XI

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     Bakugou começou a ocupar o quarto todo, de repente surgiu a necessidade de arrumar a bagunça.

     — Sobre coisas óbvias e o tempo... — Respondeu deixando claro no seu tom que as reticências deveriam ser um ponto final. Pegou os lenços caídos ao lado da porta e os guardou.

     — Não sei se entendi... — Os olhos de Eijirou acompanhavam Katsuki feito um cachorro esperando o pedaço de pão do dono. Bakugou agora arrumava o móvel ao lado da porta. — Ih, baixou a faxineira, Tsuki?

     Katsuki parou de trocar os objetos de lugar e voltou sua atenção a Eijirou.

     — Me desculpe por te colocar aqui, Eiji... — Os ombros caíram ao lado do corpo e Kirishima pôde ver todas as linhas de cansaço que se formavam em Katsuki, das olheras a roupa amarrotada sobre o corpo encurvado pelo peso errôneo da culpa.

     — Hey, isso não é sua culpa. — Teve que conter o impulso de se levantar. Queria sair da cama e abraçar aquele Katsuki idiota; espremer naquela cabecinha que Eijirou só estava vivo porque ele era seu parceiro. Invés disso, pediu: — Senta aqui, por favor — abriu espaço no canto da cama e deu leves tapas no lençol.

     Bakugou não ousou recusar o pedido. Se ajeitou naquele canto, sentou-se de lado e balançou a perna pendurada, enquanto o outro pé estava firme no chão.

     — Tsuki, essas coisas acontecem o tempo todo, não é a primeira nem ultima vez que vamos nos machucar em campo. — Entre todos os impulsos que tentava conter, não conseguiu segurar sua mão no lugar, quando reparou ela já estava em cima da mão de Katsuki.

     — Mas você não se machuca assim desde...

     — Tokyo — Eijirou completou — eu sei, mas agora é diferente.

      — Você está em observação por tempo indeterminado, Eijirou, no hospital. O que tem de diferente? — A irritação transparecendo na voz.

     O pior tipo de irritação, pensou Eijirou, a irritação com os próprios atos.

     — Dessa vez você está aqui comigo.

     Recebeu o olhar lacrimejado de Katsuki e viu, ali dentro, a luta das altas barreiras prestes a ceder. Nunca tinha visto Katsuki chorar. Ouviu sim, na noite anterior, mas vê-lo chorar... Sentiu os órgãos revirarem, a vontade, a necessidade de confortar Katsuki emergindo descontroladamente.

     — Tsuki... Se não fosse por você eu teria morrido, você tirou aquele vilão de cima de mim e voou para o hospital, explodindo o ar, mais rápido que qualquer socorro que já tive ou poderia ter. Por favor, Bakugou, por favor, se for se culpar por algo, se culpe por ter me salvado. Porque foi isso que você fez. — Sentiu o próprio rosto esquentar e os curativos ficarem molhados. — Droga, vou ter que trocar essas coisas.

     Não era a primeira vez que Bakugou ouvia que a culpa não era sua, mas foi a primeira vez que acreditou, como se raios de sol atingissem seu corpo, o descongelando de um dia frio. Mas agora esse sol chorava.

     — Eu arrumo pra você — enxugou as próprias lágrimas com a manga da blusa e pegou os lenços de papel, se aproximou com cuidado de Eijirou e enxugou suas lágrimas.

     Mais delas caíram. Katsuki secou todas tocando com os lenços o rosto de Eijirou, cuidadosamente, como sempre fazia nos seus sonhos em que eram um casal depois de beija-lo. Aproveite enquanto pode, a voz no fundo da sua cabeça soou, é o mais próximo de Eijirou que você vai chegar. 

     Eijirou sentiu a represa dos sentimentos contidos estourar, fechou os olhos e a sentiu vazar. Talvez tivesse amolecido demais, ah se pudesse ativar sua quirk. Contudo se permitiu aproveitar aquele carinho; a pressão dos dedos grossos, quentes e calejados de Katsuki sobre seu rosto; o cheiro de determinação sob café, sabonete e... lágrimas. Seu eu protetor rugia no peito.

     — Katsuki, me fala que você vai parar de se culpar por besteiras? — Soluçou Eijirou.

     — Isso vai fazer você parar de chorar, Cabelo de Merda?

