"Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim".
Harry estava debruçado sobre o parapeito da torre de astronomia. Merlin, como ele poderia ser tão absolutamente crédulo?! Porque ele arriscou a vida de seu padrinho – sua única figura paterna – daquele jeito horroroso?
Ele entendia agora, ele percebia que por mais canalha que Severus Snape fosse, ele tinha razão. Ele sempre teve. Harry era um inepto e graças a sua grande relutância em aprender o que quer que fosse ensinado pelo Mestre de Poções, o seu padrinho estava entre a vida e a morte em St. Mungus.
A única coisa realmente boa – se é que poderia ser avaliado dessa forma – era que Sirius Black havia sido publicamente inocentado e enquanto ainda inconsciente, recebera todos os mimos devidos a alguém que perdeu dez anos de sua vida enclausurado em uma cela de Askaban, cercado por dementadores. O fato de Sirius ainda manter a sua sanidade era realmente digno de um milagre, mesmo que a maior parte do seu tempo em Askaban tenha sido passada em sua forma animaga, ainda assim, era realmente algo miraculoso que ele não estava babando em um canto com os olhos vazios.
Remus – oh pobre Remus – tão discriminado pela sua condição de licantropo, abandonou a sua pequena vida para se dedicar aos cuidados de Sirius. Nymphadora, sempre presente ao lado do seu esposo, ajudava como podia, embora agora com a enorme barriga de sete meses ficava cada vez mais difícil para ela estar em constante movimento. Pior ainda, com a guerra eclodindo na Europa todo mundo sentia em seus poros a insegurança, a incerteza e o temor da morte se tornou um companheiro corriqueiro.
E Harry? Harry estava simplesmente apavorado.
Agora que ele sabia da profecia, ele só tinha vontade de desaparecer.
E ele sentiu raiva. Tanta raiva.
Ele não entendia a razão. Porque deixar o destino do mundo bruxo nas mãos de um adolescente burro? De uma aberração? Isso não fazia o mínimo sentido. Se Dumbledore ou qualquer outro mago imaginava que Harry de bom grado se jogaria nos braços da morte, nas mãos daquele que tirou a vida de seus pais, eles estavam redondamente enganados.
Ele só tinha dezesseis anos.
Ele deveria ter uma adolescência normal. Uma vida normal.
Tudo que ele amava, eventualmente ele perdia. Ele perdeu James e Lily e agora seu padrinho estava em coma mágico porque Harry pateticamente acreditou nas visões que Voldemort incutiu em sua cabeça. Hermione estava gravemente ferida. Neville provou sua coragem ao se lançar na frente de um feitiço das trevas direcionado à Luna e perdeu o movimento das pernas. Madame Pomfrey ainda não havia conseguido remover a maldição. Gina estava em recuperação. Ela foi atingida pelas garras de Greyback e teria que esperar pelo menos até a próxima Lua cheia para saber se ela se transformaria.
E Ron... Ron foi o único que saiu do ataque ileso, mas ele estava culpando Harry por tudo. Da última vez em que conversaram, ele foi muito gráfico ao explicar que se Gina se transformasse em uma lobisomem, que seria absolutamente culpa dele. Que ele fazia tudo errado. Que graças à sua maldita síndrome de herói, eles quase pagaram com suas vidas e Harry tinha certeza: ele havia perdido seu primeiro amigo para sempre. Ron jamais o perdoaria se Gina fosse amaldiçoada e ele jamais perdoaria a si mesmo.
A cabeça de Harry girou.
Ele respirou fundo tentando engolir a náusea que o deixou tonto naquele instante e tentou pensar em qualquer coisa além do vazio doloroso em seu estômago e da sensação azeda e quente da bile subindo pela sua garganta.
Oh Merlin.
Doía tanto.
Doía tanto saber que ele não tinha a mínima chance de sobreviver ao Lorde das Trevas. Doía tanto saber que ele jamais teria a capacidade de defender as pessoas que ele amava adequadamente. Doía-lhe tanto o fato de nunca ter sido normal. De nunca ter tido sequer uma infância feliz.
Harry suspirou e apertou os olhos com força.
Reforçando o aperto de sua mão direita em sua varinha, ele desejou com todo o seu coração.
"Eu quero recomeçar. Eu quero ser feliz, como eu tenho certeza que eu era quando papai e mamãe ainda estavam vivos. Eu quero que tudo seja diferente. Eu quero ter uma mãe para me abraçar quando eu tiver pesadelos. Eu quero ter um pai para me ensinar sobre as coisas da vida. Eu só quero ser amado..."
Naquele momento Hogwarts tremeu.
Cada bruxo dentro dos limites das proteções do castelo sentiu a magia vibrando em suas peles.
Sim. Uma magia de desejo, não vista e não sentida desde os tempos dos quatro fundadores abalou as estruturas do castelo mágico.
Algo muito grande aconteceu naquele momento quando uma intensa luz brilhou e o corpo de Harry Potter desvaneceu juntamente com o seu brilho ofuscante.
Continua...
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Segunda chance
FanfictionSinopse Harry precisava ser cuidado. Harry precisava escapar. Como uma árvore a cada mudança de estação ele receberá novas folhas e novas flores na infinita benção do recomeço. Notas da história Aviso legal Alguns dos personagens encontrados nesta h...