Capitulo 06 :Uma solene oportunidade

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Passei horas em frente ao espelho nos dias seguintes. Qualquer pessoa sã pensaria que eu estava num estado crítico de loucura, mas Camile sabia que tudo aquilo era parte do ensaio. Dizer para alguém que você o ama é um nível de coragem além do comum. Expor-se dessa forma é algo delicado e muito íntimo, além de toda a pressão que a situação carrega, caso tudo dê errado.

Camile segurava-se para não rir todas as vezes que me via gesticulando com a cabeça. Senti vergonha de estar fazendo aquele tipo de coisa, mas ao mesmo tempo tentei saborear o momento. Em toda a minha vida, eu jamais havia gostado de alguém de verdade, talvez fosse uma etapa completamente natural, que toda pessoa em algum momento na vida acaba passando. Pelo menos era daquela forma que eu pensava.

—Coragem, Alice— Camile continuava insistindo— tenha coragem.

— Não é tu que está na minha pele— eu respondia, furiosa.

— E essa é a melhor parte— ela respondia, irônica.

Encontrei-me com Caetano alguns dias depois, nossas conversas eram escassas e insossas, e eu precisava apimentar aquele convívio, antes que caísse no olho do esquecimento. Marquei de almoçarmos num restaurante baratinho próximo ao bairro da minha casa.

Ele estava bonito, apesar do olhar sério, era como se ele ainda estivesse absorvendo tudo o que estava acontecendo. Talvez aquele não fosse o lugar mais romântico do mundo para se falar sobre meus verdadeiros sentimentos, mas precisava ser logo, antes que eu tivesse um infarto fulminante e ele nunca soubesse o que eu de fato queria lhe falar.

— Ora... Diga— ele disse, quando eu propus o assunto.

Os pratos estavam suculentos e quentes, prontos para serem devorados por nós dois. Eu olhava para o meu prato de comida, e depois para Caetano, fiquei nesse ciclo por alguns segundos, até que ele decidiu me falar:

— Quer falar sobre... Nossos dias no apartamento, é isso?

Não era exatamente aquilo que eu queria falar.

— Oh não... Eu não quero falar sobre isso agora.

— Talvez devêssemos. Diálogos são importantes, você sabe disso.

Em seu olhar, eu sentia que ele queria falar. Mas talvez eu não estivesse preparada para ouvir o que ele precisava me dizer, então decidi não ceder.

— Eu ainda estou absorvendo. Podemos conversar em outro momento?

Parecia que ele havia entrado num veredicto sobre o dito cujo, assim como eu, o grande problema era se nosso parecer seria semelhante, ou completamente distinto. Desanimei naquele momento, eu não poderia esboçar meus sentimentos por aquele homem naquele momento, não poderia, eu realmente não estava preparada para ouvir a verdade. Se é que era mesmo tudo aquilo que eu pensava.

— Tudo bem— ele respondeu— eu lhe respeito. E sempre respeitarei. Quando se sentir confortável, vou adorar ter essa conversa com você. Continuaremos amigos?

É... Talvez nossas ideias estejam distantes uma da outra, eu já estava preparada para dizer que o amo, e ele estava preparado para falar sobre os dias no apartamento, definitivamente nossas ideias não iam se cruzar. Caetano não estava apaixonado por mim, ainda amava Bruna, mas... Por que tudo aquilo havia acontecido no apartamento? Eu pude sentir verdade em todas aquelas situações, mas não sabia explicar.

Eu acenei com a cabeça. Claro que ainda seremos amigos.

— O que você queria me falar antes disso?— ele lembrou, enquanto colocava um bom pedaço de carne na boca.

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