Minhas mãos não param de suar. Minha mãe fez com eu vestisse um vestido de cetim lilás, que era exagerado em seus adereços. Minha única sorte era que pelo calor que fazia, ela permitiu que a saia fosse somente até os joelhos, já que não era para um baile de gala que estávamos indo. Meu cabelo estava solto, deixando as madeixas douradas brilharem como ouro, com a luz que entrava pela janela. Meus pés doíam no sapato novo de cor marfim. Um pequeno colar pendia em meu pescoço, como o único acessório que realmente escolhi. Um pequeno ponto de luz que ganhei de meu pai quando criança, e que andava comigo para onde fosse como um amuleto que me trazia sorte.
Olhos verdes piscaram para mim através do grande espelho que me encontrava diante. Meus olhos. Que presenciavam terror quase todos os dias, que viam coisas erradas, mas que guardavam sua revolta toda para si.
Eu detestava esse dia, talvez esse ano essa data fosse mais repudiada por mim, do que nos anos anteriores.
Minha respiração oscilou quando vi o reflexo de minha irmã atrás do meu corpo esguio, me observando com atenção. Sua expressão era cautelosa, quando me virei. Mas mesmo assim seus olhos brilhavam, ela gostava tanto desse evento, quanto eu o detestava.
— Nossos pais já estão nos esperando lá embaixo. — Como toda irmã mais velha faz, Melissa se aproximou e ajeitou meu cabelo.
— Não quero ir para o centro da cidade, e detesto ter que ser obrigada a ir. — sussurrei baixinho como se alguém pudesse me ouvir e me entregar para alguém.
— Você deveria ficar feliz por termos um dia para sairmos nas ruas e sermos nós mesmos. Mesmo que em apenas uma vez no ano, deveria estar grata, muitas pessoas não estão aqui para se deleitar desse momento.
Olhei para minha irmã que me encarava com censura. Ela era linda. Era totalmente oposta a mim em seu jeito de falar ou pensar, éramos consideradas muito diferentes mesmo que nossa aparência fosse parecida. Exceto pelos olhos castanhos que ela herdara de nosso pai. Sua maneira de ruminar as coisas era como de nossa mãe, nunca se opondo verdadeiramente a coroa. Agindo como eles queriam que nós agíssemos, arrumando uma desculpa para todas as coisas que eles exerciam sobre nós, vendo de um lado positivo que nunca enxerguei.
— Porque foram mortas sem um único motivo razoável por isso. — retruquei um pouco alto demais. Melissa rapidamente tapou meus lábios com sua mão, seu rosto estava vermelho.
— Já chega! — sua voz era mortalmente baixa em um aviso claro para mim. — Não pode falar essas coisas, sei que é contra o nosso sistema e como ele é governado, mas precisa aprender a guardar para si.
Depois disso, Melissa se afastou e se virou para o espelho para se ajeitar. Ela tinha razão, mesmo que não soubesse o que se passava realmente pela minha cabeça, qualquer uma das palavras que disse há poucos minutos atrás já seria motivo suficiente para sermos todos mortos.
Antes de começar a me rebelar mais uma vez, caminhei até a porta com uma sensação incrivelmente ruim em meu peito.
— Vamos. — Chamei minha irmã, sem olhar para trás. Sentido a culpa cair sobre mim, pois para ela hoje era um dia importante.
Algo estava me afligindo, como se um alerta me dissesse que algo estava muito errado. Meu coração doía como se alguma coisa não estivesse certa, aviso silencioso de que não poderia esperar nada de bom para hoje.
Descemos as escadas em um profundo silêncio, cada qual mergulhada em seus próprios pensamentos. Próximo à porta, estavam nossos pais, tão esplendidos, com seus queixos erguidos, sem deixar transparecer nenhum sentimento sequer em suas faces quando nos olharam. Talvez minha mãe fosse à única que quebrou o protocolo quando nos olhou com certa fúria. Estávamos atrasadas. Mas depois os olhos dela também ficaram distantes, assim como os do meu pai, que mal nos olhou quando estávamos diante dele.
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Reino Obscuro
FantasyExiste uma velha lenda de um Rei que doou seu próprio filho para a escuridão para salvar a vida de sua bela amada. Há um reino que vive obscuro, sem saber o que é amor, apenas o poder se torna um sentimento constante em seus governantes, o ódio perd...