Amizades Antigas

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Segunda chegou sem eu nem ver, tinha passado o resto do final de semana trancado no meu quarto jogando sem ver a luz do dia e comemorando quando três novas pessoas se inscreveram no meu canal. Estou eu aqui mais um dia com o olho inchado de sono por ter dormido pouco na noite passada andando pelos corredores da escola quando quase esbarro em alguém e por pouco eu me esquivei, esses adolescentes só sabem correr?.

-Passa por cima- Falo baixo demais, apesar de ser uma pessoa que odeia tudo e todos ainda tenho amor pela vida e nunca falo alto o suficiente. Entro na sala quase caindo e cochilo em quase todas as aulas do primeiro tempo.

No intervalo acordo quando jogam uma bolinha de papel na minha boca que provavelmente estava aberta enquanto eu dormia, me assusto e vejo algumas pessoas rindo, eram os meninos hetero demais da minha sala que eu nunca soube seus nomes direito porque eram todos iguais em minha visão. Arrumo minhas coisas rápido e saio para comer alguma coisa no intervalo, e é quando já estou sentado devorando uma coxinha que alguém se senta no meu lado.

-Se tivesse sido eu você tinha gritado comigo por horas- Era Luan se sentando ao meu lado e abrindo um pote com alguma comida de casa.

-Você traz lanche de casa, sério? não podia ser menos riquinho?- Perguntou desviando do assunto, não queria falar sobre aquilo.

-Se você olhasse bem veria que a loja da linda moça com verruga não tem nada vegetariano, então eu preciso trazer algo pra comer e ficar forte- Ele cita a moça da limpeza que vende lanches e levanta o braço mostrando o quanto era forte, eu reviro o olho.

-Desde quando você ficou tão falante assim?-Eu pergunto dando outra mordida e olhando o que ele tinha trago, era um sanduíche com o que parecia um patê de alguma coisa. Depois de dar uma mordida em seu lanche ele me olha com aqueles olhos cor de mel e eu me derreto?? Mas que droga eu acabei de pensar, por favor evitem ler aquela cena eu estou fora de mim devido ao sono.

-Eu tenho uma teoria que as pessoas não podem me dar muita bola, senão eu fico nos pés delas.-Ele toma um gole de um suco verde na garrafinha transparente dele.

-Eu só te dei uma aula calma aí emocionado- Eu sei foi grosso, mas como eu disse eu estava com sono e quando estou assim falo coisas sem pensar e a frase acabou saindo da minha cabeça. Ele vira o rosto e me sinto mal no mesmo instante- Olha eu não queria dizer isso, eu só estou com sono por favor não leva a sério.

-você tá certo, eu sou muito emocionado com tudo- ele estava rindo?- É que você foi a única pessoa dessa escola que fala comigo direito- ele levanta o dedo quando eu ameaço dizer uma coisa- sim, eu sei que você fala comigo porque eu te pago pra te dar aula, mas eu sinto que em algum momento você vai se soltar. Agora já estou indo para não te aborrecer de novo, fica tranquilo eu não vou puxar assunto na sala, pode continuar com a fachada de “odeio todo mundo” de sempre.

Ele saiu e eu fiquei sem saber o que pensar, primeiro me senti mal por ter deixado ele daquele jeito, depois eu pensei aquela velha frase que pode acabar com vidas: foda-se.

Termino meu lanche em paz, fico mexendo no celular vendo o que rolava no Twitter e é entrar dois minutos lá que eu já me irrito com a problematização desnecessária das pessoas. Quando toca o sinal eu vou no banheiro pois era o momento mais vazio, logo quando entro eu ouço vozes grossas e altas.

-Você tá de sacanagem com a nossa cara? Entrou no banheiro errado "amigão" - Diz um dos meninos da minha sala para Bernardo que estava encolhido em uma parte do banheiro por dois garotos.

-Pelo que eu saiba esse banheiro é pra homens e eu sou um homem - Diz Bernardo, ele era bem corajoso pra quem tinha 1,60 de altura e eu admirava isso. Nenhum deles tinha percebido que eu tinha entrado no banheiro.

