Inexplicável (Romance gay)

Inexplicável

-MEU DEUS EU NÃO TENHO UMA ROUPA- Grito olhando para meu armário velho que estava sem uma porta. Melissa que estava deitada na minha cama mexendo e tendo que aguentar todo o meu drama apontou para o meu macacão de jardineiro.

-Essa é linda e eu nunca te vi usando desde que comprou. Pensei que amava essa roupa.

-E eu amo, mas isso vai ser um encontro. Não sei o que é o normal para se vestir em um encontro , tem que ser algo sexy e ao mesmo tempo certinho demais para eu não parecer oferecido, mas parecer oferecido ao mesmo tempo porque quero uns beij…

-João fica se acalma meu deus- ela joga o celular na cama e pega o macacão- Vai ser isso com uma blusa preta por baixo, vai ficar lindo. Posso ir? eu estava no meio da minha serie.

-Nossa como você é insensível- Resolvo usar a ideia dela e estou tão ansioso que minha barriga dói, demorei um pouco mais no banheiro por isso.

                                              +++

Uma hora depois estou de jardineiro com uma blusa de moletom na cintura pro caso de fazer frio, dobrei a calça para ficar mais ou menos na minha canela e coloquei um tênis all star (porque all star combina com tudo, de acordo jornal eu mesmo).

Pego o ônibus durante todo o caminho tento me distrair com bobagens no twitter, o moço que estava ao meu lado devia estar agoniado com o tanto que eu me mexia ao lado dele. Antes de eu descer recebo uma localização em tempo real do Luan ele estava bem no meio do parque aparentemente.

Desço do ônibus e vou em direção a um monte de luzes penduradas nas árvores, quando vejo tem um caminho formado só por essas lâmpadas presas nas árvores. Se não fosse pelo tanto de gente indo em direção as luzes eu diria que Luan faria um flash mob aqui com dança e tudo mais só para me pedir em namoro, mas aparentemente era uma exposição. Vejo Luan no centro da exposição, tem vários quadros espalhados por todo local, alguns no chão e outros pendurados em árvores.

-Não tem um segurança ? E se alguém roubar as obras?.- Digo dando um susto em Luan que pula, ele estava mexendo no celular. Meu coração bate forte, ele estava tão lindo.

Ele estava usando uma blusa de star wars por baixo de uma camiseta de flanela verde, uma calça jeans e tênis branco da adidas. Como eu disse, lindo.

-O nome da exposição é “A maldade humana”, então se roubarem as autoras vão ter concluído o objetivo dela- Ele coloca o celular no bolso e dá um assobio alto- Elas aliás são minhas amigas.

Vejo duas pessoas virem em nossa direção, duas meninas. Uma ruiva com sardas salpicadas pelo seu rosto, um vestido branco de renda e cabelos grandes em uma trança. A outra totalmente o oposto, cabelos curtos loiro e com mechas roxas, calça jeans e blusa preta com caveira. Eram totalmente uma o oposto da outra.

-Meninas esse é o Jão- Luan me chama assim pela primeira vez e aponta para ela- A ruiva se chama Rafaela e…

-O loiro- Ele diz e eu percebo o meu erro ao descrever as duas pessoas, me perdoem. - Me chamo Alex. Então você é o famoso joão? não aguentava mais ouvir falar de você, Luan é um cara tão chato quando ta apaixonado.

Eu fico corado e olho para luan que também não sabia o que dizer.
-Alex voce é muito insensivel- Diz Rafaela- Perdoem ele, ele está uma pilha de nervos porque é nossa primeira exposição. Temos que falar com os outro convidados, mas já já voltamos e vamos fofocar- ela empurra Alex para longe batendo em sua nuca.

-Alex é Genderfluid- Ele diz tirando a pergunta que eu queria fazer da minha- E muito estressado, vem vamos dar umas olhadas nas artes.

Ele segura minha mão entrelaçando nossos dedos e é nesse momento que percebo a nossa diferença de altura, o aperto fica um pouco desconfortável, mas não serei eu que tirei minha mão da dele. Ele me guia por algumas obras, algumas mostrando árvores queimando, outras com rios poluídos e quando vamos para outra área começam a aparecer artes abstratas que não faziam sentido nenhum na minha cabeça, eram misturas de vermelho, verde e marrom, tinha também dois pontos grandes em branco. Eu sou burro por não entender o conceito?.

