Não vou dizer que foram seis dias fáceis, tampouco que tudo foram mil maravilhas, sair com uma pessoa que você gosta e admira, com a pressão de fazer ela te notar de forma romântica é desgastante, mas havia momentos em que eu me esquecia disso, e só estava lá para apreciar a companhia de Caetano. Conseguimos nos ver todos os dias sucessivamente, das mais variadas formas, passeios pelo campus da universidade, encontro cultural na livraria do centro da cidade, caminhadas pelos bairros adjacentes do condomínio onde ele morava.
Eu queria mais do que tudo fazer parte daquele mundo, do mundo de Caetano, com seus diálogos imprevisíveis sobre economia global mescladas com premiações cinematográficas, queria fazer parte de suas conquistas, quando ele me falava sobre os prestígios que ganhava na universidade, todas as vezes que se esforçava para alcançar um objetivo, queria acompanhar seu crescimento e aplaudir quando ele alcançasse o topo desejado, e mais do que tudo, queria estar ao seu lado, prestando apoio e esbanjando todo o amor que eu estava disposta a dar.
Era triste conhecer tanto dele, e não fazer parte da forma como gostaria. Eu queria poder beijá-lo como nos beijamos no apartamento, gostaria de ficar abraçados em nossa realidade utópica até pegarmos no sono, queria conhecer sua família e que eles soubessem o quanto eu o admirava pelo que ele era, e queria, mais do que tudo, que ele visse coisas incríveis em mim, assim como via nele.
Eu não me esforcei para me aproximar de forma íntima dele, não roubei um beijo como teria feito na realidade do apartamento, queria que ele tomasse alguma ação, algo que indicasse que ele estava de fato começando a ter sentimentos por mim, mas quanto mais o tempo passava, encontro após encontro, nenhum resquício de evidencia aparecia e isso me deixava cada vez mais desesperada.
Eu devia contar para ele, gritar bem alto aos quatro cantos do planeta que eu o amava, para que ele me escolhesse, não era isso que Camile disse para fazer? Mas por que eu não conseguia? Será que o medo de perder, além do amor, a sua amizade, era demais para mim?
Contudo, guardei esses dias em meu coração, eles foram simples e mágicos, conversamos sobre tantas coisas, ele me conheceu melhor e eu o conheci melhor, e tudo fluiu de forma natural, sem esforço. O único esforço, no entanto, era minha aparência, com penteados diferentes em cada reunião que fazíamos diariamente, e minhas vestimentas, com roupas justas e mirabolantes, sempre tentando parecer culta, sempre tentando parecer ser o perfil de pessoa que eu achava que fazia parte de seus desejos.
Tudo em vão.
Quando o ultimo dia chegou, neutra e sem devaneios, eu estava completamente esgotada, triste. Olhava para Caetano e podia sentir que estava perdendo aquele momento, que o tempo não ia parar e que tudo isso iria acabar, da forma como todas as coisas findam. Ele não percebeu minha tristeza, e, se tivesse percebido, não teria falado nada. Manteve-se amoroso, gentil, com conversas versáteis e gentis. Amar Caetano era uma consequência que eu adorava sofrer.
Quando me despedi dele, um dia antes do pedido de casamento, o abracei de forma fraternal. Queria congelar aquele momento para sempre, queria que não virasse uma lembrança perdida no tempo.
— Está tudo bem? — ele me perguntou, enquanto continuávamos a nos abraçar.
— Sim, por quê?
— Esse abraço está me sufocando— ele respondeu.
Afastei-me dele, desculpando-me a intensidade.
— Você pareceu tão estranha nessa semana, querendo se encontrar comigo todos os dias, usando essas roupas diferentes e esse cabelo. O que você fez na sua franja?
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Amorizade
RomanceAlice nunca imaginou ser "A outra", mas Caetano era do tipo cativante, que despertou na garota sentimentos que jamais havia sentido, ela nunca pensou nas consequências. Nunca busca implacável para conquistar o coração do jovem intelectual comprometi...