CAPÍTULO XXI

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EXAME DAS FADAS

Todos estavam reunidos para o exame no jardim principal, que por acaso era um dos lugares prediletos de Babá nas Terras das Fadas. A estátua na fonte fora feita à imagem de um velho amigo dela, o Rei Oberon – uma árvore grossa e imponente com um rosto sábio. A água cascateava dos galhos amplos da estátua, imitando a chuva. Babá olhou para a filha com orgulho enquanto ela permanecia parada debaixo da estátua altaneira, à espera do início da prova. Ela estava majestosa em seu manto novo. Malévola cobrira os chifres com fitas prateadas que Babá lhe dera, e que combinavam com os corvos bordados no manto. Babá pensou que Malévola parecia quase adulta, e seu coração se inflou de orgulho em ver que jovem inteligente e adorável a filha se tornara. Nunca imaginara que Malévola fosse querer fazer o exame das fadas. Mesmo que a irmã não a escolhesse para conceder desejos, pelo menos Malévola fora corajosa o bastante para fazer o exame com as outras alunas depois de tudo o que elas a submeteram quando eram mais novas.
Primavera estava dando ordens a Fauna e a Flora, como de costume. Instruía-as quanto à importância de as três passarem juntas enquanto aguardavam que o exame começasse.
– Ah, Malévola, o que faz aqui? – perguntou Primavera com o nariz enrugado como se estivesse sentindo o cheiro de putrefação.
– Vim fazer o exame, claro – Malévola respondeu, fingindo que Primavera e as outras fadas ao seu lado não estavam fazendo caretas na sua direção. Malévola perscrutou ao redor, imaginando o motivo de o resto da classe estar de lado.
Flora seguiu o olhar de Malévola.
– Ah, elas não irão prestar o exame. Só estão aqui para nos assistir.
Malévola franziu a testa.
– Mas por quê?
– Porque sabem que não têm a mínima chance já que nós estamos fazendo o exame este ano – Primavera disse enquanto Fauna e Flora davam risadinhas.
Malévola sacudiu a cabeça. Ao que tudo levava a crer, o tempo não mudara as três. Eram as mesmas tolas arrogantes e orgulhosas de sempre.
– Mesmo se não receberem o privilégio da Concessão de Desejos, por certo elas irão querer o certificado de conclusão de curso, não? – Malévola comentou.
– De que serve um certificado se você não poderá exercer a mais honrada das tarefas das fadas? – disse Fauna, causando riso nas três fadas.
Nesse instante, a Fada Madrinha pigarreou para chamar a atenção de todos. Estava diante da fonte para se dirigir ao grupo. Trajava o costumeiro manto azul com uma ampla faixa cor-de-rosa. Atrás dela havia lindas cerejeiras em flor, com suas pétalas suaves caindo ao redor dela e das alunas.
– Venho aqui hoje sob a sombra do Grande Oberon, Rei das Fadas. Ele foi nosso grande benfeitor e protetor por muitos anos, até achar por bem passar para a obscuridade, deixando a mim e à minha irmã a tarefa e o privilégio de dar continuidade à educação das fadas.
Malévola casquinhou internamente. Na verdade, Oberon deixara essa honraria somente a Babá, mas ela decidira dividi-la com a irmã.
– E é meu privilégio mais uma vez escolher as três alunas que se aventurarão nos muitos reinos para espalhar a magia das fadas a fim de ajudar seus afilhados, homens e mulheres jovens necessitados do nosso tipo especial de magia. Quando eu era uma jovem fada à espera do exame, meu coração farfalhava ao pensar em ter os sonhos das pessoas nas mãos. Essa é uma grande responsabilidade, e uma honra que não pode ser conduzida levianamente. Somente as melhores de nós recebem esse status, aquelas de nós que são de fato boas em magia e boas de coração.
Malévola sentiu um peso no coração quando a Fada Madrinha pronunciou essas últimas palavras. Boas de coração.
– Claro, existem outras vocações honradas e importantes para as fadas que não recebem esta honraria. Vocês usarão tudo o que aprenderam aqui com seus professores nesta venerável e prestigiosa Academia em quaisquer caminhos que seguirem. – A Fada Madrinha fez uma pausa, sorrindo para as alunas.
– E, com isso, que o exame tenha início. Cada uma de vocês receberá um jovem protegido que precisará da sua ajuda. Ele ou ela lhes apresentará seu problema, e será sua missão descobrir o melhor modo de ajudar. Precisarão escolher o tipo de magia mais adequado às necessidades da situação. Lembrem-se, mesmo isto sendo apenas um exercício e os jovens homens ou mulheres atuando como protegidos só estarem aqui para auxiliar no exame, a sua magia ainda assim será válida. Portanto, por favor, façam uso de cautela e o que quer que venham a fazer, evitem usar magia danosa.
A Fada Madrinha olhava diretamente para Malévola quando ela disse magia danosa. Ela bem podia ter concluído a frase com “Malévola”.
Babá e a Fada Madrinha criaram uma série de caminhos, cada um seguindo numa direção diferente. Fauna e Flora fizeram uma careta ante a ideia de terem que seguir caminhos separadas, sem a amiga Primavera para ajudá-las.
– Fada Madrinha, não podemos fazer o exame juntas? – Flora perguntou. – Nós três, Fauna, Primavera e eu?
A Fada Madrinha pensou a respeito por um momento.
– Isso não é costume, mas não vejo qual seria o problema.
Babá objetou.
– Se Flora, Fauna e Primavera fizerem o exame juntas, então serão contabilizadas como apenas uma fada. Caso atinjam o nível de concessoras de desejos, isso lhes será conferido como um grupo. Portanto, duas outras fadas deveriam ser selecionadas também.
– Bem, não tenho certeza… – A voz da Fada Madrinha se perdeu. Mas uma fada loira acanhada num vestido azul reluzente disse:
– Então eu gostaria de fazer o exame – a fada disse baixinho.
Malévola sorriu para a fada em azul.
– Então faça! Venha para o meu lado. – Olhou para as demais alunas que estiveram ali apenas para assistir. – Todas as que desejam fazer o exame deveriam tentar. Não deixem que essas tolas as intimidem.
Lentamente, muitas outras fadas deram um passo à frente. Primavera, Fauna e Flora olharam ao redor com nervosismo para o grupo numeroso que resolvera competir contra elas. Observando as fadas, Malévola teve que rir.
– Por que está rindo? – retalhou Flora.
– Psiu! Flora, não fale com essa criatura! Ela não rirá quando reprovar no exame – disse Fauna.
Malévola a ignorou, mas a Fada Azul lançou um olhar vexatório para Fauna.
– Fauna, deixe-a em paz! – Segurou a mão de Malévola e a afastou do trio. – Não se preocupe com elas, Malévola. Só estão nervosas com a possibilidade de você se sair melhor do que elas. Você sempre foi uma excelente aluna.
Malévola não conseguia deixar de olhar para a Fada Azul. A pele dela era radiante. E o brilho parecia vir de dentro, como se a bondade dela fosse grande demais para ser contida.
– Eu queria que você tivesse continuado na escola. Espero que saiba que nem todas de nós a odiavam – a fada continuou.
Malévola sorriu e apertou a mão da Fada Azul enquanto as duas observavam Fada Madrinha e Babá criarem mais caminhos para as alunas seguirem. Por fim, a Fada Madrinha deu início ao exame.
– Escolham o caminho que as chamarem – aconselhou. – Vocês só terão sua inteligência e sua magia para guiá-las. Boa sorte, minhas queridas! Comecem!

Malévola: A Rainha do MalOnde histórias criam vida. Descubra agora