Me perdoa

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Bárbara - POV

Era tão estranho vê-la na minha frente de novo. Ela tinha mudado pouco, mas eu não conhecia mais nada dela nesse ultimo ano, a não ser o que saia nas revistas e blogs, mas aquele olhar que me deixava sem palavras, continuava igual. Aqueles olhos castanhos que são capazes de te fuzilar e, são como janelas, que através deles/as, você enxerga o mundo inteiro. Eu me sentia tão mínima agora, esses poucos minutos dela na minha frente pareciam passar mais lentos do que nunca. Eu fui burra, eu a deixei, eu fugi, e nunca deveria ter deixado isso acontecer. Fui covarde e nunca tive coragem de tentar, ao menos tentar voltar atrás e fazer com que as coisas entre nós duas dessem certo, e agora, as marcas das minhas escolhas e a dores, estavam presentes em mim e nela. Eu estava imóvel, e talvez se não fosse pela enfermeira Márcia, eu não teria movido um músculo, assim como Bianca. — Dra. Labres, esta é Mari, a nova paciente.

— É um prazer, Mari. Seja bem-vinda. Vamos iniciar a consulta? Podem entrar. — A paciente sorriu, mas sua acompanhante não. Manu. Quanto tempo que não a via também, nós sempre tivemos nossas diferenças no passado, e acho que mais do que nunca, agora, ela me odeia de vez.  Não sabia como falar com ela, mas eu precisava lembrar que alí dentro eu era médica e ela apenas a acompanhante da minha paciente.

— Bia, pode ir. Eu pego um táxi depois. — Manu disse e ela não deu uma palavra. Apenas saiu.

Meus olhos ardiam e minha garganta queria gritar. Eu queria ir atrás dela, queria chorar. Queria que a expressão dela não fosse de raiva, de ódio. Mas como não poderia ser? Eu quem devia explicações, mas será que ela sentiu falta de mim? Por que eu morri de saudades todos os dias que estive longe. Mas, eu segui em frente, 1 ano e alguns meses eram suficiente para mudar a vida de alguém, certo? Eu tive uma filha, Lily, o amor da minha vida, e ela foi tudo pra mim, e me ensinou muito em tão pouco tempo. Me ensinou a ser alguém melhor, mas agora eu não tinha mais ela. E perde-la também foi o que me devastou, e foi por isso que eu voltei.

Não voltei na esperança de encontrar Bianca,não faria isso. Voltei para trabalhar em algo diferente, narcóticos e alcoólicos, o trabalho era um refúgio pra mim. Tentar fazer com que meus pacientes pensem de maneira diferente, estudar suas mentes e faze-los sair da realidade sem precisar usar drogas. E ver Manu na minha frente com aquela mulher, me fez pensar tanto, eu não estava sendo uma boa médica naquele momento, eu estava conversando com Mari, mas não conseguia me concentrar em outra coisa que não fosse Bianca. Eu precisava sair um pouco e ir no banheiro, caso contrário eu explodiria.

— Vocês podem me dar licença? Preciso ir ao banheiro. Prometo não demorar. Márcia, por favor, você pode servir um café ou uma água para as meninas? Obrigada. — E então eu sai da sala praticamente correndo.

Bianca - POV

Não aguentei ficar no mesmo ambiente que Bárbara por muito tempo. Se eu ficasse, iria desabar ou chorar feito uma criança. Pior que isso, foi olhar para ela e senti-la da mesma forma. Na situação que eu estava, não conseguiria sair dirigindo, e eu também só queria um canto para ficar sozinha.  Então eu simplesmente sai andando sem rumo, sem uma direção certa, mas queria ir para onde eu pudesse descarregar tudo isso, aliviar minha dor que estava escondida, e agora estava vindo à tona.

Entrei num banheiro e estava finalmente sozinha, pronta para desabar totalmente. Me encarei no espelho, vi meu rosto completamente vermelho e coberto de lágrimas. Eu sentia raiva por estar daquele jeito por alguém que me destruiu, eu queria me machucar de alguma forma, e o que consegui fazer foi arranhar um dos meus braços pro completo, e eu não queria parar, bati com minha mão na pia tão forte que abriu um corte. Agora tudo em mim doía, eu tinha passado dos limites mas nada me importava.

Meu choro era de vergonha, de tristeza, como se eu tivesse chegado ao fundo do poço. Mas por que? Ontem me questionava por Rafaella, e hoje por Bárbara. Eu não sabia porque estava me sentindo daquela forma, apesar do que ela fez comigo eu tinha seguido em frente, não tinha? Eu estava me apaixonando por outra pessoa. Estava? Nada mais era claro na minha mente, e isso me deixava ainda mais apavorada. Rafaella me ajudou tanto, me fez esquecer de tudo por alguns dias, me fez ver o mundo de uma forma melhor. Era amor? Eu não sabia mais o que era. Não sabia se estava me apaixonando pela cupido, ou se tinha apenas tapado o buraco que Bárbara tinha deixado aberto.

