V

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     Bakugou engoliu em seco e tentou relaxar os músculos, rígidos pela surpresa.

     Kirishima fitava algo além da janela semiaberta do quarto. Sua feição era séria, o rosto inchado de sono e machucados. O olhar distante, como se buscasse algo através da janela. Bakugou não se lembrava da última vez que o viu tão reflexivo assim. Será que estava bravo com consigo pelas últimas idiotices em campo? Ou será não estava dormindo e ficou zangado por ouvir as baboseiras que Bakugou deixou escapar noite passada? Droga, sabia que não devia ter falado nada.

     — Oi, Bakugou! — Kirishima o presentou com seu melhor sorriso, os curativos se remexeram no rosto.

     Bakugou soltou o ar que não reparou estar segurando e sentiu os ombros relaxarem. O sorriso de Eijirou iluminava suas ideias, espantando as sombras da insegurança, Talvez eu esteja paranoico demais... Pensou e se permitiu refletir o sorriso. — Como está se sentindo, Cabelo de Merda?

     — Não é um dos meus melhores dias, mas não sinto dor... — levantou levemente o tronco para se sentar na cama. Franziu o cenho e grunhiu levando a mão livre ao tronco enfaixado. As costelas quebradas marcando sua presença na festa que era estar enfermo.

      Bakugou se postou ao lado da cama, com as mãos levantadas nas laterais em um pedido mudo para que Kirishima não se mexesse mais do que o necessário. — Cedo demais para falar Eiji, deixa que eu arrumo isso — afofou o travesseiro para que Eijirou pudesse inclinar um pouco o tronco na cama. — Não deve se esforçar, muito menos tentar sentar agora, vamos encosta aí. — Com cuidado deu suporte com uma mão nas costas de Eijirou até que ele se acomodasse nos travesseiros.

     Sentiu Kirishima, abruptamente, prender o ar quando segurou suas costas. Será que seu parceiro não confiava mais nele a ponto de ter receio da sua ajuda? Engoliu em seco.

     — É, acho vou ter que ficar de molho por um tempo. — Eijirou levou a mão na nuca e sorriu sem graça.

      — Não se eu puder evitar. Vou trazer aquela velhota aqui custe o que custar. — Bakugou respondeu com um olhar determinado.

     A passos largos chegou até a janela e a abriu, deixando a brisa da manhã entrar para refrescar o quarto e seus pensamentos. Seus olhos se prenderam no movimento dos carros na rua mais próxima.

    Observando tudo, reparando em nada.


     Eijirou não pode deixar de sentir o cheiro de sabonete, amaciante e o odor específico e querido que planaram na brisa após Katsuki permitir sua entrada no quarto. Fechou os olhos por alguns segundos para se atentar a todas as notas olfativas. Só pelo cheiro Kirishima podia dizer muito sobre Katsuki: podia dizer que ele deve ter voltado para casa e saído com pressa, pois, o cheiro do perfume preferido não se misturava ao de amaciante das roupas limpas; podia dizer que ele estava extremamente nervoso, já que o cheiro semelhante à nitroglicerina marcava sua presença sob seu odor específico.

     Cheiro de determinação, esse era o nome que deu a mistura de cheiros de Katsuki. O verdadeiro cheiro de Bakugou. Não que Katsuki soubesse que tinha apelidos para o seu cheiro, mas assim era chamado na mente de Eijirou... Enfim, o fato era: quando a nitroglicerina ultrapassava o cheiro de determinação sem estarem em campo trabalhando como heróis profissionais, Kirishima interpretava como sinônimo de problema. Algo estava tirando a paz do seu parceiro e, como o grande protetor que é, não conseguia deixar de se incomodar com o fato. Conhecia Bakugou o suficiente para saber quão grande era o tormento de uma missão mal resolvida, mas aquele cheiro... Tinha mais coisas ali. Mais do que a insatisfação da missão passada.

