Capitulo 05 : Criaturas singulares

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Os dias que se seguiram foram marcados pelo meu êxtase. Todas as vezes que duvidava de que tudo aquilo tinha acontecido, olhava para minhas mãos. O anel que encontrei largado no apartamento coubera perfeitamente no meu dedo, como se tivesse sido feito para mim. Aquela era a prova imutável de que tudo havia de fato acontecido, e eu estava completamente radiante por ter tido aquela grande oportunidade.

Tudo parecia mais intenso, a grama era mais verde, os pássaros entoavam seu coro com mais vontade. Era como se nada no mundo pudesse me abalar. Esse êxtase pós-encontro foi uma sequela significativa, como o resultado de uma droga poderosa agindo no sangue.

Meus pais notaram a diferença, assim como Camile:

— Ninguém fica feliz assim sem motivo— minha irmã falava, num dia qualquer, enquanto assistíamos à uma animação antiga— o que aconteceu com você?

— Oh... Nada. Só estou tentando lidar com as coisas com um pouco mais de entusiasmo, que mal há nisso?

Mas eu não sabia mentir para ninguém.

Apesar disso, ninguém soube do ocorrido, e era daquela forma que queríamos que ficasse. Conversei com Caetano por rede social nesses dias sequenciais, ele parecia bem, não tocávamos tanto no assunto, e eu queria que ele vivesse tudo no seu tempo. Quando fosse necessário conversarmos sobre tudo isso, assim o faria.

Lá no fundo era evidente que Caetano não gostava de mim da mesma forma, afinal, eu estava nas nuvens, feliz pelos acontecimentos, mas ele parecia cabisbaixo, pensativo. E eu já poderia imaginar o motivo: Bruna.

Não tornamos a nos ver por muitas semanas, nesse meio tempo era quase impossível ignorar o fato de que eu estava o amando. Era isso, eu estava, era verdade. Não sabia como, mas sabia que era. Eu o conhecia há anos, e agora, mais do que o suficiente, qualidades e defeitos a ponto de entender que sim, ele me faz bem e eu o amava.

Mas... Ele não deve sentir o mesmo, ou sente?

Acabei contando tudo para Camile, sem rodeios ou enrolações, precisava desabafar aquele peso para alguém, e ela já desconfiava que algo estava acontecendo.

— Vá e fale para ele— Camile disse. Ela sabia decifrar minha vida inteira só olhando para meus olhos.

— Não é tão fácil como parece. Ele namora.

— Então você foi a amante. A outra.

— CLARO QUE NÃO— Respondi, com raiva.

Mas não era mentira. Eu havia sido a amante naquele rolo todo, a outra, a pessoa que ninguém sabe que existe nos bastidores da coisa.

— Não me orgulho do que fiz— eu respondi— mas...

— Eu já sei... Mas você não queria perder a oportunidade de saber como é a sensação de reciprocidade. De se sentir parte de alguma coisa, depois de tanto tempo tentando se encaixar em tudo nessa vida, falhando miseravelmente.

Eu estava boquiaberta.

— Como... Como sabe de tudo isso.

— É só observar sua vida... Você acaba sendo óbvia às vezes.

Camile devia fazer psicologia, eu vivia falando isso para ela. A amava mais do que tudo nesse mundo, mas às vezes ela me assustava com aquele ar de indiferença, com leves doses de inteligência, ironia e zero sentimentalismo. Sempre tenho grandes coisas para aprender com ela.

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