A música alta vinda das caixas de som fazia com que as pessoas aumentassem o tom de voz para conversar uma com as outras, eu não me importava com aquilo, tudo parecia distante demais para mim do local aonde eu estava.
- Não deveria estar com eles? É sua festa de aniversário. – A voz de Ethan se tornou nítida ao meu lado. O garoto ruivo que eu considerava como um irmão mais novo, parou ao meu lado.
- Gosto de observá-los, o que faz aqui?
- Hora de cantarmos o "parabéns para você".
- Eu passo esse momento, muito obrigado.
Ajeitei-me sobre o banco de madeira no qual eu estava dando espeço para que o rapaz se sentasse ao meu lado. Nos mantemos em silencio, observando todos a nossa volta. Minha família inteira se encontrava ali e alguns amigos também, ainda assim, eu preferia apenas observá-los. Minha avó Ruth Prescott conversava com minha antiga babá Emily Ortiz, o modo como as mãos da mais velha se mexiam rapidamente no ar e sua feição estava seria, mostrava o quanto estava brava com algum assunto. Meus avôs estavam reunidos em um canto junto a meu pai adotivo – Logan Stewart -, não tinha ideia de qual era o assunto da conversa do quarteto, mas pouco me interessava também. Meu grupo de amigos estava sentado um pouco mais afastado dos meus familiares, mantinham uma conversa animada, hora ou outra alguém ria abertamente sobre o assunto.
- Minha mãe voltou?
- Acredito que sim Ali, o carro ao menos está aqui.
Levantei-me rapidamente do banco, deixando Ethan para traz sem dizer uma palavra. Ignorei todos a minha volta, adentrando a grande construção. Estávamos na casa de campo Stewart, um dos primeiros imóveis da família de meu pai, e que ainda se mantinha intacto. Não morávamos ali, minha mãe se recusava a morar em uma casa tão grande quanto aquela, no entanto, sempre nos reuníamos aqui com o resto de nossa família, era um ótimo espaço para todos.
Caminhei pelo longo corredor até encontrar uma das portas entreabertas, não fiz muita cerimonia, apenas adentrei o local. Amber Prescott estava sentada sobre a cama, uma caixa em mãos e seus olhos banhados a lagrimas, me perguntei o que havia acontecido para que estivesse tão triste, poucas coisas abalavam seu bom humor.
- Mãe?
Rapidamente a mais velha passou as mãos em seu rosto, limpando o requisito de lagrimas que havia ali. Seus olhos estavam sem o brilho de sempre, o que me abalou, a última vez que havia visto daquela maneira foi em meu aniversário de sete anos, quando Amber me contou sobre meus pais e como havia ganhado minha guarda. Meu pai – Dylan Elliot – morreu anos antes com câncer, no entanto, ele havia deixado – na primeira explicação que me deu, Amber me disse cartinha para a cegonha – seu próprio sêmen guardado, para que se caso viesse a óbito, minha mãe teria uma chance de mantê-lo junto a ela, algo que Loren Scott fez sem excitar. Loren – minha mãe – teve uma gestação de risco, o que me resultou mais uma perda. Não falávamos muito sobre a morte de meus pais, apenas algumas histórias de quando eram adolescente e logo desconversavam. Amber nunca me escondeu a verdade, sempre me mostrou fotos de ambos e respondeu todas minhas perguntas, ela era uma mãe fantástica.
- Oi pequena.
- Está tudo bem?
- Sim. – Suspirou, sua mão se estendeu para mim. – Sente-se aqui comigo.
Ao me juntar a ela, pude observar a caixa em sua mão. Cartas, havia cartas dentro delas. Tentei identificar a letra, mas não se parecia com nada que eu já tivesse visto.
- Sua mãe deixou cartas para você... Eu não sabia como entregá-las a você, não recebi instruções do tipo "entregue-a quando fizer dez anos" ou coisa do tipo, espero de verdade que não seja um péssimo presente.
- É um ótimo momento e presente.