-Homem só se for nessa sua cabecinha, tira essa calça aí que eu quero ver seu pau- Um deles se aproxima e meus pés se movem antes de mim quando chego perto deles e falo.

-Que lindo, a diretora vai amar ver esse vídeo que eu gravei de vocês dois fazendo bullying dentro do banheiro- Eu falo com o celular na mão, eles se viram rápido e tentam tomar meu celular, mas sou mais rápido e coloco o celular no bolso.

-O Emo aprendeu a falar é? - Olhando de perto para o menino feio na minha frente o nome Gabriel vem a minha mente, acho que era assim que ele se chamava- Você não seria doido de mostrar isso pra Márcia.

-Paga pra ver- Ainda estava baqueado com a palavra Emo, Meus Deus eu usava uma blusa de frio do pikachu até o ano passado e eles me vem com essa.- Vai ser lindo ver vocês sendo expulsos que nem o Roberto ano passado.

-Por favor não- O menino do lado de Gabriel falou, ele me olhava com medo- Meu pai vai me matar se eu levar qualquer bronca da direção.

-Fica quieto Fábio, ele tá blefando igual no truco- Que comparação estranha, mas eu tento manter a pose de quem tava no controle colocando a mão na cintura.
J
-Eu que não vou pagar pra ver--Fábio me olha- O que você quer pra poder sair daqui e não falar nada?.

-20 reais dos dois e que vocês não encham o saco do Bernardo de novo- Eles me olham confusos e com raiva. Fábio alisa os bolsos sem saber o que fazer e Gabriel fica parado.- Só deem um fora daqui e não encham o saco mais.

Os dois saem quase que correndo e eu relaxo, minha postura de corajoso tinha me cansado.

-Uau. Você não precisa entrar nas minhas batalhas Jão- Diz Bernardo me olhando- Eu sei me defender de caras como eles, acontecem o tempo todo.

-Não deveria acontecer né- Eu digo indo para o box pois estava quase para explodir- Mas fica tranquilo eu não gravei de verdade, era só pra botar medo.

-Eu vi que você não gravou, te vi entrando- Ouço a voz dele enquanto estava no outro box.-De qualquer forma obrigado.

-Não foi nada.

Quando saio do box já com minha bexiga vazia vejo que Bernardo estava me esperando, eu não tinha visto como ele estava ficando lindo. Cabelos em corte degradê, pele branca, olhos negros, sua roupa era uma calça jeans rasgada, a blusa da escola e uma blusa xadrez por cima, olhei melhor e vi que seu rosto estava tomando forma e ficando característico, uma sombra de barba estava a espreita.

-Por que paramos de ser amigos? - A frase sai sem que eu perceba, hoje eu estava sem controle nenhum sobre meu próprio corpo.

-Acho que foi sutil, eu estava em um momento estranho da minha vida onde me via vivendo num corpo que eu não gostava e você era intenso demais às vezes…

-É… Eu Lembro- quando mais novos eu era a pessoa mais animada que vocês poderiam imaginar, eu sei é difícil de acreditar. Mas eu via as pessoas se cansando de mim, sentia que elas odiavam meu jeito e assim passei a me controlar mais e a ficar na minha.

-Olhe para nós dois agora, duas pessoas totalmente diferentes não é? - trocamos olhares e quando o olho vejo nossos momentos antigos, mas não sinto saudade, acho que isso é crescer.

-Com certeza. - Não sabia mais o que falar, lembrar de coisas do passado não era algo que eu gostava e minha cota de socialização tinha acabado logo depois que aqueles meninos saíram do banheiro-- Eu tô atrasado, até mais.

Saio do banheiro quase que correndo, percebi que estava chorando só quando a lágrima escorreu pela minha bochecha. Eu afastava as pessoas sendo animado, eu afasto as pessoas sendo chato. Não sabia o que fazer, quem ser e nem como viver…

Inexplicável (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora