A maneira em que Elian agiu não saía da minha cabeça, por mais que eu me esforçasse para isso. Como ele ia de um extremo a outro em apenas um piscar de olhos, em poucos segundos. Eu mal conseguia acompanhar. Mas havia uma parte de mim que sussurrava que isso me traria incontáveis problemas, não apenas emocionais, mas a atenção dos olhos gélidos do rei voltados para mim.
Isso já era problema suficiente. Isso fazia com que eu tremesse da cabeça aos pés.
— Você está bem tensa hoje. — Bruno observou enquanto ajustava meu vestido para o baile que seria anunciado meu noivado com Elian.
— Essa história de ficar em exposição no meio de vários nobres está me deixando doente. — Mas não era só isso, também havia certo desapontamento em relação à Elian me ignorar novamente. Eram muitas coisas mutuas acontecendo.
Bruno suspirou e me olhou com seus olhos tristes. Um pequeno sorriso se estendeu em seus lábios.
— Você vai entrar naquele salão, vai levantar a cabeça e não vai deixar que absolutamente ninguém note suas fraquezas. — Falou em tom sombrio. — Do contrário teremos um rei muito furioso.
Não tinha contado a ele sobre a agressão e a ameaça que o rei fizera a mim. Não podia contar a ninguém, contudo não precisava olhar em seus olhos para saber que ele conhecia esse lado obscuro de Richard tão bem quanto eu. Como todos que habitavam o palácio. Sei que se perguntasse pelo quê ele havia passado, ou presenciado, Bruno jamais me falaria. No fundo sabíamos que a ira do rei era a sentença de morte para muitos do nosso povo.
Esse é o meu maior pesar.
Muitas coisas faziam com que eu sentisse um tremendo peso sobre minhas costas, e essa era uma delas. Tinha medo de fazer qualquer coisa, e pessoas inocentes pagarem por isso. Por enquanto eu não havia escutado rumores de fuzilamento em massa para os condenados, nem que o rei havia se revoltado ainda mais com seu povo. Mas isso não significava que as coisas poderiam estar melhores, pois ali, atrás desses muros eu não tinha a noticia de nada. Nem de ninguém.
Estava vestindo a minha roupa novamente, e caminhava em direção à saída sem muita pressa, pois meu trajeto seria ir direto para o quarto, onde ficaria confinada o resto do dia. A porta estava entreaberta e quando passei por ela esperava encontrar um corredor vazio. Eu não contava com a hipótese de que Elian estivesse ali parado, encostado na parede com as mãos no bolso de sua calça social, me encarando profundamente.
— O que faz aqui? — perguntei meio sussurrando, com os olhos arregalados devido à surpresa inesperada.
Elian pareceu meio surpreso com aminha reação e um quê de receio perpassaram por seus olhos. Eu senti sua grandiosa armadura vacilar e rachar minimamente.
— Achei que eu tinha falado que te mostraria a propriedade. — mesmo com sua voz firme havia hesitação.
— E eu achei que estaria muito ocupado por esses dias. Que não teria tempo para isso. Pelo menos foi isso que alegou não é mesmo? — cruzei os braços diante do meu peito.
Elian respirou profundamente, e se desencostou da parede. Passou sua mão por seus cabelos rebeldes, avaliando cada passo seu. Analisando cada reação minha, desde meus pés, até o meu modo nervoso que estava estampado em meus olhos.
— Você não quer ir? — mesmo estando momentaneamente irritada e decepcionada com sua atitude do outro dia, eu não conseguia me conter e menos ainda lhe dar uma resposta negativa.
A maneira apelativa com que seus olhos me encaravam... Fiquei completamente desarmada.
Hipnotizada.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Reino Obscuro
FantasíaExiste uma velha lenda de um Rei que doou seu próprio filho para a escuridão para salvar a vida de sua bela amada. Há um reino que vive obscuro, sem saber o que é amor, apenas o poder se torna um sentimento constante em seus governantes, o ódio perd...