O relógio estava seguindo, de forma completamente desenfreada, e se não bastasse a rapidez dos fatos, algo apareceu para fazer com que tudo passasse a viajar em velocidade da luz.
Uma espaçonave veloz e implacável chamada: Caroline, ou Carol, para os íntimos.
Fazia um bom tempo que nossos caminhos não se cruzavam, e eu estava completamente neutra quanto a isso, afinal, não tive a sorte de trombar com pessoas na qual eu me identificasse na universidade, era normal não termos ficado grandes amigas após os estudos. Apesar disso, nosso encontro foi importante, por que Carol trazia consigo informações alarmantes sobre Caetano e Bruna. Após uma longa e exaustiva caminhada pelo centro da cidade, na contínua busca implacável pelo mundo do trabalho, um encontro com uma antiga colega universitária era tudo o que eu queria (porém não).
— Caramba, quanto tempo— ela disse, feliz, abraçando-me com intimidade. Retribui.
— Como estão as coisas?
— Ótimas, ingressei no mestrado e as coisas estão indo bem.
Fiquei feliz por ela, sabia que era algo que ela queria. Era bom ver que alguém conseguiu ingressar em algo importante após a faculdade, parecia não ser uma regra acessível para todos, e claro... Eu estava no meio dos desafortunados.
— E você? Como está? — ela me perguntou.
— Eu to bem, ainda na correria com emprego.
— Tá difícil, né?
Concordei com a cabeça, sem graça.
— Estou a caminho da casa da Bruna, acredita? — ela disse, radiante— Lembra dela? A namorada do Caetano...
Naquele momento, meus olhos se arregalaram.
— DA BRUNA? — gritei.
As pessoas em nossa volta pararam o que estavam fazendo para olhar o exemplo notório de escândalo em local público. Fiquei ruborizada de vergonha.
— Da Bruna? — disse novamente, dessa vez, bem baixo.
— Sim— ela respondeu— acabamos ficando muito amigas. Que mundo doido né? Lembro que você chegou a ficar amigo de Caetano também, então já deve estar sabendo.
—Sabendo do que?
— Oh, que a Bruna vai pedir a mão dele em casamento.
— ELA O QUE? — eu gritei de novo, mas dessa vez não me importei com os olhares alarmados.
— Isso mesmo, não é legal? Eles já estão juntos há tanto tempo, não sei nem o motivo desse assunto vir à tona somente agora. Mas sim, ela vai pedir a mão dele em casamento. Por que está fazendo essa cara de assustada?
Eu não podia imaginar como meu rosto estava, mas se fosse para usar como exemplo a queridíssima obra expressionista "O Grito", seria a perfeita exemplificação.
— Eu... Eu... — eu estava completamente fora de mim mesma naquele momento— eu...eu... só... estou... feliz.
Ela não pareceu tão convencida, mas relevou meu acesso de loucura.
— Tenho que ir, Alice, estou atrasada, Bruna está montando o cronograma. Adivinha onde vai ser o pedido de casamento?
Eu mantinha meu aspecto de completo pânico, falhando miseravelmente em disfarçar meu rosto entristecido.
— Na praça central, ao pôr do sol— ela continuou— nas plantações de ipês, está na época das flores desabrocharem e o ambiente está muito bonito. Romântico, né?
— Quando o pedido vai acontecer? — consegui formular uma frase compreensível.
— Em uma semana.
— UMA SEMANA? — gritei pela terceira vez, ninguém mais olhou para mim, deviam ter se acostumado com meus escândalos, e aquilo foi bem relaxante.
— Isso mesmo— ela disse, olhando no seu relógio o horário— poxa, Alice, me desculpe mesmo, mas eu preciso ir. Já estou atrasada. Ei, foi bom te ver. Espero te ver no casamento.
Ela me abraçou e seguiu seu rumo, ajudar Bruna com os preparativos para o grande pedido de casamento. Minha avó havia me dado um prazo para rumar para o outro lado do país, eu tinha tempo, mas agora... Com um pedido de casamento para Caetano na jogada, aparentemente eu tinha apenas uma semana para fazer com que ele notasse meu amor por ele.
Aquilo soava completamente ridículo, um roteiro mais empobrecido do que filme de comédia romântica de baixo orçamento, algo que provavelmente Caetano ressaltaria como escrúpulo até para ser passado em rede aberta de televisão, mas era verdade... Eu não tinha muitas opções. Aquilo me deixou tão triste.
Caetano ia se casar.
Eu amava Caetano.
Só tinha uma semana para falar meus sentimentos para ele, ou para fazer com que ele se apaixonasse por mim.
Entrei no primeiro bar que encontrei na rua e pedi uma boa dose de pinga. Eu sei que não faz nenhum sentido, mas foi a única coisa que veio em mente. Não era o tipo de coisa que eu faria, mas pra absorver a enxurrada de azar e desventura que minha vida estava rumando, nada como ingerir boas porções de birita pra esquecer os problemas.
Na segunda dose eu já estava praticamente em coma alcoólico, e aquele seria um dia bem longo.
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Amorizade
RomanceAlice nunca imaginou ser "A outra", mas Caetano era do tipo cativante, que despertou na garota sentimentos que jamais havia sentido, ela nunca pensou nas consequências. Nunca busca implacável para conquistar o coração do jovem intelectual comprometi...