-Essa arte simboliza a morte de indígenas pelas mãos de madeireiros- Sim, sou burro. Olho de novo para a pintura e percebo que as partes marrons estão em cima das vermelhas como se estivessem jogadas de qualquer jeito.

-Como você sabe disso só de olhar??-Eu estava espantado.

-Alex me mandou essa quando ela acabou - Ele ri da minha cara- E também é o nome do quadro- Ele aponta para uma plaquinha minúscula que falava a mesma frase que Luan tinha dito. O Argumento de eu ser burro ainda continua.

Passamos por outros muitos quadros e o lugar começou a ficar cheio de gente, fiquei me perguntando se o resto grupo de Luan apareceria. EM certo momento falei isso a ele.

- Não, acho que eles não vem. Estamos brigados- Ele fica sem jeito e nós sentamo em um  banco ali perto- Eu meio que saí do projeto, não estava mais aguentando o que eles queriam para o futuro e decidi que não tinha mais lugar pra mim ali.

-Ainda bem, dava pra ver que todas as ideias deles eram péssimas- Luan gargalhou e botou a mão na barriga.

-Se eu te contar que aquelas fotos de nós em um hospital infantil foi o máximo que consegui fazer eles fazerem você não vai ficar surpreso né.

-Nem um pouco- Nós dois rimos e de repente estamos mais perto, ele olha em meus olho e toca meu queixo.

-Você tá tão lindo- E quando seus lábios tocaram os meus seu celular apitou alto.- Bosta… ah alô? Bia?...Sério? estou feliz por vocês...ta tudo bem vão ter outras oportunidades.

-O que rolou?- Meu ouvido de fofoca aumenta.

-Uma crítica de arte estava passando pelo parque e decidiu para aqui e olhar, Bia e Alex vão ficar presas ali mostrando tudo pra elas.

-Ah que ótimo, espero que recebam uma crítica boa- eu digo e me aconchego perto dele- Onde nós estávamos?.

Ficamos nos beijando naquele canto por um bom tempo até perceber que estavam ambos com fome. Eu o levei para um dogão ali perto que eu conhecia, era simplesmente perfeito. Enquanto o moço fazia eu via Luan olhando a preparação.

-Amor ele ta colocando um monte de coisa, parece ate uma pizza. E se ele colocar carne?- Ele tinha me chamado de amor?.

-Amor?- Ele ficar com vergonha quando percebe o que disse - Ele é paulista, por isso as pessoas gostam dele. É  barato e cheio de coisas. Fica tranquilo pedi pra ele tirar o queijo e perguntei se tinha outra salsicha, ele disse que tinha uma de tofu.

Enquanto comíamos percebi que Luan não tinha jeito de comer um cachorro quente, ele tentava morder e começava a cair um monte de coisas. Eu apenas fiquei rindo da situação. Terminamos e Luan acabou que não terminou de comer porque achou um pedaço de bacon na comida e imediatamente parou.

-Bacon é uma delícia, mas infelizmente estou triste por estar comendo um porco- Aliás eu terminei de comer o cachorro quente dele.

Dando mais voltar para enrolar a volta pra casa eu sinto que não queria ir embora, poderia ficar ali pra sempre. Estávamos de mãos dadas caminhando pela ciclovia e a noite estava tão linda que quando vi ja estava dizendo.

-Sabe aqueles quadros do Alex?- Ele se vira pra mim e assente- Eu imaginava que se apaixonar era mais ou menos aquilo, algo sem sentido e totalmente inexplicável que acontecia com as pessoas. Mas ai do nada você aparece e me explica que eu estava errado em me guardar sozinho e isolado jogando, você acende a luz em mim e eu percebo que o que eu via como algo sem sentido tinha sentido, mas eu era besta demais para ver com meus próprios olhos.

-O que você quer dizer com isso?.

-Quero dizer que sou totalmente apaixonado por você, quase tanto como Solo amava a Leia. Você quer namorar comigo?.- Ele me pega no colo e roda gritando.

-SIM- E logo depois me solta no chão, os dois estão rindo como duas crianças.

Não sei ao certo se isso vai durar ou não, eu quero viver o momento e no momento meu mundo é Luan. O que vou enfrentar mais pra frente ninguém sabe dizer, tudo faz parte desse mundo Inexplicável que eu vou aprender a entender.