P R Ó L O G O

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— VOCÊ SE SENTE SEGURO? — Minos olhava para o céu escuro e tenebroso que sempre os acompanhava durante o caminho pela floresta. Seu pensamento sobre o clima não era mais certo, muito menos poderia imaginar uma tempestade daquele tamanho se aproximando. — Não temos como voltar para o posto elevado, iriamos demorar muito até lá. Temos de continuar daqui.

— Posso aguentar a tempestade, mas não sei se vou ficar tão confiante na ajuda que estamos buscando além do cerco da fortaleza. — Mateo estava junto do companheiro, analisando o tempo. Trazia consigo uma espada de aço afiado pendendo de uma anca e uma adaga mais perigosa ainda brincando por entre seus dedos, passando de um em um e de mão em mão.

Uma tenda havia sido erguida para que passassem a noite e uma maior ainda se encontrava ao centro do acampamento. Os intendentes e conselheiros que Minos escolhera para ajudá-lo, encontravam-se todos lá, conversando de pouco em pouco, discutindo questões entre si e segredando palavras longe de outros homens que não confiavam.

Ao canto da tenda de reuniões, Lírio servia vinho quente com especiarias para os soldados de seu mestre. Uma taça cheia de vapor foi entregue para Carac, um dos soldados de mais confiança de Minos e braço direito em suas batalhas.

— Estamos quase há uma semana atrás desse feiticeiro, pode ser que ele já esteja morto ou que nem mesmo tenha existido, como muitos acreditam — Carac bebericou um pouco do vinho. — Há histórias sobre a floresta e o Além-Mundo...

— São falsas histórias — sua voz era alta e em bom som. — Não se pode acreditar em tudo o que escuta. Em breve estaremos em território inimigo, se não nos prepararmos agora, pode ser a nossa última noite vivos. — Minos era confiante em seus pensamentos. Para ele, tudo não passava de mentiras contadas para que as pessoas ficassem escondidas em casa.

— Não podemos deixar de ser vigilantes. Já estamos em terras desconhecidas — o rapaz encarava seus amigos. — Se há perigos ou não, nós não sabemos, mas o melhor é esperar.

A noite caía fria e quieta na medida em que conversavam sobre estratégias e em como chegar ao seu destino que nem se quer sabiam onde começar.

O frio maior chegara pouco depois, deixando-os sem opção a não ser ter de ascender uma fogueira. Lírio ficara encaminhado de cuidar dos preparos de seu mestre de armas, fazendo aquilo que lhe era ordenado. Tinha grande respeito por Minos, mas, por outro lado, detestava ter de limpar das merdas que os demais guerreiros faziam. Todos da colônia o queriam longe, depois de ter sido pego roubando do próprio conselho de Gardênia.

O rapaz tinha um irmão que não se dava muito bem e uma vida de guerreiro que poderia ter se tornado boa, mas escolhera outro lado de sua vida, um lado nada promissor e que o enterraria mais e mais na merda que o puxava para baixo. Suas ideias de fugir tornaram-se mais vivas quando fora chamado para ir em uma missão para longe da colônia. Tinha uma ideia de que se conseguisse uma boa montaria e uma espada afiada, ninguém o conseguiria parar.

Mas, por hora, tinha de fazer seu trabalho sem que ninguém desconfiasse. Afastara-se dos companheiros atrás de lenha, mas o solo revelara-se úmido e os galhos que avistava não pareciam nada bons para uma fogueira. Alguns e mais outros poderiam servir.

O terreno onde se encontrava descia levemente para longe do acampamento. Havia árvores e pequenos troncos caídos, marcados por garras de algum animal feroz. Algo passava por ali naquele escurecer sombrio. Fundindo-se às formas de luz e sombras lançadas pela lua. O intruso pareceu se misturar à trama da noite, seguindo os ritmos das árvores e dos ventos, na medida em que se movia lentamente como se não quisesse nada.

Temendo que algo de ruim acontecesse, o pequeno aprendiz logo posicionou-se em formação de defesa, com uma adaga de aço em seu cinto e com seus olhares ainda curiosos naquela estranha escuridão. Por mais perigoso que fosse, algo o impulsionava a seguir até lá e ver com seus próprios olhos do que toda aquela situação se tratava, mesmo não querendo. Com um pé seguido do outro, Lírio apenas deixara as lenhas que segurava cair ao chão. Começa a caminhar. Lentamente, ele sabia que a criatura sabia que ele estava ali, mas queria jogar seu jogo.

As Canções da Guerra: GARDÊNIA | LIVRO 01Onde histórias criam vida. Descubra agora