Treze

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Não havia sol hoje, apenas uma imensa neblina que encobria a beleza extraordinária do jardim. O dia estava incrivelmente chuvoso e melancólico, e eu tinha sido poupada de qualquer afazer, pois algumas famílias reais estavam começando a chegar para se hospedarem no palácio para a minha cerimônia de noivado. Não era permitida a minha transição por qualquer corredor que não pertencesse à ala sul, mas não reclamei quando Elian mandou que um guarda viesse transmitir suas ordens, afinal eu não tinha a mínima vontade de dar de cara com qualquer pessoa que fosse.

Eu estava evitando Elian também, quando Ariadna chegou ontem com um recado que era para me juntar com a família real para o almoço, eu simplesmente descartei falando que estava me sentindo um pouco doente. Não demorou muito para um médico da realeza aparecer em meu quarto afim de me examinar, e eu tive que fingir todos os sintomas possíveis para assimilar um resfriado, e por causa da oficialização do noivado do príncipe que seria em alguns dias, sua noiva tinha que manter repouso para não demonstrar fraqueza diante daqueles que invejam a soberania de Monteblack. Não que o homem que me examinou me falou isso com todas as letras, era mais uma suposição da minha parte. No fundo eu me senti aliviada em não poder sair pelo resto dia, assim não correria o risco de encontrar o príncipe, nem seu pai e menos ainda a sua mãe. Eu me via livre de apuros.

Tinha um lado meu que não parava de pensar no final da discussão que eu tinha pegado entre o rei e seu filho há duas noites: Ela vai ser sua ruína. Essas palavras me levaram a ter sonhos de um dia que eu já tinha esquecido há anos, e me fizeram reviver o terror nas palavras do meu pai. Nunca pensei que eu poderia ser a destruição de alguém, que eu poderia ser capaz de tal coisa, mas tanto Richard quanto o homem que me criou me consideravam uma ameaça, embora eu nunca tenha feito nada demais. Tudo bem que quando eu estava em Ryce, eu sempre infligia às leis, principalmente aquelas que não eram escritas, e sim impostas através do medo em nossa sociedade. Mas aqui? Eu nunca fazia nada, a não ser trocar míseras palavras com a mulher que arrumava meu quarto, e com o homem que fazia minhas roupas. E Elian, com quem tive uma conversa que chegava a ser normal poucas vezes e em fragmentos ainda. Mas o olhar do rei de Monteblack não conseguia esconder o próprio medo, enquanto encarava seu filho, que era uma pedra esculpida em gelo, com seus olhos ainda mais frios do que um dia eu já vira. Não tinha sentimentos em sua expressão, e o único que foi possível captar era à raiva, que logo se dissipou tão logo que apareceu.

Levei à xícara de chá quentinho a boca, o ar quente que se subia do recipiente contrastava com a humidade do ar, deixando o vapor a sua volta mais espesso, trazendo para mim uma breve distração para sorrir. Com o vento, respingos de chuva vieram até mim, e isso me causou um arrepio, fechei com mais força a manta que estava ao meu redor para conter meus leves tremores.

— Você não deveria ficar aí na sacada, o príncipe se irritaria se a visse aí. — Ariadna surgiu ao meu lado pegando a xícara quase vazia de minhas mãos.

— Eu não posso fazer nada, porque tudo o irritaria. — falei amargamente. Depois soltei um suspiro e voltei para dentro do quarto.

— A senhorita deveria ficar feliz, pelo menos ele só se irrita com você, afinal se fosse qualquer outra pessoa, essa irritação seria apenas um gatilho para o fim dela.

Encarei minhas mãos. Fiquei envergonhada com o que ela falou, Ariadna tinha razão, eu reclamava demais, mesmo com a minha pouca liberdade, eu ainda tinha um espaço para me refugiar, e o príncipe apesar de não gostar dos meus modos jamais me importunava vindo até aqui, nunca vinha me aborrecer com seus discursos de ódio e poder que eu vi várias vezes ele fazer pelos telões que invadiam as grandes praças das cidades, assim como o seu pai. Muitas pessoas falavam dessa crueldade do homem que herdaria a coroa, mas desde que cheguei eu só conheci seu lado extremante frio e sombrio, não o ódio que era semeado em seu coração. E nem presenciado seus ondas terríveis de poder, que poderiam destruir gerações de famílias inteiras. Soltei um suspiro e senti o calor se estender sobre as minhas bochechas.

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