Esse seria o Fim?

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Rafaella - POV

Eu estava lá, parada no meio da sala de julgamento. Mamãe, Babu, Eros e até Ares, meu pai, estavam sentados bem na minha frente para assistir a tudo. Outros anjos e criaturas também já aguardavam por lá. Era quase como um julgamento humano, nada muito diferente de toda aquela formalidade e decisões sobre a vida de alguém.

Todos levantaram quando o anjo do juízo chegou a sessão, e então começou o seu discurso, falando o que eu havia feito, quais e quantas leis haviam burlado.Ele falava como se eu fosse um ser sujo, impuro, totalmente sem escrúpulos. Mas afinal, o que tinha de tão errado em amar Bianca? Meu amor por ela acabaria com nossos mundos?

- Então, Rafaella- O anjo de barba longa e branca olhou sério para mim enquanto falava. - O que decidirá. Será julgada ou fará uma escolha? Ficará em exílio no tártaro ou irá para o asilo?

Eu precisava escolher, era isso, ou correr o risco de ser um corpo morto, sem lembrança, sem vida, e nunca, nunca mais ter a chance de rever Bianca. Ergui minha cabeça, olhei para meus familiares e Eros já sabia minha decisão, então eu assenti para o mesmo e criei coragem para falar.

- Nenhum, nem outro. Eu estou optando pelo castigo perpétuo. - Disse e no mesmo momento eu pude ver rostos chocados, o grito desesperado de minha mãe e a decepção no de meu pai. Babu chorava, e Eros já não estava mais alí. Para eles, eu tinha decido morrer, e era melhor morrer do que viver minha vida inteira sentindo falta de Bianca.

- Rafa, não faça isso. - Babu gritou enquanto chorava, e meu pai o segurava minha mãe para ela não invadisse o tribunal.

- Me desculpe por isso, mãe e pai. Eu os amo, mas não vou viver uma mentira ou tentar enganar a mim mesma. Eu prefiro ser banida ou morrer. Desculpem por não ser o que esperavam que eu fosse, mas eu já decidi. E por favor, digam ao meu tio que eu odeio as regras que ele criou.

Apesar de ser filha de dois deuses, eu iria beirar a morte, disso eu tinha certeza, pois o que fazem no castigo perpétuo é terrível, e nem mesmo os grandes deuses do olimpo se atreveriam a passar por ele, mas o que me manteria viva seria a genética de meu pai e minha mãe, e pela primeira vez na vida, eu tinha agradecido por isso. Deuses são imortais, mas cupidos não, e essa parte de mim não resistiria.

O juíz então assentiu e, disse suas ultimas palavras após ter se reunido com o conselho, aquelas quais todos me classificavam, mas que a partir daquele dia, nunca mais fariam parte de mim. - Fiquem todos de pé para ouvirem a sentença final: Rafaella, a majestosa, deusa da beleza e da paixão, a segunda cupido do Olimpo,filha de Ares e Aphodite. Eu, o anjo do supremo juízo, condeno você ao castigo perpétuo, em praça pública. Se caso você sobreviver, viverá na terra como um anjo caído, será banida e nunca mais poderá voltar ao olimpo.

Derramei algumas lágrimas quando ouvi suas palavras e o fim de meu destino. Era mais fácil quando eu apenas estava pensando sobre, mas ver minha família em desespero me deixou abalada. Murmurei um pedido de desculpas sincero para eles outra vez, e também disse que os amava. Gostaria de poder abraçar cada um de novo, mas não era mais permitido. Então fui levada da sala de julgamento através de um corredor escuro e silencioso, até uma sala de piscina termal. Eu já sabia o que iria acontecer.

Algumas guardas me despiram totalmente e me banharam, era como um ritual, eu não podia morrer impura. Passaram óleos em todo meu corpo e, pentearam meu cabelo. Vestiram-me com um dos vestidos da minha mãe e pediram para que eu deixasse minhas asas amostra, e então eu o fiz. Me olhei no espelho e deixei que algumas lágrimas caíssem livremente, era a última vez que eu me via daquela forma. Aquele seria meu último momento bom, antes de todo sofrimento acontecer.

