IV

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Oii! Como estão? Sei que demorei com essa atualização. Chegou a TPM e mais um período de longas e insuportáveis cólicas, então eu precisei descansar um pouquinho... Mas agora tudo certo e volto com a meta de atualizar a fic 2x por semana!

Último parágrafo do cap anterior só pra refrescar a memória de vocês: Essa última parte ficou bem melhor na cabeça de Bakugou do que nas palavras, ser inspirado por filmes ruins era uma bosta, mas quem ligava? Foi sincero, estava cansado e Eijirou dormia, denotado, por sua culpa... Sentiu areia cobrir as pálpebras marejadas. As bochechas meladas do choro ressecado. Não as limpou, não parecia ter força para tal. Encostou a têmpora na lateral da poltrona e sem mais avisos: o sono o tomou.

Espero que gostem e boa leitura! 



     Bakugou se jogava contra a escuridão do que parecia ser um beco, ou vários becos. Não sabia aonde deveria ir, mas seu peito exprimia a necessidade de movimento. Virava as esquinas procurando por... algo? Alguém?

     Pontos de interrogação pichados nos muros os seguiam como se fossem olhos de um quadro antigo.

     Um beco mais a frente se iluminou chamando sua atenção, Bakugou correu até ele, encontrou a silhueta de duas mulheres conversando. Se aproximou com o cuidado para não ser visto e tentou ouvir:

     — Você acha que vai dar certo, Ura? — A silhueta do black power segurava uma caixinha aberta.

     — Claro que vai, o anel até combina com o cabelo ruivo!

    — Mas você acha que o Eijirou vai aceitar? Acho que ele nem imagina isso...

     Eijirou.

     Sentiu o estômago se revirar; preferiu voltar a correr antes que vomitasse. Se afastou o mais rápido que pôde daquele beco, virando esquina pós esquina até enxergar outra luz. Agora, conseguiu perceber que era vermelha. Quis hesitar, ouvir o pressentimento de que havia algo errado, mas seu corpo se movia sozinho naquela direção.

     Olhou de relance dentro do beco, e seu corpo congelou, totalmente rijo. Dessa vez a cena era nítida: Kirishima se jogando na frente de um vilão — cujo corpo era coberto de espinhos que gotejavam um líquido grosso —, para proteger seu parceiro do ataque. Assim que Kirishima afastou seu parceiro, o vilão o prendeu no chão, deixando que o líquido escorresse por todo o corpo endurecido. A quirk de Kirishima falhou, como se o veneno corroesse sua individualidade em segundos, dando espaço para os espinhos se encravarem na sua carne. Eijirou gritou.

     O grito de uma dor insuportável. Bakugou podia sentir as agulhas entrarem no próprio corpo através das ondas sonoras captadas por seus ouvidos. Agulhas afiadas, rasgando lentamente a pele, os músculos, os nervos...

     Caiu sobre os joelhos na frente do beco e viu a cena se repetir.

     Kirishima o defendendo; Kirishima sendo preso e afetado pelo veneno e então: Kirishima gritando sob mil agulhas envenenadas.

     Quis se levantar, acabar com aquele babaca antes que atingisse Eijirou, mas suas pernas estavam agarradas no chão, rodeado do icor grosso que saia das agulhas do vilão, tentou os braços, tentou as explosões e nada — não conseguia mover nenhum músculo do seu corpo.

     Condenado a assistir sua maior falha.

     E a cena se repetiu, de novo, e de novo, e de novo... 

     — Senhor Bakugou! — Um chamado distante chegou a sua percepção. — Senhor Bakugou!

     Bakugou acordou de súbito em um corpo ainda adormecido. Os braços cruzados na frente do peito formigavam, tal qual suas pernas. Ainda estava preso no próprio corpo? Queria se mexer, como queria se mexer.

     — Bakugou, acorde! — Alguém pressionou os dedos sob seu ombro e remexeu seu corpo, libertando finalmente Bakugou da inércia causada pelo sonho.

     Se ajeitou na poltrona, suava frio. Conferiu rapidamente a cama: Eijirou ainda dormia. A boca aberta e a cabeça tombada no travesseiro afrouxaram o aperto no seu peito por alguns segundos. Então voltou sua atenção para quem quer que estivesse ali e — graças a All Might — o acordou.

     — Doutora? — Bakugou esfregou o dorso da mão nos olhos e se levantou. — Algo errado?

     — Pode se sentar. — Com a mão no ombro de Bakugou, impeliu que a obedecesse. Estendeu um copo de água e explicou para um Bakugou sentado e sonolento: — Não há nada de errado, mas tive que te acordar antes que você acordasse seu amigo. Estava gritando o nome dele e outras palavras sujas. Entendo que deve ter sido um pesadelo, mas isso aqui é um hospital, tente se acalmar, está bem? — As palavras doces e ternas mascaravam a sensação de estar levando um sermão.

     Bakugou sentiu as orelhas esquentarem. Não tinha o costume de falar dormindo, pelo menos não até agora. Anuiu com a cabeça e tomou a água. Há tempos vinha aprendendo a lidar com todos os tipos de explosões que carregava dentro de si — Eijirou inclusive tinha um papel fundamental nessa "terapia" —, mas deixá-lo daquele jeito...

     — Com o que estava sonhando? — Sakura se abaixou para ficar na altura dos olhos de Bakugou, como se fosse uma criança, uma criança de 24 anos.

     — Lembranças, ou parte delas, eu acho...

     — Quer falar sobre isso?

     — Na verdade, não. Mas agradeço por me acordar e pela água. — Respondeu de prontidão.

     Sakura tinha uma postura muito convidativa, se fosse em outro momento talvez até se abriria com ela, mas visivelmente não era o caso. Não era com seus mínimos problemas que devia se preocupar nesse momento.

     — Sem problemas. — Sakura se empertigou. — Além de médica, sou psicóloga também, se quiser posso preencher uma ficha de acompanhamento psicológico para você.

     — Faz sentido... mas já faço análise. — Bakugou se levantou e esticou as costas. — De qualquer forma você já me ajudou bastante. Ele — apontou com o queixo para Eijirou — acordou? Quando vou poder o levar para casa?

     Sakura sorriu compreensiva, e seguiu os olhos de Katsuki até Eijirou.

     — Não, está dormindo desde que tomou os medicamentos. Ele ficara em observação por mais uns dias antes de liberarmos, a quantidade de dias vai depender dos resultados dos exames, logo a enfermeira da manhã passará por aqui. — Sakura conferiu o relógio no pulso. — Bem, meu trabalho aqui está feito e meu turno está acabando. Tem uma padaria na frente do prédio do hospital, coma alguma coisa, não vai ajudar Kirishima se estiver de estômago vazio. Jaa ne! — Sakura deixou o quarto acenando para Bakugou de costas.

     Sozinho, foi até o banheiro e encarou seu reflexo. As imagens do sonho, ainda bem vivas, latejavam em sua mente, junto da sensação de impotência e do eco do grito de Kirishima. Bakugou não se lembrava muito de nada que aconteceu depois daquilo. Forçando a memória encontrou alguns flashs de explosões e gritos próprios e então carregava Eijirou, pelos ares, até o hospital mais próximo, deixando o corpo do vilão — talvez desmaiado? — para a polícia e os outros heróis profissionais que deveriam estar se aproximando.

     Se não tivesse insistido que daria um jeito naquele vilão sozinho assim que ouviu a chamada isso não teria acontecido. Que sirva de lição, seu idiota, você não é mais um adolescente, pontuou sua voz interna enquanto abaixou o rosto para jogar a água das palmas aos olhos. Essa foi a última vez que coloquei ele em risco.

     Após esfregar o rosto com a água e enxugar as mãos, tateou o bolso em busca do celular. Aquela velhota da Recovery Girl não retornou nenhuma das suas ligações. Precisava conseguir falar com ela, não iria aguentar ver Kirishima naquele estado por mais alguns meses, logo Eijirou que leva tão a sério seus treinos matinais... Buscou pelo contato de Toki e ligou novamente: caixa postal. Estalou a língua no céu da boca e abriu a porta para voltar ao leito de Eijirou.

     Para a sua surpresa: Eijirou estava acordado encarando a janela com uma expressão séria, extremamente incomum para seu rosto. 


Obrigada pela leitura e não esqueça de deixar seu voto se estiver gostando da fic :3

Jaa ne! 

Declaração Súbita | KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora