CAPÍTULO XXXVI

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A IRA DE CIRCE

Lucinda sabia que não havia nada a fazer para salvar Malévola. Estava acabado. Nenhum feitiço a traria de volta à vida, e não havia corpo algum para ressuscitar. Não restava nada da Fada das Trevas. Olhou para as irmãs no chão e resolveu não acordá-las. Estava exausta demais para lidar com a dramaticidade inevitável que tomaria conta das Terras dos Sonhos quando as irmãs soubessem que a Fada das Trevas perdera a batalha contra o Príncipe Felipe. A única coisa que confortava Lucinda era saber que Malévola finalmente estaria livre do tormento – que nos seus momentos finais ela estivera feliz, porque aceitara quem de fato era.
– Não! – Circe gritou em um dos espelhos.
Lucinda girou ao redor, em frenesi, procurando a filha.
– Estou bem aqui – Circe estrepitou, encarando Lucinda no espelho à extrema direita.
Lucinda nunca vira Circe tão brava, e tão triste.
– Minha querida! Estou feliz em ver você – Lucinda disse.
– A morte de Malévola é culpa sua! O feitiço maligno não teria funcionado se ela não tivesse aceitado seu lado mau! Vocês se meteram nas vidas de pessoas demais. Causaram mortes demais. Destruição demais!
– Nós só queríamos ajudá-la, Circe! Nós lhe demos alguém para amar!
– E para isso vocês a destruíram. Tiraram tudo dela e deram para a menina deitada no chão! Malévola só passou a ser má depois que vocês fizeram o feitiço para criar Aurora, assim como se destruíram ao me criar!
Lucinda meneou a cabeça.
– Circe, não! Você não entende!
– Entendo tudo, mãe. E se você deseja voltar a andar no mundo dos despertos e me ver em carne e osso uma vez mais, você apagará as lembranças dessa garota. Você se certificará que Aurora não se lembrará de nenhum dos últimos acontecimentos. Nenhum! E deixará de atormentar Branca de Neve em seus sonhos! Está entendendo?
– Sim, eu entendo – Lucinda disse com sobriedade, levando a filha a sério.
– Agora, me diga, você acredita que Aurora tenha herdado os poderes da mãe? – Circe perguntou.
Lucinda pensou nos maiores atributos de Malévola. E seus poderes estavam entre eles.
– Bem, minha querida filha, você herdou os nossos poderes. Tenho que concluir que Aurora tenha herdado os da mãe também.
– Entendo. – Circe pareceu pensar, imaginando o que fazer.
Lucinda suspirou.
– Não era assim que a história deveria ter terminado.
– É exatamente como a história deveria ter terminado. É o único modo como poderia ter terminado a partir do instante que você e suas irmãs invadiram a vida de Malévola! Vocês destroem tudo em que tocam! Vocês são correntes de destruição detestáveis, arruinando tudo o que lhes aparecer pela frente!
Lucinda estava atônita. Apenas continuou parada, deixando que as palavras da filha a cobrissem como um dilúvio de tristeza.
– Voltaremos a nos ver um dia?
Circe olhou para a mãe.
– Se fizer o que lhe pedi, levarei isso em consideração. Se não, então não, nunca mais me verá!
– Farei o que me pede. Mas você terá que fazer o feitiço para refrear os poderes de Aurora. Não sou forte o bastante, não aqui. Faça isso logo. O príncipe está a caminho do castelo. Ele está prestes a despertar a princesa adormecida com seu beijo. Procure no Livro dos Contos de Fadas e veja o objeto que precisa usar para completar o feitiço. Encontrará o espelho no meu quarto.
Circe queria fazer muitas perguntas à mãe. Queria saber como Lucinda sabia dessa parte da história que estaria no Livro dos Contos de Fadas. Queria saber se as três temidas tinham enfeitiçado o livro. E também queria saber o que acontecera a Ruby e a Martha. Mas não havia tempo. Precisava neutralizar os poderes da princesa.
Circe faria esse último esforço por Malévola. Garantiria que Malévola não havia morrido em vão.
Lucinda gesticulou para apressá-la.
– Vá, filha, agora! Eu cuidarei de tudo aqui. Vá e faça a sua magia.

Malévola: A Rainha do MalOnde histórias criam vida. Descubra agora