Doutora Bárbara

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Mari - POV

É difícil você ficar completamente limpa

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É difícil você ficar completamente limpa. Quando eu cheguei aqui e voltei a trabalhar, achei que conseguiria sozinha, mas a real, é que nunca sabemos qual vai ser o pior dia da nossa vida. Não sabemos se será apenas um ou milhares, e você não vai saber até estar vivendo-os de fato. Será que eu conseguiria aguentar a barra e resistir? Será que eu conseguiria manter meu emprego e as únicas pessoas que eu amava/tinha por perto? Eu tinha quase certeza que não. Eu não iria conseguir, e ia me afundar novamente, e nunca mais recuperar minha vida.

Minha cabeça doía, e meu peito ardia, eu precisava, não aguentava mais, então parei de lutar. A morfina que entrava no meu corpo conseguia me deixar mais calma, saciada. Todos me julgariam, talvez, ou passariam a me odiar, e meu medo era perder Bia de novo, e agora, Manu também. Decepcioná-las me fazia morrer um pouco mais, a cada vez que pensava no olhar delas sobre mim. Era insuportável a ideia de estar sozinha de novo, mas tudo que eu sempre consegui na vida, foi afastar as pessoas, eu acho que sou o próprio Karma.

Meu mundo e minha vida passavam diante dos meus olhos em câmera lenta, tudo estava em câmera lenta. Não sabia se chamava Bia ou Manu, eu estava perdida e receosa, não queria pensar na possibilidade de me afastar de Manu, não agora, não mais. Eu já estava presa a ela, com aquele fio vermelho das lendas, eu estava apaixonada demais para estragar tudo, e apesar dela saber que ela saberia depois, não queria que me visse nessa atual situação. E então, meu único resquício de razão me fez mandar mensagem para Bia.

— Está  tudo bem, está tudo bem. — Ela dizia enquanto tirava a seringa do meu braço, que agora sangrava. Eu não tinha ação, reação, não conseguia dizer uma palavra sequer além de chorar. Queria que aquilo tudo fosse apenas um pesadelo, queria ter sido forte suficiente para aguentar. Queria que a dor não fosse real, mas ela era e eu queria pará-la. Precisava que ela parasse se quisesse seguir minha vida de novo, e dessa vez, com alguém do meu lado.

— Bia, me ajuda, por favor.

— Ei, ei, eu tô aqui. Vai ficar tudo bem. — Ela me aconchegou em um abraço terno, e minhas lágrimas molhavam sua roupa agora. Como se elas conseguissem lavar minh'alma.

— Me leva pra reabilitação. Eu não posso mais estar assim, não quero mais. Não de novo, eu já perdi tudo que eu tinha, não quero perder outra vez e ter recomeçar sozinha. Não quero me afastar da Manu, e não quero me desligar de você mais um vez. — Tive coragem de levantar minha visão e olhar em seus olhos. — Eu preciso que alguém me ajude.

— Eu vou ficar com você, eu e Manu, tá me ouvindo?  Ela precisa saber disso, você não acha? — Eu não queria, mas não deveria e nem podia começar um relacionamento com mentiras, eu tinha que ser franca e transparente com a mulher que eu amava. Então assenti com a cabeça, dando permissão

—Vamos fazer o seguinte: eu vou ligar pra Manu vir, não vou falar nada pra não deixar ela nervosa. Você vai tomar um banho e eu vou arrumar suas coisas enquanto ela não chega aqui, ta bem?

Outra vez concordei, e então parti para o banho, enquanto Bianca ficou arrumando minha mala para a internação. Acho que nós duas sabíamos que não seria um processo fácil, eu já tinha passado por ele uma vez, e a desintoxicação é a pior parte, sem dúvida, uma das piores sensações da minha vida. Mas agora, o choque da realidade havia batido na porta. Manu acabara de chegar e por ela, e para ter um vida ao seu lado, eu enfrentaria qualquer coisa.

Narrador - POV

Após uma longa conversa cheia de choros, Mari, agora mais do que nunca, tinha certeza que sempre podia contar com as duas, e nem Manu, nem Bianca, jamais desistiriam dela. As mulheres partiram para uma das melhores clínicas da cidade e, assim que chegaram lá, fizeram questão de conhecer o local, era enorme e parecia bastante aconchegante, lá havia um jardim enorme, um solar e um pátio incrível. Parecia um ótimo lugar para ficar alguns meses.

Após elas terem terminado a ''excursão'' pelo local, as enfermeiras levaram Mari para se trocar, e Bianca e Manu ficaram a sua espera do lado de fora do quarto, perto de onde seria a primeira consulta da nova paciente.

— Minha roupa é ridícula! — Mari disse ao abrir a porta, vestida com uma espécie de pijama, de cor amarela, bem pastel.

— Mentiu, pois você está adorável. — Manu comentou com os olhos marejados.

— A Manu não mente. — Bianca  concluiu, e por fim, as três e a enfermeira seguiram para a sala de consultas pelo corredor. — É nesta sala aqui, sua primeira consulta do dia será com a Dra. Barbara. — A enfermeira apontou para a próxima porta e Bianca parou de andar. Manu a olhou quase que instantaneamente, Mari não estava entendendo o que era aquilo.

Mas poderia ser qualquer outra Bárbara, certo? Bianca precisava ter certeza de que era quem ela pensava, e então continuou a caminhar.

— Bia, você tem certeza que quer fazer isso? — Manu perguntou a amiga, mas ela não respondeu. Ao chegarem na porta, Bianca desejou que o chão abaixo de seus pés sumissem. Em letras grandes na porta dizia: Dra. Bárbara Labres - esp. psiquiatria.

Bianca se afastou, mas continuou com seus olhos fixos na porta. Então ela voltou-se para Mari. — Escuta, você nunca vai estar sozinha, okay? Se puder receber visitas eu sempre vou estar aqui, e quando sair, eu e Manu vamos estar na porta te esperando. Mas agora, eu preciso sair daqui. — Bianca sorriu triste. Ela deu um beijo na testa da amiga, e durante o abraço de despedida a porta do consultório fora aberta.

— Quem vai acompanhar a paciente? — A médica estava alí, na porta. Bianca tentou retomar o ar, mas era difícil. E Manu tomou a frente da situação. — Eu.  Bianca, vai pra casa, amiga.

Elas estavam frente a frente, e agora era tarde demais para evitar que o pior acontecesse. Bárbara encarou Bianca, que ficou perdida em seus pensamentos. E ninguém sabia o que iria acontecer dali em diante.

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