Capítulo 2

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Severus Snape estava no escritório de Dumbledore escondendo o seu desgosto atrás de sua xícara de chá. Ele foi avisar a Alvo que o seu garoto de ouro estava agindo estranhamente – mais que o normal – desde o incidente no Departamento de Mistérios onde o seu amado vira-lata quase havia caído através do véu e se transformado em nada. Não que Severus se importasse com o garoto. Ele era um insuportável arrogante grifinório como o seu pai, mas aquele comportamento extremamente nervoso estava irritando-o como o inferno. Potter não respondia mais às suas provocações. Potter era apenas a sombra dele mesmo no salão principal nas horas das refeições. Era como um morto vivo.

Alvo tentou lhe dizer em palavras enigmáticas que quase deram a Severus a vontade de voar no pescoço do velho e de enforcá-lo com sua própria barba – que era natural que Harry estivesse deprimido depois que seus amigos e seu padrinho ficaram gravemente feridos graças a sua ingenuidade.

Severus apontou – não tão suavemente – que existe uma diferença absurda entre depressão adolescente e quase catatonia.

— Está preocupado com Harry, Severus?

— Preocupado, eu?! Está ficando senil, velho? Eu não me preocupo com leões inconsequentes.

— E, no entanto, você tem salvaguardado a vida desse mesmo leão durante todo o tempo em que ele está aqui em Hogwarts.

— Isso é discutível, levando em consideração o fato dele me considerar o flagelo da sua existência. O garoto me odeia, Alvo.

— Sim, sim. — Alvo abanou as mãos num gesto banal. — E você não faz nada para demovê-lo dessa ideia absurda de que você é um canalha.

— Você já pensou que isso seria exatamente porque eu sou um... Canalha? — sua voz desceu para um baixo ronronar.

— Ah sim, um canalha extremamente preocupado pelo que vejo, preocupado com o garoto que diz odiar. — Alvo suspirou e de repente sua expressão estava extremamente séria. — Você sabe Severus, ele poderia ser seu filho.

O corpo de Severus enrijeceu com a lembrança. Sim. O menino poderia ser filho dele e a cada vez que ele olhava para o rapaz, essa memória o enchia com sentimentos ambíguos, fazendo-o sempre recordar-se do que poderia ter sido, mas não foi.

Harry Potter era a cópia de James com os olhos de Lily. Não, definitivamente ele não era filho de Severus, mas isso não minimizava o fato dele ser o filho da mulher a quem ele foi devoto e amou com todas as forças do seu coração.

Isso o impulsionava a encarar o Lorde das Trevas em todas as reuniões. Isso lhe dava forças para enfrentar o demônio cara a cara, sem pestanejar, sem sequer exibir uma única expressão de terror enquanto via tantas pessoas inocentes sendo torturadas por tantos métodos horripilantes.

E no final das contas era o garoto, aquele maldito garoto, aquela continuidade de Lily, era ele quem o impulsionava, sempre. Porque ele sabia que Lily se orgulharia dele por cuidar do seu menino, e por Merlin, Severus o protegeria, mesmo que esse garoto também fosse a desova de um Potter. Mesmo que esse garoto fosse afilhado de um Black. Mesmo que esse irritante garoto fosse sobrinho honorário de um lobisomem – do lobisomem que quase o matou em sua adolescência.

No entanto, ele tinha uma imagem a zelar, não tanto por vontade, mas por necessidade.

Ele estava em constante vigilância e também, ironicamente, sendo constantemente vigiado.

Os filhos dos Comensais da Morte fiéis estavam sempre em observação, afinal, ele era tão próximo do velho Dumbledore que nunca se poderia ter certeza absoluta de onde e com quem estava a sua lealdade.

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