X - Contrato (Parte 1)

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(Aviso: este capítulo contém cenas que relatam abuso e violência, tanto física como sexual. É um tópico sensível em geral, por isso quero deixar claro para não pegar ninguém desprevenido.)


Mesmo com os olhos abertos, não enxergava quase nada. Estava cega de ódio, frustrada, com dezenas de xingamentos rodando na cabeça. Viro a primeira entrada à esquerda sem pensar muito, passando pelo corredor da casa de Giovanne e entrando em sua sala de estar. O próprio estava no sofá, encurvado com as mãos no rosto. Queria continuar pressionando ele, fazer mais perguntas, mas sabia que ele não tinha respostas.

Nós passamos por tanta merda para chegar nessa casa... Não era justo. Ele deveria ter pelo menos uma resposta, uma informação útil, qualquer coisa!

Eu sentia que finalmente tinha chegado no fundo do poço. Apoio minhas costas na parede mais perto e bato a cabeça nela. Eu fecho os olhos, tentando segurar as lágrimas de frustração, que só pioraram as coisas.

Sabia que César me seguiria de qualquer forma, mas não estava com paciência de limpar meu rosto, respirar fundo ou qualquer uma dessas coisas. Consigo ouvi-lo andando em minha direção. Por um segundo, eu penso em como seria bom se eu pudesse ficar sozinha e me enfiar no banheiro...

Um estrondo vem da cozinha. Pelo som, parecia que alguém atirou na janela.

Foram segundos desesperadores. Vou correndo até a cozinha e vejo César desesperado, no começo do corredor. Ele fala algo para mim, mas é abafado pelo som de outro disparo. A janela estava quebrada e a porta arrombada. César corria até a cozinha e se abaixava na mesa, começando a pegar Paulo pelos braços. Ele estava desmaiado, com lágrimas no rosto.

Nisso, dois homens altos com roupas negras passam pela porta, carregando armas pesadas nas mãos. O pânico me toma por completa.

Vejo o homem atirando um dardo no pescoço de César, virando para mim e fazendo o mesmo. Todos os músculos do meu corpo se retesam quando a agulha acerta o meu pescoço, me fazendo bater as costas contra a parede. Agonizada, eu tiro o dardo imediatamente com a minha mão e começo a correr pelo corredor.

Não consegui dar dois passos. Minhas pernas falham, e eu sinto vontade de gritar. Em questão de segundos, o peso do meu corpo era demais para suportar.

Não cheguei sequer a sentir o impacto do chão.

Foi como receber anestesia geral, antes de uma cirurgia. Acordei alguns segundos depois de ter caído. Meus olhos pesavam para abrir, minha consciência vagava... Estava com a cabeça virada para cima, encarando um teto cinza a menos de meio metro de mim, o som do motor de um carro colado nos meus ouvidos. Minha nuca doía, e quando consegui retomar a consciência, percebi que estava dentro do porta-malas de um carro em movimento. Eu estava esmagada. O ar era quente, abafado.

Ao virar minha cabeça, levo um susto com o rosto de César, a meio metro de mim. Ele estava deitado em forma de concha, e tanto sua cauda como as duas pernas estavam por cima dos meus pés. Não precisei olhar por muito tempo para perceber que ele tinha piorado: Seu focinho havia se estendido e o formato do maxilar estava completamente diferente. Precisava procurar para achar resquícios de pele por baixo de toda aquela pelugem negra.

- César... - Minha voz sai rouca e minha garganta dói, tanto na parte onde recebi o tiro como por dentro, irritada. Dou um chacoalhão em seu ombro e ele solta um grunhido sonolento, animalesco. O carro passa por uma lombada, fazendo minha cabeça bater no teto e a dele no chão.

- Hmn... Paulo...? - Vejo-o juntando forças para acordar. Quando ele olha para mim, suas orelhas levantam.

- Samira! Você tá bem?

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