Oito

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O sol estava batendo em minha face. Era mais de um desses dias em que o calor era algo desesperador, mas depois de passar tanto tempo Fechada em meu quarto, me senti até em êxtase ao sentir minha pele se aquecer, a ponto de pela primeira vez me sentir realmente acalorada por dentro, e aquele leve conforto que há tempo não provara se estender a mim. O vento suave vinha em minha direção, e estar sozinha na companhia de um livro já não me incomodava mais. Sentia-me até grata em não ver os rostos familiares da realeza nos últimos dias. Ou de não ter guardas a minha volta que jamais falarão comigo.

Mas para conseguir fugir hoje de tudo isso, foi algo de muita relutância. Pois fantasmas estavam me assombrando á noite e ficar dentro do quarto não era uma possibilidade. Os pesadelos estavam me atormentando com mais frequência agora, bastava apenas fechar os olhos, e pronto. Eu estava perdida no vazio, o nas profundezas da escuridão. Isso contribuiu para que eu procurasse outras coisas para fazer, além de estar a todo o momento com medo. Então achar refúgio no jardim foi uma ótima opção.

Não conseguia deixar de me lembrar, de como o corpo de Nicolas estava caído ao chão. Ele estava inteiramente nu, e ardia em febre, enquanto o acalentava próximo ao peito, sentia minha própria pele se estilhaçar aos frangalhos, enquanto o frio dilacerava meus ossos. Eu tinha erguido seu rosto para dar um ultimo beijo em seus lábios que estavam brancos, feito papel, enquanto suas bochechas tinham uma coloração rubra. Mas quando me afastei com lágrimas nos meus olhos, era Elian que estava em meus braços. O desespero aquela altura já havia me consumido por inteiro, ao olhar para o azul esplendido dos seus olhos me encarando sem vida. Eu o puxei para mim novamente, sem conseguir me controlar pedindo que vivesse.

— Ele está morto. — sussurraram em meu ouvido.

— Não, não, não... — neguei inúmeras vezes. Repetindo como se fosse um mantra.

Mãos fortes haviam me segurado, enquanto eu me debatia com todas as forças para ficar junto do príncipe sombrio.

— Me deixe com Elian, eu preciso ficar com ele... — Me agarrava com todas as forças ao seu corpo já gélido.

Eu não sabia o que estava acontecendo, só sabia que não podia deixar que ele me deixasse. Deixe-me ir em seu lugar me pegava sussurrando inúmeras vezes, no mesmo instante que eu pedia para não me deixar só.

Pisquei quando mais uma vez eu voltei a rememorar esse pesadelo que me causava calafrios. Era como se minha mente estivesse aqui, mas no mesmo instante se desvirtuasse de qualquer outro pensamento e voltasse a recorrer a essas memórias nada agradáveis. Isso acontecia a todo instante e me deixava fadigada. Nessa manhã eu acordei chorando, e tentando acalmar a todo o custo a minha respiração. Ultimamente estava beirando a loucura, precisava achar uma solução rápida para sair dali.

E também tinha a maneira muito estranha que o príncipe havia agido na ultima vez que nos vimos há quatro dias. Era impossível não pensar na maneira em que ele me olhara e partira sem me dizer mais nada, tentando desvendar o mistério que ele parecia ser.

Eu não podia falar com Ariadna essas coisas que me incomodavam, pois ela não entenderia. Nem falar sobre essa agitação constante que surgia em meu peito abruptamente toda vez que rememorava o azul profundo dos olhos de Elian nos meus. Eu mesma procurava não pensar muito nisso, porém quanto mais perguntas sem respostas surgiam, mais me sentia em um beco sem saída. Sua frivolidade, suas atitudes pouco acolhedoras, seu olhar sombrio e sua feição séria para tudo que olhava assustavam qualquer um que cruzasse seu caminho, pois uma escuridão ameaçadora o envolvia. Em contra partida, com todo o meu julgamento árduo que eu já fazia constantemente sobre ele quando ainda vivia em Ryce que se tornara ainda pior depois que fui arrastada para cá, tinha mudado um pouco o rumo, pois depois de ter mentido durante o jantar que meu pequeno machucado na testa era devido a uma queda assim que bati em um móvel qualquer. Depois de nosso encontro a noite, quando cheguei ao meu aposento, cada mobília tinha sido mudada de lugar exceto pela minha cama.

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