A última coisa que me lembro do dia de ontem foi ter chegado em casa de uber, que eu mesmo tinha pagado, e ido deitar. Acordei me sentindo bem melhor, o corpo já parava de doer e meus olhos não pareciam que tinham sido arrancados e comidos, a febre ainda estava lá e sentia meu pé coçando demais. Me assusto quando olho as horas no meu celular e vejo que era quase 13 hora da tarde, eu odiava ficar doente porque sempre acabava dormindo muito. Pelo cheiro que vinha da cozinha minha mãe já estava preparando nosso almoço, senti minha barriga roncar e percebi que não havia jantado ontem a noite. Quando abro minha porta dou de cara com um Luan de uniforme escolar com os braços levantados como se fosse bater minha porta.
-Ahn oi- Ele diz. O que ele estava fazendo aqui de novo?. Minha mãe apareceu logo atrás dele com um pano de prato no ombro.
-Ah eu já ia vir aqui no seu quarto ver se você tava vivo, mas seu amigo chegou e pedi pra ele te acordar. -Ela diz limpando as mãos no pano, deveria ter acabado de lavar louça.
-Obrigado mãe, esse é o Luan, eu e ele temos um trabalho pra fazer--Eu digo puxando ele para dentro do quarto. - Pode colocar a mochila ali na cadeira do computador.
-Computador? - Eu fecho a porta e ele vê o computador, acho que pela primeira vez já que ficava atrás da porta. - Oh meu Deus que headsets Fofinho.
Ele pega meu headset rosa com as orelhas da D.va, uma personagem de overwatch, e coloca em sua cabeça. Ele fica olhando o computador por um tempo.
-Nossa você joga?.
-Não eu lavo roupa aí, claro que sim né.- Então percebo que estou de pijama e vou trocar de roupa, escolho apenas um short jeans e infelizmente uma regata que deixava meus braços gordos a vista, eu precisava lavar roupa com urgência. Me troquei na frente de Luan mesmo e percebi que ele ficou tempo demais me fitando, que menino tarado.
-Olha você não devia cobrir aquela webcam? Depois que o hackers pegaram seus vídeos íntimos não reclama--Ele aponta para a webcam e eu percebi que nunca tinha tampado. Será que já tinham pegado alguma informação minha? Fiquei com isso o resto do dia.
-Como eu gravo algumas coisas aí não achei necessidade.
-Você é tipo aqueles caras do only fãs?.
-O que? Eco não, ninguém iria pagar pra me ver pelado.
-Eu pagaria.
Então nós trocamos olhares que podiam significar muitas coisas, aquela era a certeza que eu precisava, Luan ficava com meninos também, aí meu Deus o que faria com essa informação? Acho que nada, mas ele disse que pagaria meu only fãs, acho que estamos flertando?.
-Eu faço stream de jogos, tento ganhar uma graninha fazendo vídeos jogando.
-Ah tipo aquelas drags que fazem sucesso? Meu amigo conhece e vive jogando com Samara lacre.
- Eu adoro os videos dela, fico rindo horrores toda vez que vejo. Queria ter o tanto de fãs que ela nunca tem. - Minha barriga ronca de novo e essa é a deixa que tenho pra gritar. - MÃE TÁ PRONTA A COMIDA? TÔ VARADO.
E é claro que Luan se assusta no segundo que meu grito sai, ele tenta disfarçar mas deu pra perceber a tremida.
-QUASE, VAI ALI COMPRAR UM REFRI PRA GENTE- Aí que droga, eu tava doente não podia sair.
-Você tá melhor pra sair assim? - Luan continuava a mirar minha estante de livros.
-To sim, eu só tô com preguiça. E você vai comigo. - e assim nós vamos comprar um refrigerante.
Subimos a rua, compramos o refri com um Luan me perguntando como aquele mercado ainda estava de pé com tanta rachadura na parede, ele realmente não entendia o conceito de mercadinho de esquina. Quando estávamos voltando para casa vemos dona Esmerina na rua, ela estava com suas roupas surradas de sempre e eu cabelo cacheado para o alto e quando me viu abriu um sorriso, eu sabia que ela estava ali perto.
-Aqui dona Esmerina- Falo lhe entregando o biscoito de água e sal que às vezes comprava com o troco de minha mãe, ela sabia o que eu fazia mas nunca me impediu de fazer nada.
