Capitulo 13 : O amadurecimento do fruto e o voo do pássaro

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O gramado era verde e tinha sido podado e bem cuidado para receber os convidados. Entre as fileiras de cadeiras ornamentadas, pétalas coloridas de ipês formavam um caminho reto até o altar. Ao fundo uma orquestra bem pequena entoava cânticos de tempos passados e as pessoas, pouco a pouco, aproximavam-se e ajeitavam-se da forma como conseguiam.

Vestiam roupas de gala, esbanjavam perfumes caros pelo caminho, os rapazes, sobressaiam de forma soberana em seus trajes a rigor, com cores escuras e fortemente difundidas, as damas, esvoaçavam seus vestidos de tecido leve, com cores vibrantes. Tudo era muito tradicional, mas ao mesmo tempo mantinha seu toque de originalidade.

Havia vasos de flores por todos os lados, as pessoas conversavam de modo educado, solenes. Não era um lugar feito para receber muitas pessoas, por que eles sabiam quem eram as verdadeiras amizades a compartilhar daquele momento tão especial.

Quando todos se sentaram, a pequena orquestra entoou um cântico que Alice e Caetano reconheceriam em suas andanças pelas orquestras sinfônicas da cidade, era suave e melodiosa, aquele parecia até um momento mágico, como voltar ao passado ou reviver uma grande lembrança.

Lá atrás, na entrada do lugar, Bruna entrava, com seu vestido sutil, da cor azul clara, não apreciavam rituais religiosos e não acreditavam nas tradições das mesmas, mas acreditavam numa boa cerimônia, feita da forma como achavam conveniente. Ela estava deslumbrante, pouca coisa podia ser feita sem esforço para que ela parecesse bonita. Seus amigos, intelectuais e familiares levantaram-se e olharam para ela, entrando de forma lenta, sorrindo, até seu grande amado.

Caetano a esperava com os olhos brilhantes no fim do corredor, a típica cena de filme que Alice optou por não ver quando recebeu o convite de seu casamento. Era hora de ter um tempo só para si, e que ele fosse feliz com Bruna, no amor romântico que cultivaram.

Mantiveram a amizade, apesar de ser obvio que nada ia ser do mesmo jeito. Nada é como antes, quando você conta para seu amigo que sempre o amou de forma romântica. As feridas do coração de Alice curavam-se pouco a pouco.

Bruna caminhou como se estivesse flutuando. Foi recebida nos braços de Caetano de forma romântica e acolhedora, fizeram seus votos, assinaram os papéis e beijaram-se de forma intensa. Houve aplausos e vivas, todos estavam felizes com a cerimônia simples, mas coberta de amor. O casal, após a grande festa, pegou o carro e foi rumo ao horizonte, desfrutar o início de um grande capítulo em suas vidas. Na saída do lugar, fogos de artifício estouraram, coloridos e momentâneos, ideia de um dos amigos de Caetano. Aquela cena ficaria eternizada no coração dele e dela para sempre. Sumiram no horizonte, prontos para o começo de suas novas aventuras.

* * *

Alice esteve ao lado de sua irmã, Camile, por todo o momento. Elas ficaram muito mais próximas do que já eram. Faziam programações, e planejavam a rotina juntas. Era o primeiro ano na universidade de Camile, e Alice estava feliz por acompanhar aquele progresso.

— Acho que só uma coisa me deixa tão triste, além de toda essa confusão com Caetano— Alice disse para a irmã— ter que deixar você aqui, para ir para o outro lado do país. Longe de tudo e todos.

— Bobagem, eu visitarei você. Não iremos nos ver todos os dias, mas sou sua irmã... Teremos laço sentimental para sempre, quer você queira ou não.

Alice sorriu. Sabia que aquilo seria importante para seu amadurecimento pessoal.

Ajeitou suas malas. Elas eram grandiosas e a garota esperava que tudo desse certo.

— Já chamou o transporte até o aeroporto? — Camile perguntou, apreensiva, não querendo demonstrar o quão entristecida estava com a partida da sua irmã. Ficaria feliz com o crescimento dela.

— Ele chega aqui em alguns minutos.

Os pais de Alice ajudaram a garota a levar seus pertences até o lado de fora da casa. No tempo em que Alice esteve com eles, pouco após o fim das balburdias com Caetano, a garota pôde perceber como tudo estava sendo complicado para sua família. A mãe tinha um emprego simples como vendedora, o pai também trabalhava com transporte de aplicativo e Camile, era estudante. Alice era a única com diploma e sem emprego, e aquilo estava pesando nas economias da família, eles passavam por apertos significativos, que seriam sanados se a garota conseguisse atuar na área em que se formou.

Aquela sua realidade era anos luz distante da realidade de Caetano, e Alice estava tão imersa em seus devaneios apaixonados, que reparou pouco naqueles contrastes entre eles. Ir ajudar sua avó com a empresa seria primordial, poderia ajudar sua família, mesmo de longe, e finalmente teria seu dinheiro para começar a planejar seus sonhos grandiosos que sempre quis realizar, a vida estava de fato seguindo, sem esperar por ninguém.

Quando o carro apareceu foi uma choradeira só, Alice era sentimental com a família, e seria a primeira vez que passaria tanto tempo longe, chorou enquanto era acalentada pelos abraços de seus pais. Eles estavam tristes e felizes com a partida, ver o pássaro voar longe do ninho e sempre doloroso, por mais que saibamos que os pássaros foram feitos para voar.

Quando chegou a vez de abraçar Camile, foi ela quem surpreendeu a garota e eu a iniciativa do abraço.

— Eu vou sentir tanto a sua falta— ela disse.

— Eu também, nos veremos logo— Alice tentou soar otimista— apesar do final dessa história ter sido tão triste.

— Que triste o que, minha filha, você não ganhou um amor romântico, mas ganhou um emprego. Isso é o melhor final que poderia acontecer.

Dei uma grande gargalhada pelo tom de sensatez e verdade.

Quando a porta do carro se fechou e ele seguiu seu rumo até o aeroporto, Alice olhou para trás, e se viu diante das pessoas que mais amava naquele mundo, seus pais, de mãos dadas, acenando com a mão livre, sorrindo, felizes e chorosos. E Camile logo ao lado, observando o carro partir sem poder fazer nada. Pouco a pouco, eles sumiram no horizonte, assim como Caetano havia sumido. Naquele momento, passou a refletir sobre todos os acontecimentos em sua vida.

Em como ela ficou tola e fez coisas ridículas estando apaixonada, como aquele sentimento era perigoso e deixava as pessoas irreconhecíveis. Pensou nos momentos que passou com Caetano, foram tantos... Ela guardaria em seu coração aquelas lembranças para sempre.

Tudo era finito, e virava lembrança, fotografia ou saudade, e no caso dela, acabou virando todas essas coisas.

Estava feliz, seria uma guinada radical em sua vida, e como Caetano disse, repleta de possibilidades, tendo a chance de conhecer lugares novos, comidas novas, experiências novas e pessoas novas. Tudo estava rumando ao seu favor.

Afinal, Alice tinha vinte e poucos anos, e sua vidinha estava apenas começando.

Fim (e começo).

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