Capitulo 10 : No paralelo das possibilidades

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Numa realidade alternativa, no mundo ideal das possibilidades, entre as infinitas camadas de possíveis futuros... Alice e Caetano ficariam juntos.

Alice seria segura de si e Caetano não cairia nas graças do amor com Bruna, ocasionalmente eles acabariam esbarrando-se um no outro, entre devaneios corriqueiros da rotina, entre uma saída apressada do trabalho, quem sabe?

De inicio seriam colegas, pessoas que se encontravam vez ou outra, quando fosse conveniente, e essa conveniência logo transformaria-se em amizade.

Alice e Caetano aproveitariam suas juventudes, descobrindo os sabores e as dores que suas idades carregam o paradoxo do futuro, os desafios da vida acadêmica, as intolerâncias de familiares, as crises existenciais sobre o sentido da vida ou medo da morte. Alice talvez tivesse mais experienciais amorosas... Talvez amasse mais a si mesma o suficiente para não viver de migalhas afetivas, ou imaginando como sua vida seria se fosse possível experimentar todas as sensações que nunca foram sentidas.

Caetano não sofreria tanta pressão interna para os estudos, saberia dosar os conteúdos de forma eficiente, também teria tido seus enroscos amorosos. Teria um amor não correspondido e sofreria todas essas dores cairiam nas graças dos flertes mais vezes, teria ido a mais encontros amorosos e decepcionado seu coração intelectual.

Caetano até seria mais empático, observaria os contrastes das pessoas ao seu redor e entenderia que cada coisa leva seu tempo, saberia respeitar esse espaço e não teria tanto receio de compartilhar seus devaneios particulares com pessoas que ele gosta.

Alice veria em Caetano muitas qualidades e defeitos... Amaria todos eles.

Caetano veria em Alice todos os defeitos e qualidades... Amaria mesmo assim.

Eles não iam ter um relacionamento perfeito, por que nada de fato é, enfrentariam os desafios de lidar com a existência um do outro, confiariam de forma recíproca para fortalecer seus laços sentimentais. Viajariam...

Planejariam grandes viagens para lugares pitorescos do país, seria um dos momentos mais marcantes tanto para Alice quanto para Caetano. Alice conheceria sua família, talvez fosse bem recebida, talvez houvesse olhares tortos. Caetano conheceria a família de Alice, a mãe dela se sentiria orgulhosa por ela estar com uma pessoa tão amável e gentil. Camile seria desconfiada no começo, imaginando que a pessoa ideal para sua irmã devesse ser um ser humano perfeito, mas Camile entenderia que cada um recebe o amor que acha merecer ter, e veria que Caetano era incrível demais para se encontrar em qualquer lugar.

Planejariam morar juntos, apesar da rotina complexa que levavam.

Alice seria um ombro amigo para que Caetano pudesse chorar quando as correrias da vida lhe jogassem as pedras imprevisíveis, Caetano manteria esse mesmo tom de reciprocidade.

Discutiriam, por coisas bobas, por coisas sérias. Conversariam... MUITO. O diálogo seria tão presente nesse relacionamento quanto o próprio oxigênio, ele seria a ferramenta mais fortalecedora de todas.

Alice, vez ou outra, olharia para Caetano, enquanto ele comentava alguma coisa sobre as leis do direito autoral e perceberia a sorte de ter uma pessoa incrível ao seu lado... Não ia conseguir imaginar uma realidade na qual eles não ficassem juntos.

Caetano aprenderia com Alice, mais do que Alice com Caetano. Ela mostraria para ele, de forma indireta, os benefícios de sempre respeitar os contrastes sociais, sobre como tudo é assim mesmo, sem sentido.

Caetano levaria Alice para provar comidas que ela nunca provou na vida, contaria as histórias dos lugares como se ele de fato já estivesse ali, no passado. A chamaria para ver filmes aclamados pela crítica e questionaria a garota sobre o entender da película, faria sugestões de livros e podcasts para que ela também fizesse parte de seu mundo intelectual.

Alice faria desenhos para Caetano. De seus encontros, de coisas que ele admirava, dos dois num encontro que tiveram. Escreveria para ele, cartas, sonetos, livros, contando a história de suas vidas. Esbanjaria sua criatividade artística para demonstrar através da arte, todo o amor que sentia por ele, e toda a gratidão que esse amor carregava.

Dormiriam juntos, abraçados ou não, visitariam a melhor orquestra sinfônica do país, Alice ensinaria Caetano a cozinhar e Caetano ensinaria Alice e fazer cálculos. Ela mostraria as possibilidades do mundo virtual, os games... Ele explicaria sobre linguagem cibernética, e falaria sobre a equação da gravidade.

Alice falaria sobre autores brasileiros, Caetano sobre a lei de Murphy, ela aproveitaria os momentos de solitude, e ele também. Ela entenderia com o tempo que ele é um ser humano independente, e o respeitaria por isso. Caetano também.

Alice postaria fotos nas redes, para eternizar os momentos nas plataformas digitais, Caetano prezaria pelas memórias, sem se preocupar com eternizar alguma coisa, por que sabia lidar com o finito melhor que Alice.

Alice faria Caetano assistir animações e ler seus gibis favoritos, Caetano a levaria para a feira de ciências e pediria para ela comparecer em sua apresentação de TCC.

Conversariam, sobre todas as coisas do mundo, Alice aprenderia com Caetano. Caetano acompanharia o amadurecimento dela e se sentiria orgulhoso por contribuir. Caetano reconheceria os esforços de Alice para ser cada dia mais madura, e ela ficaria iluminada com essas conquistas alcançadas.

Aprenderiam juntos mais do que poderiam aprender separados, discutiriam sobre os erros cometidos, chorariam pelas decepções que sofreriam, conversariam para reviver o forte laço que cultivaram, dariam um tempo, voltariam. Observariam as estrelas e falariam sobre o lado oculto da lua, sobre buracos negros, sobre programações bobas, comédias românticas, ficção científica, paradoxais, surreais, continentais.

Seriam tantas possibilidades, tantas camadas de realidades alternativas, que poderiam render um milhão de páginas ou nenhuma. Tudo fazia parte do acaso, da sorte, das escolhas. Apesar disso, é interessante imaginar como as coisas poderiam ser, caso tivessem a chance de ser diferentes.

Caetano e Alice olhariam o por do sol e aproveitariam aquele maravilhoso agora. Nada era eterno, uma condição presente em qualquer realidade. Dariam as mãos e contemplariam as experiências. Teriam beijos calorosos e sexo na mesma intensidade, conheceriam seus corpos como jamais puderam conhecer antes. Respeitariam suas individualidades.

— Como será que seria nossas vidas se não tivéssemos nos conhecido? — Alice perguntou, enquanto abraçava Caetano na chácara da família do garoto, num dia caloroso de feriado.

— Não gosto de pensar nisso— ele respondeu— estamos juntos, é isso que importa.

— Me sinto sortuda por ter a chance de ter todas essas experienciais.

— Eu também... É tudo um grande aprendizado.

— Acho que ganhamos na loteria da vida, não são todos que tem a chance de viver tudo isso.

— Cada vida tem suas dores e suas emoções— ele respondeu— jamais saberemos o que se perde se nunca chegamos a ter.

— O que os olhos não vê, o coração não sente.

— O que não se vive, a dor não lhe atinge.

Eles riram. Eram bons com frases de ensinamento filosófico. Observaram o sol se pôr enquanto refletiam sobre si mesmos, e tudo estava do jeito que deveria estar.

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