-Deus te abençoe meu filho--Ela pegou o pacote, olhou para Luan e sorriu para ele, depois apenas saiu com seu pacote de biscoito.
-O que foi isso? - Ele me perguntou--não sabia que fazia caridade também, achei muito honrado da sua parte.
-Ela é uma senhora que viveu aqui desde sempre, seu marido morreu há cinco anos atrás e a única coisa que deixou foi a casa. Então o bairro todo ajuda ela com o que pode, minha mãe ajuda ela algumas vezes a arrumar a casa, porque ela já é idosa, outras pessoas compram cestas básicas, a conta de água o dono do mercadinho paga e assim ela leva a vida. E ela vive de Catar latinha na rua e vender, e quase sempre ela está por perto do mercado procurando latinhas, quando eu vou ao mercado e vejo que ela está por perto sempre compro uma besteira pra ela ficar feliz.
-Achei que aqui na periferia as pessoas seriam piores que as que moram no meu bairro.
-O dinheiro deixa as pessoas egoístas e mesquinhas, aqui nós sabemos como é difícil pra todo mundo e tentamos ajudar com o máximo que pudermos.- Quando acabo de falar isso ouço um assobio familiar, era Felipe e seus "parceiros". Ele me chama com um balançar de mãos e eu vou, Luan está logo atrás de mim.
-Quem é esse negão ae?De onde que ele saiu - Pergunta Felipe analisando Luan de cima abaixo, eles estavam querendo saber se ele era do bairro rival.
-Relaxa ele é um amigo da escola, não é da área não.- Eu digo torcendo para Luan não encarar ninguém como sempre faz.- O nome dele é Luan, veio para fazer um trabalho da escola.
Felipe continua a observar Luan e depois troca olhares com Vinicius que assente, eu não fazia ideia do que era aquilo, os outros também encaravam Luan, mas uma pessoa em especial foi o único que me deixou preocupado, era Pedro. Ele estava com a arma na mão quase que apontando para Luan.
-Baixa essa merda aí Pedro, supera cara- ouço Felipe dizer quando vê para onde eu e Luan estava aos olhando- Pode ir Jão, e olá Luan. Tenham um bom trabalho de escola.
Todos começaram a rir e eu não tinha visto o motivo da graça, pego Luan pelo braço e o arrasto para fora dali o mais rápido possível.
-Por que aquele cara apontou uma arma pra mim? - Ele pergunta e vejo que ele suava, era estranho ver alguém não acostumado a esse tipo de conversa por aqui.
-Aquele era Pedro, ele é meu ex namorado- Eu digo e entro em casa.
Então depois de comer Luan me interroga sobre o que aconteceu entre mim e Pedro. Era simples, eu sempre via ele com Felipe e um dia quando eu tinha 14 anos e ele uns 16 e ele bateu na minha porta pedindo pra entrar porque uma pipa tinha caído no canto da minha casa, eu o deixei entrar, depois ele pediu um copo d'água e me acompanhou até dentro de casa para beber, enquanto bebia ele me olhava diferente e então quando vi estávamos no meu quarto que foi onde perdi minha virgindade. Nós namoramos por três meses e terminamos quando entrei pra escola de ensino médio porque minha mãe não me queria namorando alguém como ele e eu também não estava afim de me comprometer tão cedo.
-E todos sabiam desse namoro? - Luan ficou tão quieto enquanto eu falava que achei que ele tinha se distraído.
-Sim, andávamos por aí de mais dadas e tudo. Ninguém ia entrar em um briga com Pedro.
-E você ainda sente algo por ele?- Pergunta estranha, mas Luan era esse tipo de pessoa. A que fazia perguntas estranhas.
-Quando terminamos eu ainda sentia algo, mas logo depois ele foi preso e voltou viciado em pó. Então logo acabou a paixão.
E assim eu me assumi para Luan, durante o resto do dia ficamos estudando. Consegui ensinar algumas coisas novas para Luan enquanto me coçava com o final da Dengue.
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Inexplicável (Romance gay)
Teen FictionJoão é o que podemos chamar de gaymer, fica ate altas horas da noite fazendo lives de jogos no facebook e no outro dia vai para a escola destruido. Luan é o menino novo rico, ativista e vegano que é super animado o que faz João revirar os olhos semp...