Segunda chance

Capítulo 5

"Vento, silêncio e acima o teto
Ruge o vento, tudo deserto
Entro e lá dentro, você tão perto
Desespero de ternura e afeto."

Ellie não podia acreditar. Ela recebeu o maior presente do mundo.

Ela estava sentada em sua cadeira de balanço branca ao lado do berço do bebê. Oh, seu bebê estava mamando avidamente. Ele tinha um apetite voraz. O quarto decorado em branco e azul cintilava com vida. Seu bebê havia parado de mamar para olhar para ela. Os olhos verdes eram tão iguais aos seus próprios que era de tirar o fôlego e embora sua pele fosse branquinha como a de Henry, formava um lindo contraste com o marrom da pele de seus braços. As bochechas rosadas eram lindas. O cabelo sedoso de neném era apenas um pequeno tufo – preto como carvão. Ele parecia um anjo.

A única coisa que maculava o rosto do seu pequenino era um sinal de nascença parecido com uma cicatriz em forma de raio no lado direito de sua testa e uma marca amarronzada na sua coxa direita que parecia suspeitosamente a figura de uma coroa.

Ellie suspirou em alívio, então ela colocou o bebê para arrotar, deu-lhe um banho quentinho, passou a loção para bebês e o vestiu com um macaquinho amarelo com luvas, botinhas e toucas de lã branca. Ela tinha que ir até um lugar com o seu bebê.

Ellie colocou o recém-nascido na cadeirinha de bebês apropriada no seu carro popular barato. Agora a solidão era uma benção e a única pessoa que poderia lhe causar problemas por contestar a sua maternidade era a parteira, a velha senhora solitária também vivia em um chalé afastado da civilização.

Ellie tinha uma boa economia guardada e comprou uma pequena casa em Lowestoft Beach, Suffolk. Era uma casinha de madeira amarela em frente à praia, cercada de um jardim florido. Era como uma casinha de boneca, pequena e aconchegante. Seu filho não poderia crescer no isolamento em Sussex e Lowestoff Beach era conhecida por ser um lugar ótimo para famílias.

Ainda restara dinheiro suficiente para abrir um pequeno negócio. Ela começaria uma Botica. Ela poderia sobreviver de sua formação, sendo médica naturopata e fitoterapeuta formada com louvor e precocidade na Universidade de Sussex. Certamente ela também poderia se aventurar na área dos cosméticos. Era realmente um alívio não depender financeiramente de sua família nesse momento, especificamente por causa de sua mãe, pois ainda doía no fundo de sua alma ser ignorada por ela no momento que deveria ser o mais feliz de toda a sua existência, e a tristeza maior, Ellie sabia, era que ela só tinha a si mesma para culpar.

Ellie estacionou na frente do cartório da cidade. Algumas pessoas passaram por ela cumprimentando e arrulhando sobre como o bebê era lindo, outros, no entanto, disseram com bastante maldade que o bebê obviamente deveria ser a cópia do pai, pois era tão branquinho. Ela já conhecia em sua pele a cara do racismo estrutural, mas pelo bem da sua criança e apesar de ser polida em suas falas, ela foi bem retumbante em rebater cada fala preconceituosa e colocar cada um que agiu torcendo os lábios em seu lugar. Aos que foram carinhosos e gentis, ela sentiu gratidão sem tamanho.

É claro, ela entendia que era lógica supor que a criança pareceria com o pai, tendo ela a cor mais escura, mas ela mesma era filha de um casal inter-racial, seu pai um brasileiro negro lindo e sua mãe uma ruiva inglesa de beleza clássica e estonteante.

Ninguém sabia a identidade do pai da sua criança e as fofocas já eram intensas por ela ser a mulher sem marido, a mãe solteira, mas se realmente soubessem da verdade todos a tratariam como uma meretriz traidora e ao seu filho como um pequeno bastardo. Ela teve sorte de estar no Brasil quando a notícia da gravidez se espalhou. Ela estava em luto por Henry e o apoio de sua família naquele momento foi fundamental. Ela, claro, nunca contou aos pais e aos irmãos quem era o pai da sua criança, apenas disse que foi um relacionamento que não deu certo e mesmo com toda insistência ninguém conseguiu que ela confessasse.