Capítulo 5 - Poder

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Do telhado do atual castelo de Naraku, Kagura contemplava o horizonte pensando em sua liberdade tão sonhada.

– Naraku se aproxima... - disse ela. – E pelo jeito não está só.

O poderoso meio-youkai não demorou a chegar ali, depois de ter obrigado a youkai lobo, Yeda, a se render. Mesmo que sua atual morada não fosse próxima ao vilarejo da velha Kaede.

Com Yeda desmaiada nos braços, Naraku adentrou um quarto amplo. Acomodou a youkai sobre um futon estendido no chão de madeira, com um sorriso maligno nos lábios e, ao se desvencilhar dela, observou atento o corpo estirado.

Yeda era alta se comparada a uma mulher humana, só um pouco mais baixa que a forma humanoide dele. Ombros largos, um belo e proporcionado busto, esguia, coxas firmes, pernas alongadas e fortes, um mero chute podia estourar um youkai.

– Que pele tão sedosa e macia como veludo... - disse ele, acariciando o rosto dela. – É uma pena que seja tão forte, senão eu poderia torná-la minha marionete assim como Kohaku.

Erguendo-se, Naraku esticou o corpo. Ao fundo do quarto havia uma porta que conduzia a um jardim. Ele foi até essa porta, que era de correr, deslizou uma das bandas e inspirou o ar noturno. Sentia-se satisfeito, quase eufórico. Já tinha subjugado todo tipo de youkai, mas aquela vitória contra Yeda teve um sabor especial.

– Quando o poder dela for meu, serei invencível - disse num largo sorriso.

Voltou o rosto para trás, seus aguçados sentidos podiam captar o leve respirar da youkai. Alguns instantes depois, caminhando de volta até Yeda, ele tornou os dedos de uma das mãos em imensas garras e, de pé, ao lado dela, ergueu o braço na intenção de atingi-la, mas hesitou.

Fitou o rosto virado parcialmente oculto pelos cabelos, a delicadeza dos lábios entreabertos e a calma respiração. E logo se abalou, ao perceber-se irresistivelmente atraído. Mas ele nunca se sentira assim por ninguém antes.

– Ora, o que há comigo? - se indagou diante da confusão de seus sentimentos.

Retraindo as garras, se afastou. Sentou-se no chão, recostado no batente da porta, e ficou pensativo.

– Não é possível controlar um youkai desse nível, e mesmo que fosse, o que estou querendo? Uma esposa? - bufou, indignado com a própria suposição. – Ridículo! Eu não sou esse tipo.

No entanto, precisou admitir que desde o momento em que viu Yeda, algo diferente o impulsionou, não sabia bem o que era, mas tinha certeza que não era sede de poder.

– Desejo físico? Não, não eu. Não herdei isso do patético do Onigumo. Isso é coisa pros humanos... É tudo muito simples, basta absorvê-la e pronto.

Decidido, ele se levantou e se aproximou novamente de Yeda. Sentou-se no chão sobre os joelhos, ao lado dela, e a encarou mais um pouco, até que um pegajoso tentáculo surgiu de suas costas e usou-o para endireitar o rosto dela, antes virado de lado. Não demorou e sentiu o estômago contrair e o coração acelerar, e ao correr a vista pelos lábios, corou.

– Isso é ridículo... - disse e fechou os olhos.

Endurecendo o tentáculo, tornando-o como uma estaca, ele tinha a intenção de atingir a youkai, mas, a milímetros do peito dela, se deteve. Irritado consigo mesmo, abriu os olhos a tempo de ver a youkai se mexendo.

Yeda levantou os braços na altura da cabeça, remexeu o corpo se espreguiçando e inspirou fundo. Parecia dormir apenas, ao invés de estar desmaiada.

– O que? Ela não pode ter se recuperado... - murmurou e, perplexo, notou-se deslumbrado apenas por vê-la se mover.

Contrariando sua razão, ao invés de atingi-la mortalmente, voltou a acariciá-la. Deslizou a mão pelo rosto alvo e depois, levantou-lhe o queixo e se inclinou, com ímpetos de beijá-la, mas recobrando o juízo e se deteve no último instante.

Naraku Apaixonado?Onde histórias criam vida. Descubra agora