Capítulo 12

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Noah Urrea

Um mês depois...

— Noah você está pronto? - ela me me pergunta.

— Não, eu só quero que isso acabe logo.

— Vai dar tudo certo, eu prometo.

Hoje eu vou passar pela cirurgia de remoção dos pinos. Já se passou um mês que Any está cuidando de mim. Ela é uma ótima profissional e se dedica cem por cento a minha recuperação.

As coisas entre nós estão bem tensas. Gabrielly tem personalidade forte e não abaixa a cabeça pra nada, assim como eu. Discutimos o tempo todo, além da tensão sexual.

Fico olhando pela janela pensando em como minha vida mudou. Eu tinha objetivos, sonhos... mas a vida foi injusta comigo, tirando tudo que eu tinha. Essa cirurgia é só mais um lembrete do que eu jamais vou poder ter outra vez.

— Temos que ir agora. - ela avisa.

Saímos dali direto para sala de preparação, me visto e sou levado para sala de cirurgia. Me aplicam a anestesia e eu deito na mesa. Olho para o lado e vejo Any esperando para começar a cirurgia.

— Gabrielly? - a chamo quando começo a sentir a dormência e o sono me dominar.

— Sim? - diz ficando ao meu lado.

— Prometa que eu vou acordar daqui algumas horas.

— Eu prometo Noah. - ela diz tirando meu cabelo do rosto.

...

Meus olhos estão pesados e começo a sentir uma dor infernal nas pernas. Abro os olhos devagar e a luz quase me cega. Tento por o braço na frente dos olhos para diminuir a claridade, mas estão pesados como chumbo.

— Ei, vai com calma.

Tento novamente abrir os olhos e vejo Any fechar as persianas o que permite que eu consiga enxergar melhor. Ela está com olheiras e parece cansada. É uma mulher bem diferente das que eu conheci até agora.

— Deixa eu checar como você está.

Ela checa todos meus sinais vitais e mede minha pressão, pelo jeito vou sobreviver.

— Você está sentindo alguma dor ou desconforto nas pernas?

— Dor. Uma dor dos infernos.

— Ok, eu vou colocar mais uma dose de remédio  no seu soro.

Any está com uma expressão séria, não sei porque mais algo dentro de mim diz que tem alguma coisa errada.

— Eu vou sobreviver? - pergunto para aliviar o clima tenso.

Ela levanta a cabeça na hora e seu semblante fica ainda mais carregado. Seus olhos ficam marejados e vejo o esforço que ela faz para não desmanchar.

— Vai sim. - sua voz treme um pouco.

— Gabrielly, você quer me dizer o que está acontecendo?

— Está tudo bem. - diz desviando o olhar.

— Eu sei que não está. Você não consegue nem olhar pra mim!

— Eu prometi que ia te trazer de volta, mas no meio da cirurgia, sem nenhum motivo, você teve uma parada cardíaca. Fiquei com tanto medo de você não resistir. Essa cirurgia não tinha risco, não entendo o que aconteceu...

— Any, me escuta. Eu estou aqui, você não me deixou ir, isso é o que importa e também, vaso ruim, não quebra!

— Quebra sim, você está todo remendado.

— Mais estou aqui, não estou? Não fica se culpando por nada.

Ela suspira e acaba desabando. Lágrimas rolam livremente pelo seu rosto, o que me deixa em pânico, não sei lidar com mulher chorando.

Pego sua mão e a puxo para os meus braços, ela se inclina na cama e eu a abraço. Deixo que ela chore com a cabeça no meu peito. Sinto instantaneamente a nossa conexão.

— Está tudo bem, eu estou aqui e pretendo te atormentar muito ainda.

— Me desculpa. - diz se levantando — Você não deve se preocupar comigo e sim com você.

— Mas se você não estiver bem, quem vai cuidar de mim?

— Sempre vai ter alguém.

— Prefiro você. Não gosto muito de mudanças.

— Fico lisonjeada em saber que você não vive sem mim Urrea. - o humor começa a voltar ha sua voz.

— Sonha Soares.

— Eu preciso ir agora. Mais tarde eu volto pra te ver ok?

— Você bem que podia contrabandear umas batatas fritas, talvez até um lanche pra mim. Porque se eu tiver que comer gelatina de hospital mais uma vez eu juro que faço da sua vida um tormento sem fim!

— Vou ver o que posso fazer. Até logo Urrea.

— Até Soares e volte com minhas batatas.

Ela sai e eu fico sozinho no quarto. Ainda estou com um pouco de sono, mas não quero dormir agora. Vejo o controle da TV na mesinha ao lado, resolvo ver um filme. Vou passando os canais até que escuto algo que me chama a atenção.

Uma música, brasileira. Não sei quem canta, mas tenho a sensação de já ter escutado ela antes.

...É que a gente quer crescer
E quando cresce quer voltar do início Porque um joelho ralado
Dói bem menos que um coração partido...

Tento de todas as formas lembrar, mas não consigo. É como se uma parte da minha memoria tivesse sido apagada, mas o pior de tudo, é que eu sinto que é uma parte importante.

Eu & Você - NoanyOnde histórias criam vida. Descubra agora