Capítulo 14

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Ellie acordou do sonho com um sobressalto. Severus estava sentado na poltrona a encarando, o rosto presunçoso, Harry dormindo em seus braços com uma segurança tremenda.

Severus arqueou a sobrancelha como se soubesse exatamente o que ela tinha acabado de sonhar, e todas as nuances do sonho que ela não queria avaliar agora bateram nela como uma bola de demolição. Depois de um mês vivendo ali, a maior parte passada na presença desse homem austero, de poucas palavras, mas de uma presença potente, ela podia admitir para si mesma que sentia uma atração inquestionável por ele.

— Aqui não é um bom lugar para Harry. — ela falou, ecoando a fala de Alvo em seus sonhos.

— De fato, não é nada apropriado. Eu já escrevi para Alvo e mandei os elfos domésticos ajustarem uma das minhas casas seguras.

— Uma das? — ela riu suave. — Parece presunçoso. — ela falou, mas não de forma crítica. O tom brincalhão era bastante evidente.

— Parker, você terá que se acostumar. Eu acabei de requerer o espólio Prince que era meu por direito, o que é uma quantidade obscena de propriedades e ouro para ser sincero, e juntando tudo isso a própria fortuna de Harry, certamente não há nenhum obstáculo financeiro pelas próximas gerações. — ele disse meio sorridente. Ele desconhecia essa própria atitude em si mesmo, a forma como ele se sentia à vontade para ser mais leve com ela. Essa sintonia era algo que ele nunca sentiu antes, nem mesmo com Lily.

Parecia de alguma forma sobrenatural, uma ligação guiada como imãs opostos esperando para colidir. Ele temia na mesma medida em que ansiava por isso, mas se havia algo que era inerente de sua personalidade era a sua cautela.

— Sabe de uma coisa, Snape? — ela enfatizo o sobrenome dele. Por mais que tenha tentado inúmeras vezes fazê-lo chama-la pelo primeiro nome, ele insistia no tratamento. — Eu não estou reclamando. — Ellie fala sorridente e então ambos estavam sorrindo juntos, um sorriso pequeno e secreto enquanto se olhavam intensamente de forma ininterrupta. Havia ali desejo inegável, mas nenhum do dois tomou atitude nenhuma em relação ao sentimento que acabara de nascer.

Havia muita coisa para pesar e medir. Era preciso ter cautela. Harry deveria ser prioridade e eles não podiam se dar ao luxo de serem impulsivos e estragarem uma boa convivência em algo que respingaria negativamente em Harry. Não. Harry já teve uma primeira vida regada a desamor e Severus garantiria que neste recomeço essa criança, o seu filho, teria todo cuidado possível e todo o afeto que lhe fora negado, mas ele não podia negar, ele se sentia estupidamente atraído.

O rosto de boneca, os olhares longos, os sorrisos sinceros e um tanto quanto tímidos, tudo isso eram uma mistura irresistível.

Ellie sentia seu coração bater mais forte cada vez que olhava para o bruxo alto e moreno. Ele era dono de uma beleza inquestionável, seu nariz aquilino dando ao rosto uma austeridade, seus olhos negros eram como punhais ao encará-la, fazendo-a sentir-se despida de si mesmo, quase como se ele pudesse ler cada pensamento descabido que passeava pela sua cabeça. E talvez ele pudesse.

Ela corava cada vez que pensava nessa possibilidade, a de não precisar falar para que o outro entendesse o que ela sentia e de alguma forma, lá em seu íntimo, ela sabia que era recíproco.

Talvez ambos pudessem aprender a curar as feridas um do outro. Talvez ambos pudessem encontrar na companhia do outro alento, cuidado, afeto, paixão. Talvez o futuro reservasse algo bom para eles, afinal. A esperança não era algo com a qual Severus estivesse acostumado, mas neste instante não era algo contra o qual ele tinha forças para lutar. Esperança, de fato.

Sorriram secretamente um para o outro novamente.

Sim, cautelosamente eliz definia bem e mesmo isso parecia ambicioso para Severus porque era mais, muito mais do que tudo o que um dia ele imaginou que teria ou merecia. A promessa de uma família. A possibilidade de companheirismo, de intimidade real.

Ellie não era uma pessoa de fé, mas naquele momento ela rezou para qualquer divindade que pudesse escutar que o destino dessem a eles uma chance. Uma segunda chance para viver.

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