Foi chegada a hora, eu mal tinha começado a andar em público e já me sentia morta. As pessoas podiam jogar coisas em mim, me chamar de tudo que quisessem, mas elas não estavam o fazendo, acho que para elas, o meu castigo já era suficiente o bastante.

Eu lembrava das histórias que me contavam sobre passar por um perpétuo, lembro de como falavam que a dor era insuportável, de como eles te cortam e arrancam tudo de você, suas asas. E de longe, para um anjo, essa é a maior dor que ele pode sentir, e com as asas, se vai toda sua essência, toda sua vida e todo seu amor.

Cheguei até a praça central e todos se juntaram ao redor para observar. Eu engoli a seco e assenti, confirmado que estava pronta para começar o processo.

Primeiro, eles rasgaram e arrancaram minhas roupas. Depois, meus pulsos foram amarrados, um de cada lado, com correntes enfeitiçadas, que só me soltariam após todo o processo acabar, ou quando eu estivesse morta.

Terceiro, a primeira dor. Dois guardas com duas barras de ferro quente me marcaram nas costas, como um sinal de impureza. O sinal dos banidos, dos perpétuos.

Quarto, a segunda dor. Sobre minha cabeça havia uma panela com um líquido ardente, ele queimava a pele, tal qual lava , e então começou a ser virado aos poucos sobre meu corpo, um castigo que eu não desejaria nem para o pior ser de todos.

E foi assim com o terceiro, o quarto, o quinto castigo... e por fim, o décimo. O pior. Meu corpo tremia e ardia, ele estava marcado e coberto pelo meu sangue. O que ainda me mantia viva era meu amor por Bianca. Era a única coisa que me restava, já que minhas asas seriam arrancadas agora.

Meus olhos estavam quase se fechando, e eu nunca tinha sentido algo tão ruim quanto isso, entendia perfeitamente porque os seres morriam ao passar pela perpetuidade, mas pelo menos agora, o fim estava próximo.

Senti quando as facas ultrapassaram minha pele, era como se elas quisessem dar espaço para minhas asas saírem, mas elas não sairiam. Então, a primeira pontada veio, e com ela, os meus gritos. Eu permaneci de pé durante todos os castigos, mas esse era insuportável. Caí de joelhos no chão e gritei, eu chorei. Eu seria capaz de aguentar tanta dor?

Uma lágrima escorreu pelo meu rosto ao que lembrei de Bianca, de seu sorriso, da forma como ela me olhava, me fazia carinho, tocava nas minhas asas...Foi quando a segunda pontada veio. Minhas asas estavam sendo arrancadas, pedaço por pedaço. Eu não conseguia controlar meus gritos, eles podiam assustar qualquer um que os ouvissem. Minhas costas estavam pegando fogo, e esse calor começava a passar por toda parte do meu corpo. Lembrei mais uma vez dela.

Bianca. Seus olhos, sua doçura, seu lábios, sua voz, seu corpo, a forma como ela me beijou, a forma como ela me amava

Uma terceira arrancada veio, e nessa eu já começava a perder minha consciência, eu me sentia em outro lugar, me perdendo em qualquer possibilidade que surgisse em minha frente, como se eu estivesse deixando de ser eu mesma. As correntes se esticavam cada vez que eu gritava, e se tornavam mais fortes sempre que eu as puxava para me soltar.

Nossa dança, nossos passeios, nossas conversas, suas mãos entrelaçadas com as minhas, nosso último beijo. Nossa primeira noite de amor.

Fim. Uma quarta pontada nas costas e tudo estava acabado, mais um urro de dor, mais um choro e um grito desesperado. Mais uma parte minha se desfazendo por completo.

Eu estava morrendo? Eu não sei, mas sabia que eu de alguma forma, estava indo embora. Deixando de ser quem eu era. Isso é era um anjo caído?

Bia,meu amor. Se eu estiver morrendo, me perdoe. E se eu não mas, elas estarão sempre em meu coração, e nas minhas veias, como você estará sempre em mim.
Para sempre. Eu amo você, viva bem.

Seu amor, Rafaella.

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