      Saiu do seu devaneio e abriu os olhos. Bakugou o fitava com uma atenção cirúrgica, as costas apoiadas no parapeito da janela. Algo naquele olhar fez com que o estômago de Kirishima resmungasse, em alto e bom-tom, reverberando pelo quarto.

      — Claro! Você deve estar com fome, não come nada desde o almoço de ontem... — Disse Bakugou se ajeitando e pegando a ficha presa na grade aos pés da cama. — Aqui diz que você não tem autorização médica para comer nada além da comida do hospital. Vou encontrar a enfermeira e pedir o seu café, está bem? Já volto! — E disparou pelos corredores, antes que Kirishima pudesse dizer qualquer palavra. Determinado, agora, em encontrar o café da manhã para Eijirou.

      Kirishima sorriu contido. Era fato que preferia a presença de Katsuki a qualquer café da manhã, mas Bakugou conseguia ser másculo até enquanto cuidava de um enfermo. E bom, quem reclamaria de ganhar um pouquinho de cuidado, não é?

      Másculo.

      A palavra foi como um gatilho para as recém memórias de Eijirou. De repente vozes ressoaram na sua mente: "ele vai precisar de uma segunda dose, é muito resistente", outra respondendo: "não estou surpreso, esse é o nosso Red Riot". Levou a mão a cabeça, passou a sentir um desconforto no corpo, deve ser a fome, pensou.

     Outra voz tomou suas memórias, mas essa reconhecia muito bem: "Ainda bem que não está me ouvindo, porque quando disse que viria atrás de mim mesmo com todo aquele perigo, citando seu herói preferido, foi bem... Másculo." Sentiu o corpo reverberar de felicidade, Katsuki o achava másculo, estava certo disso? Quando ele tinha dito isso?

     Mas aquela voz — aquela voz — não parava de ecoar na sua mente:

     "Já faz tanto tempo... Não queria te dar esse gostinho, mas foi nesse que ficou mais do que claro pra mim que o único que conseguiria me acompanhar de verdade nessa jornada seria você." [...] "Mas você é diferente. Você alegra o caminho por onde passa, Eiji... É difícil admitir, mas é o que vejo, todos veem. Queria ter reconhecido isso tudo antes. Ter tido coragem, sido másculo como você gosta de falar"

      Era extremamente difícil pensar que o dono daquela voz serena que ecoava na mente de Eijirou, preferia explodir qualquer coisa a conversar. Mas Katsuki estava... O elogiando? Precisava se lembrar mais, queria ouvir mais, mais, mais. Juntou esforços para se concentrar só naquela voz.

     "Acho que o que estou tentando dizer é que eu nunca seria másculo sem você do meu lado."

     Ah, mas é claro que seria, pensou Eijirou, além de másculo é modesto...

     "Quero dizer que eu te amo, Eijirou. Eu teria falado antes, mas quando ouvi as meninas conversando sobre seu noivado com Mina, perdi toda a coragem, mas precisava falar, e não teria coragem para dizer de outra forma senão essa." [...] "Eu te amo. Eu te amo de verdade, Eijirou, demorei muito tempo para entender esse sentimento, é diferente de tudo o que já tinha sentido antes de... bem, antes de você, mas é isso que eu sinto."

    Uma avalanche de sentimentos o cobriu como se fosse uma montanha depois de uma nevasca, gelando suas extremidades, mas aquecendo seu núcleo.

    Katsuki. O. Amava?

    Cada palavra soava como a badalada de um sino enorme dentro da sua cabeça: alto, lento e pontual, marcando uma nova era nos seus sentimentos.  



Olá, meus amores! Como vocês estão?

Antes: obrigada pela leitura! 

Depois: desculpe pelo atraso da atualização, era pra ter saído ontem, mas a senhora sem limites aqui bebeu todas no sábado (em casa) e passou o domingo de ressaca kkk                                      enfim, a velhice né kkkk 

Agora o que realmente interessa: a próxima att sai na quinta 

Jaa ne <3


Declaração Súbita | KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora