II

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          Preencheu o mais rápido possível a papelada e pegou um uber para sua casa. Durante o trajeto, sentiu o coração se apertar conforme se afastava do hospital. Se obrigou a respirar fundo, contando até dez para não explodir o apoio na lateral da porta com sua individualidade.

          Sasuke o saudou miando ao roçar em suas pernas assim que entrou no apartamento. Acariciou rapidamente o bichano e foi até a cozinha verificar os potes de água e comida. Estavam cheios, graças a Shoto, o melhor vizinho que poderia ter — lhe devia mais uma.

          Olhou para o relógio da cozinha, os ponteiros marcavam 2h15, não tinha se dado conta que era tão tarde até então. Foi depressa ao banheiro, jogou o uniforme com o sangue de Kirishima no cesto de roupas sujas e ligou o chuveiro. Não tomou nenhum cuidado ao lavar os leves ferimentos que tinha nos braços e nas mãos — causados pelo exagero nas explosões — bastava que estivessem limpos, e para isso deu boas esfregadas merecidas.

          Em poucos minutos estava vestido, sem resquícios de sangue e com um novo maço de cigarro no bolso. Pegou seus documentos e as chaves da moto, não estava a fim de esperar o uber chegar até sua casa e depois até o hospital, com certeza seria mais rápido de moto. Encarou novamente o relógio: 2h30, com sorte chegaria ao hospital antes das 3h00.

          Desceu até o estacionamento pelas escadas, montou rapidamente na moto e deu a partida. O vento gelado parecia cortar suas roupas, castigando a pele, entretanto, não fazia questão de se proteger do frio, respondia acelerando ainda mais a moto. Kirishima deu tudo de si para o proteger, não perderia o ritmo por um leve tremor e pelo cansaço de sua quirk.

           Ao virar a esquina da boate plus ultra, se espantou com o tanto de gente em frente ao estabelecimento. Esqueceu que era sexta-feira. Era para ele e Eijirou também estarem ali, se divertindo. Passou os olhos pelas pessoas na calçada e uma cena lhe roubou um milésimo de atenção: cabelos cacheados em tons de rosa se entrelaçavam em cabelos vermelhos, compridos e lisos, como se quisessem se fundir em um só. A dona das madeixas vermelhas prensava a rosada na parede. Um beijo devasso; um beijo em que só se via cabelos. Estalou a língua no céu da boca e acelerou a moto fazendo o motor roncar obediente. Quantas demonstrações de afeto terei que ver nessa merda de dia?


            Chegou ao hospital, as mãos em um misto pálido e roxo. Com dificuldade de mover os dedos, abriu a porta do recinto e apressado foi ao balcão solicitar a entrada no quarto 357. Enquanto a recepcionista do turno atual checava a papelada, Bakugou fitou o relógio da recepção, ao lado da TV: 2h52. A cada minuto longe de Eijirou se sentia pior, ainda mais por saber que ele nunca estaria ali se não fosse a sua própria incapacidade de protegê-lo. Há um bom tempo passou a agir mais pelo seu intelecto e menos pelos instintos — não tinha tanta dificuldade para tal visto que era bem inteligente —, entretanto, passar por cima da sua autodestrutividade todas as vezes era um desafio maior do que qualquer outro já ganho.

           O compasso das batidas do seu coração ordenavam os passos em direção ao quarto 357. Eijirou estava com o braço enfaixado, curativos no rosto — que estava levemente inclinado com a boca semiaberta, babando. Embaixo do peito, ataduras davam voltas e mais voltas até sumirem debaixo das cobertas. E ele conseguia parecer tranquilo mesmo estando todo machucado...

          Sentou-se na poltrona ao lado da cama, o oxímetro prendia a ponta do dedo dele e os arranhões subiam pelos braços, quando voltou a olhar para a mão de Eijirou, a sua já estava lá, entrelaçada nos dedos do enfermo.

          Sentiu os próprios olhos marejarem conforme o sentimento de impotência o cobria novamente. Se não teimasse tanto em ser o herói número 1 não estaria encarando Kirishima em um leito; se não fosse tão obstinado talvez tivesse percebido seus sentimentos por ele antes; se não insistisse tanto... talvez... talvez estivesse no lugar de Mina... ridículo, condenou os próprios pensamentos, não deveria desejar estar no lugar da pessoa que Eijirou verdadeiramente ama, principalmente não depois de prejudica-lo tanto com sua imprudência.

         Apertou a mão de Eijirou e sentiu a lágrima escorrer. Nunca admitiria chorar na frente de alguém. Não podia ser fraco. Mas a verdade era que não conseguia mais conter o choro, tampouco seus sentimentos, e, bem, Eijirou tecnicamente estava dormindo, não o veria fraquejar.

          — Eiji... — Sussurrou enquanto as lágrimas caiam sobre os dedos. — Eu sinto muito. Sou um babaca mesmo... Não deveria ter ignorado as recomendações e ido atrás daquele vilão e você — soluçou — você não deveria ir atrás de mim. Não sou um bom parceiro pra você... — A mão de Eijirou era grande, os dedos longos e levemente ásperos. Mãos de um bom herói. Katsuki a apertou mais, tomando cuidado para não machuca-lo.

         Abriu a boca para continuar, mas a porta se abriu, em segundos jogou as lágrimas para longe do rosto e se viu em pé, com a guarda armada, ao lado do leito encarando a pessoa que acabara de entrar.

          — Sr. Bakugou, certo? — Era a mesma médica de antes. Reconheceu os cabelos rosados, Sakura Haruno. Bakugou somente anuiu com a cabeça — Não vou fazer nenhum mal, é rotina do hospital. — Sem respostas, continuou: — Você realmente se importa muito com ele, namoram?

          Bakugou corou até as orelhas com a insinuação.

           — N-não! — Disse abismado. — Somos... hum... grandes amigos... — Desfez a guarda e encarou o chão, derrotado.

           — Hmm... — Sakura levou a mão ao queixo e juntou as sobrancelhas como se estivesse assimilando uma teoria nova. — Me pareceu bem mais que isso, mas se você diz... — Deu de ombros. Se aproximou do leito e apoiou as mãos na grade ao pé da cama. — Ele ainda vai passar um tempo desacordado pelos remédios que demos, mas ter você por perto deve ajudar na recuperação dele.

         — Acho que não. — Disse lacônico.

         — Seu nome é Bakugou Katsuki, certo? — Sakura o encarou como se procurasse algo entre seus olhos.

         — Sim, mas...

         — Cuidei do socorro de Kirishima assim que chegou — Sakura o interrompeu e com uma leve curvatura dos lábios, continuou: — seu amigo, se mostrou bem resistente aos anestésicos, ele tem uma resistência maior que a dos demais, provavelmente parte da sua quirk ou algo assim, demorou a relaxar enquanto removíamos os espinhos, não ficou quieto por nem um minuto até ceder a segunda dose de anestésicos, repetia o mesmo nome sem parar. Faz alguma ideia de quem ele tanto chamava?

        Bakugou não respondeu. Rijo, encarava a médica com um olhar vazio, como se já esperasse uma resposta que, em um nível nada fácil de assumir: o magoaria. Claro que Kirishima chamaria pela futura esposa, mas negou com a cabeça, evitando ouvir essas palavras na sua própria voz.

       — O seu nome.









E aí, amades, o que estão achando? Dicas? Sugestões? Críticas? Comentários?

O próximo capítulo sai na quarta


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Até quarta! <3

Declaração Súbita | KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora