Capítulo 19 - Acusações

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– É absolutamente perfeito! Acontecerá um festival daqui dois dias! - anunciou Kai, realmente entusiasmado.

– E o que isso tem demais? - indagou Satoru meio surpreso, uma vez que o amigo era sempre tão apático.

– Ouçam... Quando eu procurava um lugar para passarmos a noite, descobri que o desgraçado do Naraku tem vivido aqui nesse vilarejo como se fosse um homem respeitável, negociando mantimentos e roupas.

– Que absurdo... - comentou Seiji. – Aposto que é mercadoria roubada.

– Deve ser mesmo. Mas a questão não é essa. Eu o vi lá no mercado, junto com aquela youkai que o Satoru falou, e reparei que ela estava usando um chapéu. Pra mim está claro que os moradores não sabem que ela é uma youkai!

Os outros dois ponderaram uns instantes.

– Se não sabem sobre ela, não devem saber sobre ele também - deduziu Seiji.

– Exato! - retomou Kai. – E as pessoas daqui não são do tipo que toleram estes monstros. Agora, acreditem ou não, a dita youkai não é apenas comparsa dele, é a companheira! E pelo que escutei eles já têm duas filhas!

– O que? - exclamou Satoru, incrédulo. – Está dizendo que aquele desgraçado tem uma família agora?

Seiji também demonstrou total espanto, porém não disse nada.

– Absurdo, não acham?

– Completamente - concordou o mais jovem. – Certo! Mas o que isso tudo tem a ver com o festival?

– É, o que tem em mente, Kai? - Seiji indagou. – Não me diga que quer amotinar o vilarejo contra ele?

– Isso! Espalharemos o segredinho dele no festival, e daí contaremos com a ajuda dos moradores para pegarmos todos eles! - explicou exaltado.

– Mas é uma ótima ideia! - Seiji ajuntou empolgado.

Discordando, Satoru balançou a cabeça em negação e indagou:

– Mas se vamos destruí-lo com nossas mãos, por que envolver os moradores nisso?

– Ora, a ideia de que o safado sinta na pele o mesmo inferno que nos obrigou a viver não é boa? - rebateu Kai. – Não seria uma punição merecida, se ele morrer depois de ver a mulher e as filhas sendo perseguidas e apedrejadas? - exclamou e soltou uma gargalhada perversa e insana.

Seiji o acompanhou com um riso sádico, gostando da ideia.

– Estou com você, Kai! - ele afirmou.

– E quanto a você, Satoru?

O mais jovem refletiu uns instantes, ainda que estivesse bastante eufórico com a perspectiva de alcançar sua vingança contra Naraku, aquela ideia soou-lhe demasiadamente cruel. Mas, apesar da visível hesitação, ele acabou concordando também.

– Se é isso que decidem, estou com vocês. Não convém ter piedade daquele traste depois do que ele fez com minha família. Que a dele sofra o mesmo!

ooOOOoo

O desejo de vingança é capaz de cegar os seres humanos.

Seiji, Kai e Satoru viviam num vilarejo muito distante de onde estavam atualmente.

Cerca de doze anos atrás, Naraku apareceu na fronteira deste vilarejo em conflito com um youkai gigantesco. Concentrado no adversário, focado apenas em se tornar mais forte, o então solitário meio-youkai aranha, sequer notou a frágil mulher que vinha buscar água no riacho a beira da estrada. Era a noiva de Seiji e ela foi atingida por um golpe da calda do youkai que ele enfrentava.

Naraku Apaixonado?Onde histórias criam vida. Descubra agora