Estava relutante em abrir os olhos, não queria saber onde estava. Mas, mesmo em um estado semiconsciente, consigo vagamente lembrar as coisas que aconteceram comigo. Só que parecia tão distante, e tão real. Era um sonho, só podia ser isso. Tinha certeza, que estava em um transe, depois de um pesadelo, lutando para permanecer com os olhos fechados. Flashes apareciam coloridos em minha memória... O colchão era tão aconchegante, não me lembrava do meu ser incrivelmente bom, ou de os travesseiros serem tão macios e confortáveis. Me remexi um pouco na cama que parecia espaçosa demais, comecei a sorrir de olhos fechados, me lembrando das memórias confusas que não paravam de surgir; Um pedido de casamento, Nicolas sorrindo enquanto me olhava, uma festa repleta de pessoas, olhos azuis lindos e glacias...
Sentei na cama repentinamente. Meu peito subia e descia, e agora eu me encontrava bem desperta, lembrando-me do que realmente aconteceu.
Por quanto tempo eu dormi? Não faço a menor ideia. Mas estou viva, e aparentemente bem confortável, em um pijama de linho com uma colcha sobre meu corpo. Raios de sol inundavam o quarto, deixando o ambiente ainda mais quente e sufocante. A sensação de conforto passou. Meus olhos ardiam com a claridade, pisquei várias vezes tentando inutilmente me ajustar com tudo ao meu redor.
Estava em um cômodo bastante amplo, maior que meu antigo quarto, mas não com muitos móveis. Suas paredes eram brancas, e cortinas pesadas e escuras se encontravam abertas sobre as janelas. Havia uma pequena sacada. Joguei a colcha para longe e pulei da cama, meu corpo tremia quando me aproximei da porta de vidro e a abri. Uma necessidade incontestável de sentir o ar puro tomava conta de todos os meus pensamentos. Precisava por as ideias no lugar, entender o que estava acontecendo, e o motivo para estar tão bem acomodada. Por que o príncipe me trouxera afinal? Não deveria ser apenas interesse, mas pelas minhas conclusões sobre o que houve ontem... Seria mesmo ontem? Minha cabeça doía, estava meio zonza. Senti uma brisa refrescante em minha pele suada, olhei para o horizonte e quase perdi o ar; Um imenso jardim se encontrava a minha frente, ele era tão belo que jamais havia visto algo assim, tão deslumbrante. Então, desde que abri os olhos, meio desorientada realmente pensei onde estava como algo real, e o mal estar se apoderou de mim. Eu não podia, eu não queria... Precisava fugir do palácio.
Minha cabeça estava girando, e doendo tanto que agora parecia que ia explodir. Voltei para o interior do quarto, e mais uma vez olhei para todos os lados, havia uma porta ao lado da cômoda. Quando a abri, encontrei um banheiro, e suspirei no mesmo instante que consegui lavar meu rosto com a água gelada que saía da torneira. Definitivamente isso era muito bom, conseguiu fazer com que me acalmasse. Levantei meus olhos até meu reflexo diante do espelho, e observei meu peito subir e descer, tentando sem sucesso respirar normalmente, enquanto o ar queimava em meus pulmões. Envolta dos meus olhos, olheiras grandes surgiam, e eu estava pálida, completamente sem nenhuma cor no rosto.
Rapidamente imagens retornaram em minha memória para me atormentar. Fui trocada, traída pela minha família. Todos sabiam... Ninguém me contou. Ninguém teve a audácia de me falar o que estava em jogo no vigésimo primeiro aniversario do príncipe. Ninguém se preocupou em me perguntar em como me sentiria depois disso, se eu queria passar por essa situação horrível. Na triste realidade nem uma pessoa parecia ter se importado. Talvez uma em particular, com seu sorriso lindo... Que teria seu coração partido assim que fosse informado que não seria mais sua noiva. Nicolas. Apenas de pensar em seu nome, meu peito doía de uma maneira indescritível. Tudo estava muito bom para ser verdade.
Senti uma sensação pouco conhecida se apoderar do meu peito, e me destruir por inteiro, enquanto a dor crescia cada vez mais. Meus olhos estavam ardendo, queimando com a necessidade de por para fora este misto de emoções. Meu rosto estava molhado, com lágrimas que escorriam por minha face. Nem notei que estava chorando. Mas não impedi que elas rolassem pelo meu rosto, deixei que elas florescessem e fossem embora, com toda a minha frustração. Chorei por horas. Chorei até que não houvesse mais nada para colocar para fora, até que minha existência fosse algo oco, algo vazio e que não me restasse mais nada além da amargura.

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Reino Obscuro
FantasiExiste uma velha lenda de um Rei que doou seu próprio filho para a escuridão para salvar a vida de sua bela amada. Há um reino que vive obscuro, sem saber o que é amor, apenas o poder se torna um sentimento constante em seus governantes, o ódio perd...