Capitulo 12 : Amorizade

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Parecia o fim do mundo. Não conseguia buscar em mim a vontade de continuar existindo. Eu sabia que iria sobreviver, e aquele drama sentimental talvez fosse momentâneo, mas eu estava gostando de experimentá-lo, por que, apesar de ser doloroso, era a coisa mais emocionante que acontecia comigo em anos. Na playlist musical do meu celular tocou de forma exaustiva e preocupante Never Let Me Go, da Rachel Portman. A melodia melancólica e dramática causava-me deliciosos contentamentos, apesar de falar sobre amor. Estar apaixonado, imerso num amor romântico recíproco e apreciar aquela música deviam ser um êxtase sem precedentes, sendo possível o alcance imediato do nirvana. Apesar disso ela também era um alívio sentimental para corações partidos, e aquela descoberta fez meu coração se contentar em aproveitar aquele deleite sonoro. Era engraçado como uma única música podia ser ideal para ambas as situações, corações apaixonados ou fragmentados.

Mas uma raiva invadiu meu ser, senti o âmago da injustiça pairando por cada pedacinho do meu corpo entristecido. A tristeza estava começando a se transformar em raiva e eu sabia o motivo. Foram dias sombrios, e somente Camile pôde me banhar com a luz da sensatez.

— Vou contar tudo para Bruna— eu falei— e ela vai saber de toda a verdade, e não vai se casar com ele.

— Por que está pensando em fazer isso? — Camile perguntou, parecia curiosa, mas calma.

— Por que ela precisa saber, que ele é um cafajeste, que ele mente, que ele não tem empatia. Será que ela não sabe de todas essas coisas que Caetano é? Depois de tanto tempo num relacionamento?

Então minha irmã sentou-se ao meu lado na cama. Transparecia agora certa preocupação pelas minhas duras palavras, mas parecia saber o que me responder.

— Sei como se sente. Você se sente injustiçada. Não é justo só você estar sofrendo com tudo isso no fim das contas (e de fato não é). Por isso você quer contar, por que você quer que todos fiquem tristes como você, para que a dor seja suportável, ou para fazer com que se sinta melhor.

— É EXATAMENTE ISSO. Não é justo só estar aqui completamente quebrantada.

— Entretanto— ela continuou— lá no fundo, nós duas sabemos que você não vai querer fazer isso?

— É? Por quê?

— Bruna merece saber, concordo, Caetano merece essa decepção, concordo. PORÉM... Você não vai se igualar a ele, é uma pessoa tão incrível, com o coração tão superior ao dele, que sabe que fazer se contar para Bruna, não vai te fazer melhor, e talvez faça Bruna nunca mais ser ela mesma de novo.

Estava de cabeça baixa agora, odiava quando Camile tinha coerência em seus argumentos.

— Todos cometemos erros, Alice— ela continuou— e cada um é responsável por carregar as dores da mesma. Você está carregando a sua, deixe que ele carregue a dele, não importa mais agora, por que tudo vai ficar bem.

* * *

Recebi uma resposta de Caetano no dia seguinte, ele pediu desculpas pela demora e que o dia dele tinha sido previamente planejado pelos seus amigos, não tinha ido às aulas e passou boa parte do tempo em lugares planejado pelos colegas, afim de não levantar suspeitas sobre o pedido de casamento de Bruna. Mostrou-me a aliança reluzente e disse que estava muito feliz, e que queria que eu estivesse lá para prestigiar aquele grande momento.

— Podemos nos ver hoje? É muito importante— eu disse, por mensagem.

— Vou repor o dia perdido e ontem com algumas matérias, podemos sair depois das 16h. Tudo bem?

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