- Feliz aniversário minha pequena.
Senti o beijo estralado que a mulher deu em minha testa, a caixa estava agora em minhas mãos. Aquele pequeno objeto, continha meu único contato direto com minha mãe biológica e eu não sabia se estava pronta para ler o conteúdo.
- Achei vocês. – A voz de Logan tomou o ambiente, seu sorriso logo se desfez ao ver o estado de minha mãe. – Está tudo bem coração?
- Sim, eu estou ótima.
- Tem certeza?
- Tenho, agora vamos, estou louca para provar aquele bolo.
Amber nos puxou para fora do cômodo, levando-nos para o jardim da casa novamente. Todos já se encontravam reunidos na mesa decorada, o bolo estava sobre ela com as velas vermelhas de números: Um e Seis. Enquanto cantavam a clássica música de parabéns, observei-os. Meus avos: Donald e Ruth Prescott, Calvin e Corália Elliot, Karl e Elisa Scott, sorriam sem parar durante toda a canção, seus cabelos brancos brilhavam com a luz do pôr-do-sol. Meus tios se mantinham junto a meus pais, os olhos brilhando como em todos meus aniversários, aquele era claramente meu momento favorito do ano. Ethan estava junto com meus amigos, todos com um belo sorriso no rosto. Por mais que odiasse festas, principalmente as direcionadas a mim, eu amava o brilho no olhar de todos eles, principalmente os de meus pais.
Ao final da canção, assoprei as velas, desejando mais um ano bom. Uma das coisas que eu não poderia negar era meu otimismo, claro que Amber e Logan tiveram um enorme trabalho para que eu fosse assim hoje em dia, porém havia valido a pena, é o que eles dizem a mim.
Alguns minutos após o parabéns, as pessoas começaram a ir embora. Eu estava nervosa por voltar para casa, não sabia se estava pronta para ler o que minha mãe havia deixado, e se toda a imagem que eu havia criado sobre ela fossem erradas? E se as cartas me mostrassem uma Loren totalmente diferente do que imaginei? E se...
- No que está pensando? – Ethan me trouxe para a realidade.
- Nada. – Menti rapidamente, não queria lhe contar sobre as cartas ainda.
- Você não sabe mentir, mas respeitarei sua decisão. – Sorriu, entregando-me um pequeno embrulho. – Pensei em lhe entregar quando chegássemos em casa, porém mudei de ideia.
- Não precisava Ethan, mas obrigada.
Abri rapidamente o embrulho pequeno, revelando dois colares. O primeiro, era prata com um pingente de avião no meio, já o segundo, era dourado com uma bola de basquete pequena. Sorri para o ruivo, que retribuiu de imediato.
- Não consegui me decidir.
- Eu amei.
- Eu sei que sim.
Entreguei-o o de prata, virando-me para que ele pudesse prender em meu pescoço. Não precisei olhar no espelho para saber que havia ficado bom, Ethan tinha bom gosto em tudo, e sempre acertava em meus presentes.
- Minha mãe... Me deixou cartas.
- Loren?
- Sim.
- Isso é incrível Ali, já leu?
- Ainda não, Amber me entregou a algumas horas.
Ethan avaliou meu rosto, abriu um sorriso amigável antes de levar sua mão a minha bochecha em uma leve caricia. Me sentia muito mais nova do que ele na maioria das vezes, mesmo que eu fosse quase um ano mais velha, Ethan parecia muito mais maduro que eu.
- Está com medo de se decepcionar.
- Você nunca erra?
Ele riu, me abraçando de lado e passamos a caminhar juntos para o carro, aonde meus pais já nos esperavam.
- Estarei aqui para te ajudar, sabe disso, não sabe?
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Cartas para Alice
RomanceAlice Eliott não conheceu seus pais, no entanto, nunca se abalou por conta disso, afinal, tinha pais maravilhosos que lhe davam tudo, desde de amor à bens materiais. Sua mãe adotiva nunca lhe escondeu nada sobre a biológica, exceto uma caixa de cart...