Sinopse
Harry precisava ser cuidado. Harry precisava escapar. Como uma árvore a cada mudança de estação ele receberá novas folhas e novas flores na infinita benção do recomeço.
Notas da história
Aviso legal
Alguns dos personagens encontrados nesta h...
Pelos céus, como algo poderia doer tanto? Não o seu corpo. Ela era jovem. Aos vinte e cinco, ela se recuperaria rapidamente, mas o seu coração, a parte mais afetada dela, estava em uma situação desoladora. Incurável. Era assim que ela se sentia. Como se essa dor fosse engoli-la. Como se a qualquer momento aquele aperto em seu coração iria se tornar demasiadamente forte ao ponto de leva-la para a terra dos mortos.
Oh, o seu pequeno bebê se fora. Ele esteve em seus braços, mas não havia vida nele, nem um único resquício de respiração. O cordão umbilical havia funcionado como uma forca e tirado toda a possibilidade de uma vida alegre ao asfixiar o seu pequenino.
Ellie deu a luz a um natimorto, e ele era tão esperado. Tão amado. Ele era tudo que lhe restara do homem a quem ela se entregou e agora ele também não estava mais ao lado dela.
Henry Johnson havia falecido em um acidente de carro há nove meses sem saber que Ellie esperava um filho dele.
Ela sabia que não teria muito de Henry, ela sabia que nem deveria ter tido nada dele em primeiro lugar.
Henry era casado e tinha dois filhos, mas cega pela sua paixão e pelas promessas encantadoras de Henry, Ellie havia cedido, havia se entregado e havia sido quebrada. Ela se arrependia com cada fibra do seu ser por ter se deixado envolver pelas palavras sedutoras, mas não conseguia se sentir culpada pela vida que carregava em seu ventre, porque era o tipo de amor que ela nunca antes conhecera em sua vida. Era maior que tudo o que ela havia imaginado sequer sentir.
Agora o único sentimento que lhe consolava era que seu pequeno bebê estaria com o seu pai em algum paraíso pós-vida.
Ellie, sozinha e desamparada, voltava para o seu chalé em Sussex, os passos lentos do recente parto, o coração tão partido ao ponto do irrecuperável.
Ela não sentia mais vontade de viver.
Ela não tinha mais motivo para lutar.
Ela não tinha mais nenhuma razão para permanecer respirando.
(***)
Ellie passou o dia enrolada em seu sofá. A lareira queimava com uma chama bruxuleante. As lágrimas desciam por sua face de forma constante e ininterrupta.
Há muito tempo os soluços débeis a fizeram vomitar. Ela estava tão sozinha. Tão lamentavelmente solitária.
Olhando para frente, ela viu o seu reflexo no espelho da sala. Os seus olhos verdes elétricos pareciam mortos e sem vida. Os seus cabelos cacheados e esvoaçantes estavam embaraçados e opacos. Sua pele cor de chocolate parecia sem vida, o abatimento físico lhe deu um ar fantasmagórico.
Assim, o dia e a noite passou. Os primeiros raios da manhã invadiram as janelas do chalé através das cortinas de renda amarela.
Ellie levantou devagar, estapeando o próprio rosto repetidas vezes mandando as lágrimas para longe.
Não, não, não mesmo! Ela não podia aceitar isso! Algo estava errado. O universo ou qualquer força superior que o regia não podia fazer isso com ela. Era algo que ela não podia simplesmente aceitar.
Sem saber o que fazer ou a força que a guiava, ela andou pela sala, abrindo a porta da frente. Seus pés nus tocaram o piso gelado, enviando alguma sensação através do seu corpo entorpecido. Uma brisa nauseantemente fria pinicou-lhe o rosto.
Então ela gritou a plenos pulmões.
Gritou para a floresta que a cercava. Gritou para a vida que continuava implacavelmente independentemente do tamanho abismal do seu sofrimento. Gritou para o sol nascente. Gritou pelo seu bebê.
— Eu quero meu bebê! Eu quero meu bebê de volta. Eu o quero tanto!
Com esse último choro implorativo, assim que o sol se levantou por entre as árvores densas da floresta um clarão iluminou o seu caminho.
Demorou um minuto inteiro de pura inércia e paralisia até que seus ouvidos foram perfurados por um alto – e saudável – choro de bebê.
Aos seus pés, completamente nu, enrugado de frio e vermelho do esforço ao lado de um instrumento que parecia a varinha de um maestro, havia um bebê.
Oh céus! Seu bebê havia retornado para ela!
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