxados.
Quase perdeu o equilíbrio da bandeja quando caçou o contato Mina e tratou de avisa-la. Aproveitou o momento e enviou também uma mensagem para o colega que dividia o apartamento com Eijirou: Kaminari. Os pais de Eijirou estavam viajando pela Europa, pouco adiantaria enviar uma mensagem, então, concluindo que todos os devidos seres importantes para Eijirou foram notificados, estralou o pescoço e voltou sua atenção para a missão: levar o café da manhã até o quarto de Kirishima.
Estava sendo um bom parceiro, não estava?
Por favor, tinha que estar...
A culpa da declaração feita na noite anterior o corroía... Será que fez certo? Será que deveria ser mais honesto e assumir os riscos do seu amor por Eijirou e contar enquanto ele estivesse acordado como aquela moça do filme?
Não, essa última opção era absurda, mas ainda assim... O que deveria fazer?
Depois de subir sabe-se-lá-quantas rampas de acesso, chegou ao quarto 357 no bloco B. Era um dos blocos mais altos do prédio, e a retirada do café da manhã antes do horário programado para a entrega era próximo ao térreo.
Um calafrio passou pela sua barriga enquanto virava a maçaneta da porta... Um pressentimento ruim...
Eijirou ainda encarava a janela. Katsuki se perguntou em que ele tanto pensava, inclusive, em que tanto pensava que mal reparou sua entrada... Se aproximou silenciosamente da cama e deixou a bandeja fazer pá na mesa de cabeceira de Eijirou.
— Oh! Bakugou! Que susto, cara!
Riram juntos por um tempo e então Katsuki estendeu a bandeja para Eijirou.
— Eu sei que não parece muito bom, mas você precisa comer... — Disse Katsuki, se adiantando ao esperar a expressão desgostosa de Kirishima.
Expressão essa que não veio.
— Ah, eu já imaginava que não seria muito gostoso, sabe... Como naquele filme que vimos semana passada. Ninguém nunca sai do hospital sem encher o bucho de fast food depois. — Riu da própria observação.
Katsuki relaxou os ombros, talvez estivesse errado com seu pressentimento dessa vez.
Eijirou se tornou mais maduro do que ele pôde reparar nos últimos anos. Será que ele pensava o mesmo de si? Bom... Certamente não era maduro se declarar para alguém enquanto essa pessoa estava no décimo quinto sono, mas... Balançou a cabeça espantando os pensamentos, e se concentrou em admirar Eijirou tentando manusear a colher com o braço esquerdo e derrubando todo o mingau — comicamente fofo —, era só isso que importava agora. Riu nasalado.
— Aqui, deixa eu te ajudar com isso, Cabelo de Merda — Pegou a colher, ajeitou o mingau e o levou à boca de Eijirou que recebeu de bom grado. Katsuki corou instantaneamente ao perceber o que estava fazendo.
— Obrigada, Tsuki, você realmente sabe cuidar de um enfermo. — Disse com a boca cheia de mingau, engolindo com força para acrescentar: — Eu não esperava isso... — Você realmente me ama? Era o que Eijirou queria falar, mas pensou que não seria um bom momento, então as palavras desceram pela garganta, como mingau.
— Eu também não esperava que você fosse comer mingau. — Praguejou, sentindo as bochechas esquentarem gradualmente.
A porta se abriu em um estrondo e de repente mais duas figuras ocuparam o quarto: uma inteiramente rosada e outra de longos cabelos ruivos e óculos. Katsuki sentiu os olhos arregalarem enquanto Mina quase atropelou o móvel ao lado da porta, chegando estabanada aos pés da cama de Eijirou.
— Eiji... o quê...? — Mina tentou dizer, seus olhos corriam rápidos pelos ferimentos de Eijirou.
Ótimo. A futura noiva do amor da sua vida estava a postos. E... o pegou dando comida para Eijirou? Seus pressentimentos ruins nunca falhavam, mas esse se superou...
Katsuki podia ouvir a badalada dentro da própria cabeça: as definições de vergonha alheia foram atualizadas.
Obrigada pela leitura!
A próxima att sai na segunda <3
Estava pensando aqui no quanto sou má com o Bakugou, tadinho né, gente? :(
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Declaração Súbita | KiriBaku
FanfictionKirishima e Mina estavam noivos? Como Bakugou não percebeu antes? O gosto de engolir a própria declaração era amargo. Para ajudar: Kirishima estava no hospital e a culpa era toda sua. Crédios da fanart: @/kirwastaken (twitter) - 1º lugar em #angst...