Seis

1.3K 250 15
                                    

Já passava do meio dia quando me levaram para uma sala no segundo andar do palácio. E havia se passado dois dias desde o meu encontro com príncipe Elian. Evitei qualquer contato com ele, não queria estar na sua companhia, e mencionar o assunto casamento, que pesarosamente ele acreditava que iria acontecer. O que não iria de forma alguma. Mesmo a porta do meu quarto estando destrancada, era preferível que eu não saísse para não encontrar alguém casualmente pelos arredores. Ainda mais alguém da realeza. Queria o mínimo de contato possível.

Só que hoje em especial, foi impossível ignorar o fato do que estava acontecendo e me permanecer alheia a tudo ao meu redor. Quando de manhã recebi uma convocação da rainha para que eu a encontrasse. E não seria prudente da minha parte ignorar sua singela ordem, ainda mais que ela poderia fazer qualquer coisa. Deixar de seguir uma ordem sua era algo tolo, até mesmo para mim.

Então aqui estava eu, em um cômodo refinado, com poltronas, e livros e uma bela lareira com detalhes do que parecia ouro ao seu redor. Tudo era minuciosamente polido, como em todos os cantos pelo qual eu havia andado, nunca presenciei uma poeira sequer. Ariadna havia me alertado que a rainha queria apresentar o palácio por ela mesma para mim, para me instruir em como seria daqui para frente, e me preparar para seu filho. Para minha nova vida. Assim ela falou. Não precisava de uma nova vida, não precisa de nada disso. Nem de ouro, nem da prata, diamantes e rubis, muito menos estar e um lugar tão pouco acolhedor que transpirava riqueza. Não precisava de nada disso.

Soltei um suspiro e comecei ao fazer uma inspeção pelo ambiente, passei os dedos pelas lombadas dos livros, sentido a textura das capas duras com títulos que jamais havia lido, traçados em letras douradas. Mesmo que não soubesse sobre o que falavam, me sentia instintivamente mais calma. Não importava que nomes tivessem, e qual seriam seus conteúdos, sempre tive a impressão de que os livros poderiam salvar vidas, assim como sempre salvavam a minha. Continuei meu processo de reconhecimento, até chegar próximo o suficiente da janela. Deixei minha mão cair assim que avistei o lado de fora, a vista do jardim era completamente diferente da qual eu tinha do meu quarto. Mas não era o verde infinito, cheio de flores que chamou minha atenção. Não.

Havia uma enorme fonte, bem próxima do palácio, talvez seja por isso que nunca tivesse visto. Mas também não era isso que capturava toda a minha concentração, e sim o que havia em seu interior. Uma mulher curvada com a aparência melancólica olhava para seu bebê em seu colo enquanto seu rosto parecia sereno. Lágrimas pareciam ser esculpidas no rosto frágil da escultura. Parecia estar sofrendo enquanto admirava seu filho, em seu colo. Era uma cena torturante para quem se olhava, escorria água de suas mãos e do seu colo, como se fossem arrastar seu filho para a fonte, como se tentassem tira-lo de seus braços.

Um calafrio percorreu minha espinha, era uma imagem tocante. Dolorosa. Fiquei sem palavras, quando sentia meu peito arder. Não conseguia parar de olhar... Precisava descobrir mais sobre ela. Todos aqueles detalhes me deixaram eufórica, como se clamassem pela minha total atenção.

Mas todos os meus pensamentos foram interrompidos, quando passos ecoaram pelo corredor. Estavam próximos, muito perto. Virei-me apressadamente, aguardando quem estivesse prestes a entrar. Então a rainha rompeu pela porta já aberta com suas passadas elegantes, e sua expressão pouco convidativa. Meus olhos se arregalaram assim que pude admira-la de perto, só a tinha visto no dia do aniversário do príncipe, e com toda a certeza jamais poderia apreciar o encanto de sua face. Se existia alguém em algum lugar no mundo de aparência tão bela e cruel quanto à rainha, certamente desconhecia. Se seu filho fora esculpido em gelo, ela fora lapidada em mármore.

A mulher majestosa em minha frente me olhou dos pés a cabeça com um ar superior. Fiz uma reverência meio exagerada ainda em choque. Ela apenas continuou me analisando para enfim falar:

Reino ObscuroOnde histórias criam vida. Descubra agora