A Ligação Do Cara Do Lixo

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Eu chego em casa me sentindo uma merda, as coisas que eu disse para ele foram coisas ruins, mas nem um pouco mentira e ele tinha que concordar comigo. 

Jogo a mochila em algum canto no meu quadro e olho para o computador ali, penso se faço uma live ou não. 

-JOÃO VEM AQUI- minha mãe grita como se eu estivesse do outro lado da cidade.

-TO INDO- Eu grito de volta porque eu queria. 

-Será que você poderia ir ali comprar algumas cenouras? Eu vou fazer um salpicão--Ela diz quando chego na cozinha, ela estava com as mãos cheias de frango sendo desfiado. 

-Opa com certeza--Me animo porque amo o salpicão da minha mãe. 

Ela me dá o dinheiro para comprar e eu logo vou. Enquanto eu subo a rua para chegar no  mercado eu vejo uma senhora de idade que vive andando pelas redondezas pedindo comida ou dinheiro, era nela que eu pensava quando gritei com Luan hoje, eu não sabia aonde ela morava e sempre que podia ajudava com o que dava, o nome dela era Esmerina . O mercado estava vazio e eu peguei as cenouras e paguei rápido. 

-Oi dona esmerina- Eu digo tocando no ombro da senhora, ela se vira meio assustada-- Toma pra senhora, sei que não é muito mas é o que sobrou do troco ali- Eu dou uma nota de cinco reais pra ela que era o troco. 

-Deus te abençoe meu filho- Ela diz pegando a nota e dando um sorriso-Muito obrigado mesmom

- Eu dou um sorriso e arrumo a sacola na minha mão que estava caindo- não foi nada senhora, eu vou indo porque preciso levar essas coisas. 

Tomo meu rumo descendo a rua novamente, eu queria poder ajudar mais essa moça, quando eu trabalhava sempre ajudava com mais do que cinco reais e as vezes com comidas também, minha mãe sempre a ajudava também e até a Melissa. Quando viro passo perto de um beco vejo cinco caras fumando e meu coração começa a bater forte, o medo de ser assaltado era real. Mas quando olho melhor vejo que era o Felipe e os meninos com quem eu já estudei, respirei aliviado. 

-Eai Jão- Diz Felipe e mexe a cabeça em saudação, os outros que estavam com ele fazem a mesma coisa. 

-Eai galera, tão fazendo o que por aí? - Eu nunca fui muito amigo deles, mas sempre conversávamos. 

-Tamo fazendo uma ronda, uns carinhas inventaram de roubar aqui e a gente tá querendo pegar eles no Pulo- ele sorri tirando o cigarro da boca, e apontou para as sacolas- Vai levar logo pra sua mãe não? Ela vai ficar braba. 

As pessoas meio que tinham medo da minha mãe porque ela já deu sermão no Felipe e nós seus amigos por ficarem roubando por aí, então aparentemente eles começaram a roubar em outro lugar e a proteger nosso bairro como policiais. 

-To indo já- Eu me moço pro lado e antes que eu saia o Vinicius fala. 

-Avisa pra ela tomar cuidado saindo de manhã cedo, os cara tão roubando nesse horário. 

-Okay aviso sim, pode deixar--Eu saio de lá e vou para casa rápido, porque realmente minha mãe já devia estar esperando a cenouras. 

+++

Quando acabo mais uma live sem ninguém me pego pensando em Luan, ele parecia tão triste quando entrei em sua casa e quando falou que seu pai foi embora seu rosto se iluminou, talvez tenha coisa aí mas eu não ia me meter no problema dos outros. No mesmo instante ouço um barulho no meu celular. 

Luan:Oi, será que podemos conversar?. 

Eu: Claro, pode falar. 

Coloco o celular na mesinha do meu computador e vou para o banheiro tirar uma água do joelho, tinha ficado duas horas jogando sem me mexer e quando levantei tudo que eu chamava de osso estalou (talvez eu fosse um velho). Quando estava lavando as mãos ouço um barulho que eu não estava habituado, meu celular tocando, quem em sã consciência ainda ligava?. 

-Esse menino é doido é? - Eu falo quando vejo que o nome "O cara do lixo" estava aceso na minha tela, por que Luan estava me ligando?.

-Alo?.

-Ah oi João, achei que você não ia atender…

-Eu pensei nessa opção, mas a curiosidade foi maior. O que você quer?. 

-Eu só queria conversar sobre hoje, eu sei que fui um idiota. 

-A casa era sua, você tava no direito de chamar quem quisesse. 

-Olha, eu queria pedir desculpas por tudo hoje- A voz dele ficou um pouco chorosa, não estava entendendo- Parei para pensar e você tava certo. 

-Eu sempre tô certo, mas sobre o que você está falando? - Eu sabia do que ele tava falando, mas me fiz de burra. 

-Você sabe, sobre as coisas pelas quais o meu grupo luta. Eu não sabia que você ao menos sabia da existência dele, me deu conta de que faço muita coisa errada. Mas o meu foco continua sendo na poluição que aquela empresa traz. 

-Por que persegue tanto essa empresa?-Eu me irrito. 

-Porque tem vários relatos com provas falando de mortes por radiação, e os índices de poluição cresceu absurdamente desde que eles começaram. Daqui a pouco somos uma nova China tendo que andar de máscara o tempo todo. 

-Huum- Falo e a vontade desligar só aumenta, sério pra que me ligar pra falar essas coisas? Uma mensagem Resolvia.- Você sabe que no momento que você dizer para aquele povo que quer ajudar os pobres eles vão começar a insinuar que não valhe a pena e vai dar uma briga né?. 

-Eu duvido muito disso-Ele fala com uma voz rindo, ao menos tinha parado de chorar-- Sabe o que eu percebi?. 

-Fale. 

-Você fala mais comigo do que com qualquer outra pessoa que eu vejo você interagindo. 

-Sonhou né. 

-Não,  todo momento quando alguém te pergunta algo na sala você mal responde a pessoa e falando comigo você fala pelos cotovelos- Instantaneamente eu começo a corar, esse menino tá achando que era quem? - Deve ser minha incrível personalidade. 

-Você se acha né?. 

-tenho autoestima alta, não posso fazer nada se sou incrível. 

-Você se chamou de incrível duas vezes?. 

-Você sempre responde com perguntas quando tá corado? - Porra, como ele sabia?. 

-Eu vou desligar. 

-Calma aí, antes de você fazer isso. Obrigado por mentir pro meu pai, ele é muito chato com pessoas que eu não conheço vindo aqui. 

-De nada, agora que seu pai me conhece o certo era você vir aqui-Digo com sarcasmo.

-Posso ir aí sim, que tal na próxima aula?. 

-Pera, oque? 

-Sim ué, me manda sua localização que a próxima aula semana que vem vai ser aí- Eu não acredito que ele quer realmente vir aqui, tá eu que chamei, mas era zoeira. 

-Okay então, quarta feira aqui em casa. - Quarta era o dia que minha mãe e minha irmã chegavam tarde em casa, Melissa ia para casa de um ficante dela e minha mãe sempre passava na minha tia para ver minha vó. 

-Marcado então, espero que segunda você jogue lixo no lugar certo- E desliga. Mas que filho da puta, ele me zoou? Jogo o celular na cama e deito, talvez tivesse um sorriso em meu rosto. 







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