Capítulo 1

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Em meio a um sono maravilhoso, ouço o barulho do meu terceiro despertador, indicando que são 06:15 e que preciso me arrumar antes que me atrase. É sexta feira, o que significa que depois da escola tenho que ir para a Academia treinar, como faço há tantos anos.

Levanto com dificuldade, já cansada da rotina que levo desde que me conheço por gente, e encaro as paredes do meu modesto quarto, ainda marcadas por antigas pinturas que tinha feito quando pequena.  Tomo um banho rápido, visto o uniforme e desço as escadas de nossa pequena casa para comer algo. Acabo escolhendo uma barrinha de cereal, mesmo sabendo que não vou comer e ela vai acabar perdida dentro da minha bolsa, assim como todas as outras.

Depois de me despedir de minha mãe, que ainda estava dormindo, saí de casa com 10 minutos de antecedência, afim de ter mais tempo para caminhar e aproveitar o alvorecer que ainda se erguia em meios as árvores do Parque Central da Cidade. A primavera havia chegado.
Echo Creek não ficava muito longe, então não me demorei a chegar na instituição chique que Sir Reginald insistiu em pagar.

A grande construção era intimidadora. Enormes paredes de pedra avermelhada, eram erguidas por colunas brancas. Várias janelas adornavam o exterior e iluminavam o interior dos prédios. O grande sino decorado com ouro, presente no prédio central, indicava os dias de glória daquela instituição. De fato, Echo Creek foi uma das primeiras escolas fundadas na cidade e é a mais popular até hoje.

Em geral, eu me dava bem com as outras pessoas. Era amiga de quase todos na classe. Não sei se isso se devia ao fato de eu ser uma integrante da Umbrella Academy e protegida de Sir Reginald. Apesar de não saber se eles de fato sabiam quem eu era, e o que era capaz de fazer. Por um motivo ou outro, era bom não se sentir sozinha num lugar tão grande.

O dia correu normalmente. Aulas entediantes de física, que eu apenas ignorava, afim de preservar meus últimos dois neurônios, entre aulas de história, onde eu realmente me esforçava para tentar fazer o conteúdo entrar na minha mente.

Apenas após o 4° período, durante o intervalo, consegui ver Tom, meu namorado. Estávamos juntos há 5 meses. Não era exatamente a melhor pessoa do mundo, ou mais compreensiva, e nem chegava aos pés do meu ideal de namorado perfeito, mas ele era bom para mim. Ele não era de minha classe, por isso não o conhecia muito antes de nosso relacionamento. Ele se aproximou de mim meio que do nada, e em poucas semanas, me pediu em namoro. Ele ofereceu carinho e eu aceitei de bom grado, já que não é algo muito comum em minha vida.

-Bom dia, amor - disse enquanto depositava um beijo casto em seus lábios.

-Bom dia, linda - respondeu, jogando seu braço direito em meu ombros - como foram suas aulas?

-Ah, você sabe. - disse distraidamente - os mesmos professores tentando enfiar as mesmas merdas na nossa cabeça, esperando que a gente aprenda algo.

Tom fez um rápido meneio com a cabeça. Não tenho certeza se ele ouviu o que eu falei, mas antes que eu pudesse pensar sobre isso, Jade, a diretora da escola veio em minha direção.

-Victória, querida, sua presença está sendo requerida na minha sala.

-Aconteceu alguma coisa?

-Infelizmente sim, e eu sinto muito por sua perda. - disse enquanto colocava a mão no coração.

Despedi-me de Tom e enquanto Jade me guiava pelos infinitos corredores, fiquei pensando no que ela tinha acabado de dizer. Perda? Será que havia acontecido algo com minha mãe? Não pode ser, ela estava perfeitamente bem quando saí de casa. Pensei em todas as possibilidades, com medo de ter acontecido algo com a pessoa que mais amava nesse mundo. A resposta para a minha pergunta veio alguns segundos depois...

-Diego? O que você ta fazendo aqui? - perguntei para o garoto vários centímetros mais alto que eu, parado de braços cruzados na entrada da sala.

-Vic... é o papai. Acordamos essa manhã e descobrimos que ele o coração dele falhou e ele faleceu no meio da noite. - disse ele, sem qualquer emoção na fala ou nos olhos - vim te buscar para irmos para a Academia. O funeral será amanhã.

-Diego, eu estou no meio das aulas. Não posso sair assim!

-Sua permissão já foi concedida. Além disso, terá uma semana de recesso, pra se recuperar, ou algo assim. Não que tenha alguma coisa pra se recuperar, mas a escola insiste.

Se eu teria uma semana de recesso, significa que eu emendaria direto para as férias. Ótimo, pensei, pelo menos a morte do velho teve algum benefício.

-Tudo bem - falei me aproximando dele e o abraçando - é bom te ver.

-Bom te ver também Vic - disse me abraçando mais forte.

Depois que Five desapareceu, eu e Diego nos aproximamos e realmente nos tornamos como irmãos. Minha relação com ele é mais forte do que com qualquer outro ali, e eu confiaria minha vida a ele. Sei que é muito ressentido por causa das coisas que nosso pai fez, assim como ele sabe dos meus traumas e me confortou no momento mais difícil da minha vida. Nos tornamos o apoio um do outro, e eu não sei o que faria sem ele do meu lado.

Após um falatório entediante de Jade, sobre como essa era uma grande perda, eu e Diego seguimos caminhando silenciosamente para a Academia. O sol, aparentemente muito forte de manhã, agora estava coberto por nuvens, como se a natureza tivesse sentido que houve uma morte e que o clima devia ser pertinente à situação. No caminho, fiz questão de ligar para minha mãe, contar tudo e avisar que não retornaria para casa por pelo menos 1 semana. Também avisei Tom sobre a morte de Reginald e que não o veria na escola até as férias acabarem. Prometi que daria um jeito de vê-lo durante as férias.

Chegamos na na grande mansão que abrigou a Umbrella Academy. Não tinha muito propósito, agora que seu fundador estava morto. Olhei para Diego, ao meu lado, enquanto ele depositava gentilmente sua mão direita em minhas costas, como um sinal de conforto.

-Você ta bem? - perguntou ele.

-Sim, sim, eu só... é esquisito entrar aqui de novo sabendo que Reginald não vai estar mais aqui sendo cruel com a gente - respondi, olhando em seus olhos. - Convenhamos que esse lugar não tem as melhores lembranças.

-Não, - concordou - não mesmo. Mas nós temos uns aos outros e agora estamos livres das mãos daquele monstro.

Deslizei minha mão, para encontrá-la com a de Diego. Dei um breve aperto e um sorriso fraco antes de marcharmos para dentro. Ele era meu porto seguro e não soltei a mão dele nem por um minuto.

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Bom, esse foi o primeiro capítulo da nossa história. Como já expliquei, a linha do tempo é um pouco diferente.

Espero que estejam gostando🦋

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