Ela é uma de vocês agora.

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Bianca- POV

Em menos de 10 minutos Miguel estacionou o carro na frente do prédio e eu entrei rapidamente junto com Pyong. Primeiro, ele meteu 568 perguntas na minha cara e depois perguntou com quem eu estava falando no banco de trás. KK (gritos internos) foi fácil explicar pra ele e convencer-lo de que havia um deus no banco do carro, e ainda mais, toda a história em volta da situação que eu tinha me metido. Pedi a Pyong que por favor aparecesse, pois eu não queria passar por louca. E então, quando o cupido o fez, Miguel se convenceu de que toda a história era verdade.

— PISA FUNDO AI, MIGUEL. — Pedi enquanto ele dirigia rápido, mas ainda olhava incrédulo para o caminho em sua frente.

— Depois você vai me contar toda essa história direito, Bia.

— Eu prometo! Mas agora precisamos achar a Rafaella, Eros, como vamos fazer isso?

— Espera aí, é Pyong ou é Eros? — Miguel perguntou confuso, e eu quis dar um socão nele. — Os dois.

— Bom, eu espero que o dispositivo rastreador que eu coloquei nela funcione.

Aqui a localização. — Ele esticou o braço mostrando seu relógio, igualzinho ao que Rafa tinha, com um holograma do google maps, indicando que a cupido estava em movimento.

— Então, pra onde eu devo seguir?

— Espera, ela está andando. Eu acho que ela vai para ponte, Miguel. A Arlington Memorial, não é longe daqui. Acha que chegaremos antes dela arrumar confusão?

— É pra já. — Miguel ligou o som do carro e colocou Young the Giant nas alturas. — A gente chega em 3 minutos. — Então ele arrancou mais rápido ainda. Agradeci por já ser um pouco tarde e não ter tantos policiais rondando, porque se tivesse, meu amigo com certeza perderia a carteira.

Ele quase bateu o carro 2 em postes.

— Por Zeus, a gente vai morrer! — Pyong gritou do banco de trás.

— Isso é uma aventura e tanto, sr. Eros.

— Dá pra vocês dois se concentrarem? Eu tô aflita. — Se eu pudesse, jogaria os dois pela janela e iria sozinha. Por que os homens são assim?

— É ela, Bia. Ela está na ponte.

— Onde? Eu não vejo nada. — Miguel afirmou. — Mas eu vejo. Ela está lá. Encosta por favor. — Aquela altura meus olhos já estavam marejados, por tudo que era mais sagrado, eu só queria abraça-la e poder dizer que tudo irá ficar bem.

Eu e o cupido saímos do carro enquanto Miguel procurava uma vaga para estacionar. Eu corri e Pyong me acompanhou. Eu não sabia como, mas naquele momento não havia mais ninguém na ponte. Aphodite, se for você fazendo isso por sua filha, obrigada.

E então eu a vi mais de perto. Havia muito de seu sangue espalhado por seu corpo e em suas vestimentas, nas suas costas haviam marcas e cicatrizes enormes, onde antes tivera asas. Rafa parecia estar em outro mundo, muito distante deste. Ela estava em pé, na beirada da ponte. Ela não se jogaria, certo?

— O que eu faço?

— Tenta falar com ela, eu não sei como ela reagirá, mas saiba que eu não vou deixar nada de mal acontecer... eu espero.

— R-Rafa — Apenas a chamei, mas não me aproximei mais. — Rafaella. — Disse mais firme, mas continuei sem resposta. Ela conseguia me ouvir ainda?

Ela nem lembrava do próprio nome...

Ela virou o corpo em minha direção, mas parecia mais curiosa, do que alguém que atendeu a um chamado. E então nós nos olhamos, e tudo que eu consegui pensar foi na ultima vez que tínhamos feito aquilo, de como seu olhar me manteve segura enquanto eu adormecia em seus braços.(aquilo tinha mesmo acontecido fazia menos de 24hrs?) Mas agora era diferente, seus olhos estavam vermelhos e me encaravam com ódio, escuridão. Parecia não haver mais nenhum traço da minha Rafa naquele ser.

— Rafaella, meu amor, sou eu, Bianca. Você lembra? Consegue lembrar de mim? — Por uma fração de segundos, eu pensei que ela fosse reagir, se lembrar e que tudo iria se resolver, mas isso aqui não é um conto de fadas. Parecia mais um filme de terror.

Eu virei de costas para chamar por Pyong, acho que ele deveria seguir com o plano que eles tiveram antes.

— BIANCA, CUIDADO. — Pyong disse, e antes que eu pudesse reagir ou ter noção do que estava acontecendo, Rafaella envolveu seu braço em volta do meu pescoço, me puxou para trás e girou meu corpo. Ela me deixou frente a frente com ela, fazendo com que eu encarasse aqueles olhos profundos. E, novamente, eu pensei que ela lembraria, mas eu estava errada.

Rafaella começou a me enforçar, e eu estava parando de respirar ao poucos. Sua força era incomum, eu não conseguiria me livrar nem que quisesse. Pyong partiu para cima dela, mas ela conseguiu o conter apenas com um braço. Quando ela tinha virado um monstro?

— Bia,tenta não se mexer. Por favor. — Eu ouvi a voz do Pyong ao fundo, longe... eu não sabia o que ele iria fazer, mas esperava que funcionasse.

Me desculpa, Rafa. Desculpa ter te transformado nisso.

Então, antes que eu fechasse meus olhos de vez, ela me soltou. Eu não vi nada, não entendi nada, mas já estava feito. Eu cai no chão tossindo com a mão em meu pescoço, Miguel se aproximou e me ajudou a levantar.

Procurei por Rafa e ela estava com um corte grande no peito e sua aljava na mão. Tudo na minha cabeça pareceu ficar em câmera lenta. Foi como se ela ainda estivesse me enforcando, eu perdi todas as minhas forças ao vê-la no chão com duas flechas enfiadas em seu peito, atravessadas em seu coração por trás, apunhalada pelas costas. E foi como se tivesse atingindo a mim também.

— Eu tive que fazer, eu prometi a ela que tentaria. — Pyong disse chorando. — Meu sangue pode salva-la ou matá-la. — Ele se aproximou para olhar a irmã, e eu me curvei para segura-la em meus braços.

— Rafa. RAFAELLA , POR FAVOR, VOLTA MIM. — Seu corpo todo começou a convulsionar. — Rafa, volte, eu preciso de você.

— Eu to vendo ela, Bia. — Lincoln disse. Então, percebi que as flechas de Eros haviam desapareceram como mágica, e eu chorei desesperadamente. No lugar no sangue quase preto-azul, agora, havia uma enorme poça vermelha. Rafa estava se afogando no próprio sangue. No novo sangue.

— Ela é uma de vocês agora. — Pyong concluiu.

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