     Eijirou anuiu com a cabeça.

     — Tá bem, tá bem, eu paro.

     — Mesmo? Por todas as besteiras que você acha que fez? — Kirishima abriu um dos olhos. Bakugou não afastou as mãos do seu rosto.

     — Todas? Isso é muita coisa...

     Eijirou espremeu uma careta.

     — Tá bem, tá bem, eu vou tentar, tá legal? — Secou a última lagrima que ia molhar o curativo na bochecha de Eijirou. — Mas que papo é esse de todas? — Vozes soaram na cabeça de Bakugou: "seu amigo, se mostrou bem resistente aos anestésicos, ele tem uma resistência maior que a dos demais, provavelmente parte da sua quirk", o ar faltou ao peito, tirou subitamente as mãos de Eijirou como se ele próprio fosse machuca-lo só pelo toque. — Ah não... Vo-vo-cê ou-viu? — Engoliu em seco.

     Eijirou segurou o pulso de Katsuki antes que pudesse levantar da cama.

     — Não sei se ouvi tudo, mas ouvi, me lembrei assim que você foi tomar café da manhã, me desculpe, sei que não deveria...

     — Eiji... — Bakugou sussurrou, atônito, tropeçando nas próprias palavras, Eijirou viu seu peitoral subir e descer aceleradamente movendo a camiseta preta.

     — Não precisa falar nada — Eijirou abaixou o olhar. — Sou eu quem preciso.

     Se Bakugou conseguisse alinhar os próprios pensamentos, notaria outras reações além de seu corpo tenso como se queimasse no gelo.

     — Sempre soube que alguma coisa tinha acontecido com você pra que escondesse tanto esse coração. — Se permitiu não conter mais os atos, então levou a mão do pulso de Bakugou ao seu rosto. — Mas não imaginava que tinha te ferido tanto assim. Katsuki, você era uma criança conhecendo seus poderes, ninguém lida bem com isso, você sabe, consegui essa cicatriz assim também — remexeu a sobrancelha para um Bakugou ainda atordoado. Uma tentativa falha de deixar a conversa mais leve. Suspirou. — O peso dessa culpa não deveria ser carregado por uma criança, muito menos crescer com ela. Por favor, promete pra mim que vai ao menos contar pra sua analista, ela vai te ajudar a descarregar essa mochila. Isso não é justo com você. Eu nunca — levantou o tronco para olhar no fundo dos olhos de Bakugou — nunca te acharia um monstro por isso, Katsuki, você pode confiar em mim.

     Era informação demais. Katsuki não sabia como reagir. Na verdade, Eijirou ter ouvido a parte do seu velho trauma com Haku era uma das que menos o incomodava em relação ao seu desabafo, mas ouvir Kirishima tão preocupado fez com que sentisse o dever em dar mais voz a esse assunto — mais voz e menos atos. Seu baú de traumas, selado a sete chaves, nunca se remexeu para ser aberto, contudo o brilho de Eijirou penetrou o baú pelo buraco da fechadura, iluminando a possibilidade de cuidar desse conteúdo.

     Sentiu esse brilho prover confiança.

     — Prometo, Eiji-rou — Acrescentou a última parte do nome com receio. Não sabia mais se podia o chamar pelo apelido sem incomoda-lo, Eijirou provavelmente sabia sobre seus sentimentos. — Vou dar mais atenção pra isso. Vou cuidar melhor de tudo. Eu prometo. Mas i-isso foi tudo o que ouviu?

     — Não. — E o alívio de Katsuki caiu feito madeira. — Tem uma coisa que você falou que me incomodou muito...

     Katsuki engoliu com força, audivelmente. Era agora que ele quebraria a cara, perderia seu melhor amigo, parceiro de trabalho e primeiro amor. Se sentiu preso em um filme de romance sem final feliz.

     — De onde você tirou que eu e Mina vamos nos casar? 


✁✂︎✃

Oi, meus amores, como vocês estão?

Sei que atrasei com a postagem do capítulo, por aqui as crises de cólica me pegaram e eu viro uma grande inútil nesses dias hahaha agora consegui voltar. 

Vou soltar mais um cap essa semana sim, ainda não sei bem o dia, mas vou! 

Espero que tenham gostado do capítulo,

Até loguinho ♡

Declaração Súbita | KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora