16 | 𝓁𝓊𝒸𝓀𝓎

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Luke estava com os fones de ouvido tentando passar o tempo escutando sua playlist de músicas favoritas. Contudo, nem as suas músicas conseguiriam aliviar a tensão que ele sentia agora, como conseguiram outras vezes. Sentado no banco da pracinha do bairro, ele cantarolava as melodias da música animada, de vez em quando batucava os dedos junto com o ritmo.

Não conseguia entender o motivo de estar tão nervoso. Não queria se sentir assim e sabia que não havia necessidade, mas também sabia que era inevitável controlar seus batimentos cardíacos um tanto quanto acelerados, tampouco suas mãos suadas.

Reginald, por outro lado, encontrava-se fazendo sua típica caminhada diária do horário do almoço, carregando consigo sua mochila e dois livros nas mãos. O calor era tanto que fez ele acelerar os passos querendo chegar logo ao restaurante que sempre ia quando trabalhava integralmente, e hoje era um desses dias.

Apesar de andar tão rápido pelo calor, aquele era seu único motivo para correria. Sua próxima aula só seria às duas da tarde e tinha tempo de sobra para fazer o que bem quisesse.

Ele seguia seu caminho normalmente, e restando apenas duas ruas para chegar ao seu destino, escutou alguém lhe chamar. Poderia ser algum aluno querendo falar algo mas naquele momento ele não era professor de ninguém, apenas alguém ansiando por um local refrescante, então ignorou e continuou seu caminho. Pouco tempo depois ele escutou passos próximos e sabia que dessa vez não teria como escapar. Foi quando Reggie deu uma rápida encarada em quem estava atrás dele que pensou estar delirando, estava mesmo vendo Luke ali?

— Te alcancei, você anda rápido, né? — Disse Luke respirando fundo para recuperar seu fôlego, fazendo-o presumir que era ele quem o chamava do outro lado da avenida. Reggie revirou os olhos, não estava com vontade de reviver um drama desnecessário, muito menos lembrar do episódio da sexta-feira anterior.

— O que está fazendo aqui? E como me achou? — Foi tudo que o moreno disse, tentando disfarçar sua infelicidade ao ver Luke.

— Você me falou que trabalhava por aqui, não lembra? — Reggie parou e pensou um pouco, mas ao não recordar nada ele fez sinal de negação. — Enfim, sei que provavelmente está querendo me matar mas eu queria... Queria conversar com você, isso!

Luke hesitou em terminar a frase por conta do seu nervosismo, sabendo que conversas importantes não eram seu forte.

— Por quê? — Reginald seguiu caminho sem se importar e Luke o acompanhava. — Não entendi... Não temos nada pra conversar!

Luke sorriu debochado, já que Reggie claramente não conseguia fingir que nada tinha acontecido. O mais novo deu uma corridinha e com isso estava à frente de Reggie, que parou de andar e começou a encarar Luke com uma certa impaciência.

— Eu entendo que fiz besteira. Não precisamos conversar sobre isso se não quiser, mas eu não posso sair daqui sem pelo menos dizer que eu sinto muito pela situação que criei entre nós. — Ele disse encarando o mais velho, que por sua vez sentiu algo dentro dele que pedia para escutá-lo, mesmo não querendo admitir.

Talvez porque Reggie se sentia mal ao sair sem dar explicações, ignorar todas as mensagens e ainda tratá-lo com indiferença, já que isso não era do seu feitio. Talvez também se sentisse mal por saber que aquilo não era totalmente culpa de Luke, uma vez que Reggie se considerava uma pessoa bem complicada e sabia que se fosse outro provavelmente as coisas teriam dado certo. Então, para aliviar sua consciência pesada ou qualquer problema inconveniente aceitou escutá-lo. Os dois seguiram caminho para o restaurante e assim que chegaram, foram para uma mesa mais reservada.

— Eu entendo que esteja chateado e não queira falar comigo. — Luke começou nervoso. — Não sei com o que eu tava na cabeça pra tentar aquilo, mas eu sinto muito. Acabei interpretando tudo errado e agora...

— Dá pra você parar de falar como se fosse o culpado? — Reggie o interrompeu e Luke uniu as sobrancelhas em dúvida. — Não é como se você tivesse feito algo à força. Tá, talvez você tenha interpretado errado, mas porque eu abri essa brecha pra você.

— Da mesma forma eu ainda sinto como se você não gostasse pela forma que lidou com tudo, e isso nos leva ao ponto de partida, que foi eu ter feito uma enorme besteira.

Reggie suspirou e olhou nos olhos de Luke. Ele estava sentido que o mais novo estava mal por toda aquela situação já que era algo complexo, mas talvez estivesse na hora de abrir o jogo para ele.

— É complicado demais, Luke. Tem coisas que você não sabe sobre mim— Ele suspirou mais uma vez, buscando palavras para começar a falar enquanto o garoto estava atento no que Reggie viria a dizer. — Há pouco mais de um ano atrás, eu tinha um namorado, o Oliver. Nos conhecemos no ensino médio e estávamos há quatro anos juntos.

Luke esboçou um leve sorriso, assim como Reggie, que tinha flashbacks em sua mente.

— Nossa vida não era perfeita, mas estávamos felizes... — Reggie desfez seu sorriso e levantou o olhar, que antes estava focado em tudo menos em Luke. — E então teve esse dia normal em que eu acordei, mandei mensagem para ele como sempre fazia e fui trabalhar. Era fim de tarde quando eu cheguei na minha casa, e naquele dia tínhamos combinado um jantar especial onde eu preparei tudo.

Ele fez uma pausa. Seus olhos começavam a dar indícios de que cairiam lágrimas e Luke apressou-se em segurar sua mão.

— Imagine a minha surpresa ao mandar milhões de mensagens e ele não responder. Ao notar que ele estava atrasado como nunca esteve antes, e imagine como eu fiquei quando dois policiais apareceram na minha porta dizendo que o meu namorado tinha sofrido um acidente grave e estava no hospital.

Reggie completou, deixando uma lágrima solitária cair. Ele controlava a respiração para tentar se acalmar e fazer a crise de choro cessar. Luke se prontificou a falar algo mas foi interrompido.

— Antes que pergunte, não... — Engoliu em seco e olhou nos olhos de Luke, que estava terrivelmente sentido. — Ele não sobreviveu. — O mais novo voltou a segurar a mão de Reggie e a apertou.

Luke não estava preparado e foi bem difícil digerir aquela situação. Ele então notou que as mensagens que ele recebia de Reggie na verdade eram para o falecido namorado dele, como uma forma de carta. Naquele momento, Luke sentiu-se mal por ter respondido tão insensivelmente da primeira vez, se soubesse da real situação teria sido mais empático. Mais um pouco de tempo e Reggie retomou à fala.

— E desde então eu estou em pedaços. É por isso que sou complicado... Não me leve a mal, Luke, você é uma boa pessoa e qualquer um que ficar com você será muito sortudo... Mas é que depois de tudo que se passou com o Oliver eu não consigo, sabe? É difícil me apegar às pessoas, tenho medo de perdê-las... Eu simplesmente não consigo.

Luke respirou fundo, acariciando a mão de Reggie.

— Eu entendo você ok? Não precisa se preocupar quanto à mim, está tudo claro entre nós e não precisa se sentir assim. — Ele deu um sorriso fraco. — Mas eu só espero que nós pelo menos voltemos a ser amigos. Saiba que você estará seguro comigo, porque pelo menos por alguns minutos podemos esquecer quem nós somos e começar de novo. E não precisa ter esse medo porque eu estarei aqui e não vou a lugar nenhum.

Ele disse olhando no fundo dos olhos de Reggie, que em meio às lágrimas consegui estampar um sorriso legítimo no rosto, sentindo-se sensibilizado pelas palavras do mais novo. Nunca ninguém tinha dito nada parecido, e naquele momento as coisas pareciam tão certas que de fato se sentia seguro com ele e sabia que era imensamente sortudo por ter Luke ao seu lado.

𝑛𝑒𝑣𝑒𝑟 𝑡𝑜𝑜 𝑙𝑎𝑡𝑒 ❦ 𝑟𝑢𝑘𝑒 Onde histórias criam vida. Descubra agora