Me sentia perdida, se eu pudesse, desejaria me afogar no meu próprio sangue para não ter que enfrentar a realidade ao sair dalí. Como eu encaria Rafaella agora? Era tão mais fácil saber, ou pelo menos pensar, que estava longe...

Respirei fundo algumas vezes e tentei me acalmar mais, olhei para a minha mão ensanguentada e vi que não iria parar de sangrar caso eu não estancasse. Fui em uma das cabines e peguei alguns pedaços de papel para pressionar contra o ferimento;  coloquei a dor da prova da maneira mais estúpida que alguém poderia fazer, meu corpo não era culpado pela minha dor interna, mas eu continuava-o punindo.

— Bia? Meu Deus o que você fez? — Ouvi a voz de Bárbara imediatamente fechei a porta da cabine em que eu estava.

— Vai embora. Me deixa de novo como você fez antes. — Ouvi o barulho de água caindo, provavelmente era ela tentando limpar a sujeira que eu tinha feito. Eu não podia deixar que Bárbara me visse naquela situação, ela não podia ver o efeito que causava em mim, eu não sairia dali de dentro.

— Não vou sair daqui enquanto não falar com você, Bia.

— Deveria ir fazer seu trabalho. Eu não preciso de você aqui, Bárbara. — Não mais. Quem eu queria enganar?

— Fala comigo, por favor.

— Você não teve coragem de dizer que iria embora olhando pra mim, e agora quer que eu fale com você? Acha que tem direito?

— Bia, eu só quero ver se você está bem. Você se cortou, foi isso? Como se machucou? Me deixa só olhar o ferimento, eu já disse que não saio daqui enquanto não falar com você.

— Me deixa em paz. — Gritei e abri a porta, tentei correr mas ela me segurou pelo braço antes que eu passasse pela porta e, a trancou antes que eu pudesse sair do banheiro. Tentei me livrar dos braços dela, mas não consegui. Não tinha forças, eu queria gritar mais, queria me machucar mais, e então ela me abraçou. Me abraçou como se quisesse me curar de uma ferida que ela mesma tinha causado.

Bárbara só me soltou quando eu parei de lutar contra tudo aquilo, contra ela. A encarei com dificuldade, por conta das lágrimas que insistiam em descer sem minha permissão. Ela se afastou um pouco e colocou as mãos no meu rosto, começou a limpar minhas lágrimas e eu fechei os olhos sentindo seu toque. Aquele que eu tanto senti falta.

— Me deixa ver o que você fez.

— Eu dou um jeito nisso sozinha. — Eu disse, tentando ser o mais fria possível.

— Bia.... — Nossos olhares se encontraram novamente, e eu pude prestar atenção no quanto ela estava ainda mais linda. Senti uma súbita vontade de beija-la, e quando nossos lábios estavam quase se tocando, a imagem de Rafaella surgiu na minha mente, impedindo-me de continuar.

— Não, Bárbara. — Falei com a voz enfraquecida e ela se afastou um pouco mais. Ela sorriu e se afastou mais ainda, deu as costas para mim e encarou o espelho. Ela queria dizer algo? Queria chorar? Ela apenas ria, mas eu sentia que era minha vez de vê-la desabar. Não podia dizer que não estava gostando. E então ela chorou, e eu juro que por tudo que é mais sagrado que eu não queria ter visto. Meu coração mais uma vez quebrou. Ainda era manhã, mas será que eu conseguiria chegar inteira à noite?

— Bianca, eu... — Ela tentava falar em meio a soluços. — Por favor, me perdoa. Me perdoa! Me desculpa por tudo. — Ela repetiu e foi como se meu sangue parasse de circular naquele momento. Senti que suas palavras eram verdadeiras, e então foi minha vez de abraça-la.

— Não importa mais,Bárbara. Não importa mais... — Eu falei tentando me convencer de que realmente não importava, e ela chorou abraçada em mim. Eu queria explicações da mesma forma e na mesma intensidade que não queria. Ela simplesmente foi embora como se eu fosse nada. Eu poderia perdoá-la?

— Eu quero conversar com você. Me espera?

— Onde? — Respondi instantaneamente.

— Tem dois balanços no jardim la atrás, perto de uma árvore grande, lá vai ser melhor pra gente conversar.

— Algumas coisas nunca mudam. Estarei te esperando.

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