Capitulo 04 :O desabrochar da flor de cerejeira

6 0 1
                                    

O problema de fato começou quando eu percebi como o mercado de trabalho funciona. Se você não tiver nenhuma experiência registrada em carteira, o seu diploma talvez não sirva de tanta coisa. Ter experiência é um fator importante e imensurável na hora de desclassificar e abater pessoas nos processos seletivos, e foi nesse limbo paradoxal na qual eu acabei caindo, quando fui me aventurar nos portões fora da universidade.

Nesse meio tempo, afastei-me de Caetano, não por que queria, mas por que eu precisava de foco para me concentrar no meu futuro. Prestei concursos públicos com grandes concorrências para vagas ínfimas, participei de processos seletivos na qual consegui meu destaque, mas o pódio de segundo lugar era inevitável por conta da falta de experiência, e por ser ainda muito nova. Aos olhos dos recursos humanos, eu talvez não tivesse idade o suficiente para assumir cargos grandiosos, apesar do meu diploma e meu currículo dizerem o contrário. Era desesperador ter tanto potencial, e disposição para atuar na área formada, e ninguém lhe enxergar, ninguém notar sua existência. Só mais uma.

Não foram bons momentos, a tristeza e o desespero invadiam minha mente de forma constante. Sentir-se sem rumo num contexto social é sufocante, não fazer parte de nada é um abismo sem luz. Comecei a questionar minha própria existência, e o pavor eminente de não ser especial, importante, passar o resto da vida na mesma cidade, vendo as mesmas pessoas, sem perspectiva, sem viagens, sem emoções.

Esses pequenos fragmentos de baixa autoestima foram os ingredientes necessários para recorrer de forma alarmante para a única coisa que eu sabia que ainda tinha: Caetano.

Quando recorri de forma desesperada para ele, foi num momento muito particular, quando fui rejeitada de uma empresa na qual eu desejava muito atuar, seria um grande privilégio prestar serviços para esse lugar, porém mais uma vez a falta de experiência foi meu grande inimigo. Caetano estava lá para me receber de braços abertos, dizendo que tudo ia ficar bem, que as coisas iam ajeitar-se de alguma forma, por mais que lá no fundo nenhum de nós dois acreditemos de fato que aquilo pudesse acontecer. Como não havia arranjado nenhuma amizade nos anos de faculdade, ele era a única pessoa que estava ao meu lado naquele momento.

Ele e minha irmã Camile, claro. Se não fosse pelos dois, talvez o surto tivesse explodido dentro de mim mesma.

* * *

Certo dia, enquanto conversava com Caetano por rede social, entre caracteres de felicidade e conversas sobre a rotina, eis que ele lança a seguinte ideia:

— Estou no apartamento de minha tia.

— O que faz por ai?

— Eles foram viajar, estou aqui para cuidar do cão deles.

— Em pleno feriado, você ocupado— respondi.

— Gosto de ficar em casa, você me conhece.

E eu conhecia.

— Por que não vem para cá. Passar o dia. Podíamos ver algum filme.

Era inusitado, Caetano nunca tinha me chamado para ir a algum lugar da família dele, só os conhecia pelas histórias que ele contava.

— Bruna estará trabalhando nesses dias, e meus amigos furaram o encontro aqui. Eu só tenho você— ele continuou.

— Não fui nem sua segunda opção... Fui a terceira— alfinetei.

— Não é verdade, eu vivo te chamando para sair, e você cancela.

AmorizadeOnde histórias criam vida. Descubra agora