CAPÍTULO XXX

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A DERROTA DE BABÁ

Babá não sabia o que dizer ante a história de Malévola. As duas estavam em silêncio quando Hudson entrou na sala. Ele carregava uma bandeja de prata com um pergaminho minúsculo nela.
– Com licença, senhora, mas uma mensagem acabou de chegar com uma coruja. É de Circe. – Ele levou a bandeja até Babá, que apanhou o pergaminho.
– É só isso, obrigada, Hudson – agradeceu Babá. Ao ler a mensagem, não teve como refrear um leve arquejo.
– O que foi? – Malévola perguntou. – Ela encontrou o feitiço?
Babá não respondeu de pronto.
– O que foi? – Malévola insistiu.
– Sim, ela encontrou o feitiço – Babá respondeu.
Malévola sorriu.
– Então ela está a caminho para nos ajudar? Eu sabia que se ela lesse o feitiço, ela entenderia e concordaria em me ajudar.
Babá sacudiu a cabeça.
– Não, ela não está vindo.
Malévola se levantou com o rosto verde de raiva.
– Por quê? Por que ela não virá?
– Porque, Malévola, ela não pode. Ela não está aqui. A casa das irmãs esquisitas levantou voo e mudou de localização.
Malévola se lembrou de ter falado a respeito disso com as irmãs esquisitas há muito tempo, mas pensou que não passasse de devaneios, como elas sempre faziam.
– Sim, elas mencionaram que havia um feitiço de proteção na casa. Eu havia me esquecido por completo! Maldição! Eu deveria ter me lembrado! – Malévola começou a andar de um lado a outro na sala, com o manto esvoaçando atrás dela e a raiva crescendo. – Precisamos de Circe. Precisamos dos poderes dela para romper o adendo das fadas boas à minha maldição. Não conseguiremos efetuá-lo sem ela. Precisamos de três!
– Malévola, acalme-se! Ainda não entendo por que amaldiçoou sua própria filha à morte! E, para ser franca, não creio que nada do que você possa dizer a Circe a convencerá a ajudá-la com isto! E não entendo por que…
Babá se conteve. Estava se familiarizando demais a Malévola, aproximando-se. Percebeu que poderia estar à margem de algum limite se completasse a pergunta.
– O quê? Por que abandonei minha filha? Por que disse às irmãs esquisitas que entregassem-na a você? Não entende? Tenho que lhe explicar tudo? Não viu o que aconteceu com as irmãs esquisitas no decorrer dos anos? Não detectou uma mudança em mim? Sei que sim. Sei que consegue sentir. Sei que já não sente amor por mim. Porque eu entreguei o melhor de mim para Aurora! As minhas partes que você amava. Eu as entreguei. Não resta nada de bom em mim. Ela tem tudo, e antes que meu coração ficasse verdadeiramente corrompido, antes que eu me perdesse por completo, decidi abrir mão de minha filha. Eu me senti me perdendo aos poucos, dia a dia. Senti que me tornava oca e fria. Não sentia amor por ela, então quis que você a tivesse. Quis que você cuidasse dela. Quis que você tivesse o melhor de mim a fim de ter sua filha de volta, mas você a deu! Você a entregou para aquelas fadas horríveis, mesmo depois de tudo o que elas fizeram comigo! Você me fez sofrer muito mais do que qualquer coisa que eu já tivesse vivenciado. Mesmo quando pensei ter perdido você, mesmo enquanto permaneci sozinha por todos aqueles anos, a dor não se comparou à que senti quando você deixou minha filha com aquelas fadas horrendas!
Babá estava de coração partido.
– Eu não sabia! Ah, Malévola. Sinto tanto. Se eu tivesse sabido da verdade, eu jamais a teria dado. – Babá olhou triste para Malévola, obrigando-se a reunir coragem suficiente para lhe perguntar mais uma coisa. – Malévola, ainda não entendo o motivo de você ter amaldiçoado sua filha à morte.
Os olhos de Malévola cintilaram de raiva.
– Ah, você sabe. Olhe dentro do seu coração. A resposta está aí. E se não souber de verdade, então a culpa não é minha. Você tem o poder de enxergar o tempo. Poderia ter descoberto cada parte da minha história, caso desejasse! Você poderia ter me ajudado quando bem quisesse.
Babá sabia que Malévola estava certa. Não poderia argumentar nada em sua defesa.
– Você tem razão, Malévola. Sinto muito, mas agora temos que salvar a sua filha. Você não pode deixá-la dormindo para sempre naquele castelo. Não é tarde demais nem para ela nem para você.
– Então você não sabe mesmo. Se soubesse, não teria me pedido isso. Não posso permitir que minha filha desperte. Não vê…
Mas antes que Malévola pudesse concluir, ouviu um coro de gritos e de arquejos. A Fada Madrinha, Flora, Fauna e Primavera estavam paradas à soleira, com expressões chocadas.
– Você é a mãe de Aurora? – a Fada Madrinha perguntou.
– Nós não sabíamos! – Flora exclamou.
– Ah, Malévola! Não é à toa que nos odeia! – Fauna arquejou.
– Sinto muito! Desculpe por não a termos convidado para o batizado! Ah, Malévola! Consegue nos perdoar? Nós não sabíamos – Primavera disparou a falar.
De repente, tudo fez sentido. Tudo se encaixou. Mas as três fadas boas tinham que proteger Aurora – tinham que proteger a Rosa delas.
Não poderiam permitir que ela caísse nas mãos da Fada das Trevas, mesmo que ela fosse sua mãe.

Malévola: A Rainha do MalOnde histórias criam vida. Descubra agora