Nos instantes seguintes nós descemos até o hall principal e eu torcia para nenhum dos funcionários me reconhecer. Sarah e Mitch saíram pela porta da frente, já eu e Harry descemos para o estacionamento. Nos encaminhamos até uma moto, uma scooter antiga do modelo vespa, era um veículo muito bonito na cor preta, eu já estava sentada atrás de Harry quando percebi que nunca havia andado em uma moto antes. Tudo era novo com ele e eu sentia aquele frio na barriga delicioso a cada movimento seu.
Saímos do estacionamento e seguimos pela strip. Era uma sensação deliciosa, nova porém confortável. Sentada na garupa eu pude senti-lo perto de mim, minhas mãos estavam em sua cintura, seus braços estavam firmes segurando o guidão, seu cheiro era forte e eu me aproximei mais dele para escutá-lo melhor e aproveitei para me embriagar com seu perfume.
Harry me contou seus planos para a noite, disse que estava de férias e que Mitch e Sarah praticamente o obrigaram a viajar até Vegas para se divertir. Ele disse que nos primeiros dias estava entusiasmado mas que começou a se cansar e queria programas mais normais, já os amigos não perderam o pique fazendo Harry se sentir desanimado.
— Eu estou aqui pilotando, mas você é minha guia hoje. - Harry disse sorrindo.
— A Las Vegas Boulevard é muito movimentada, se você quiser conhecer e visitar alguns lugares é melhor fazermos isso a pé. - Expliquei.
— Você que manda. - Ele respondeu manobrando a moto até um estacionamento.
Deixamos a moto ali e por um instante considerei o fato de Harry estar preocupado com seu veículo, mas depois me veio a mente que ele teria bens muito mais caros que aquele, e que provavelmente aquela moto era alugada, ninguém transporta carros ou motos de outros estados ou países quando vem visitar Vegas.
Caminhamos por uma longa calçada coberta e iluminada. Harry andava com os braços para trás e me olhava de vez em quando, ele tinha um sorriso que não saia do seu rosto, estava perto porém mantinha uma distância que demonstrava respeito.
— Por que você fica me olhando? - perguntei sem pensar.
— Quero saber sua história. Você disse que é de Sacramento, não é muito longe daqui né? Como você chegou até Las Vegas?
— Você prestou atenção então... - eu disse olhando para ele, e nesse momento Harry fez uma cara de convencido. — Quando eu terminei o colegial, não tive como pagar uma faculdade, nem consegui bolsa, eu trabalhava na lanchonete da minha cidade, um dia um homem me fez uma proposta para ser modelo na agência dele. Resumindo eu fui enganada, a proposta era para viajar até Nova Iorque e fazer um book, mas nunca chegamos até lá. Viemos para Nevada porque aqui as leis sobre prostituição são bem brandas, eu estava sendo aliciada.
— Isso é horrível, Emma! O que aconteceu depois? - Harry parecia espantado, agora me olhava com o rosto sério.
— Eu consegui escapar. - expliquei. — No final não fazia diferença uma garota a mais ou uma a menos para a companhia, algumas delas sabiam da verdade e se aliavam à eles por vontade própria. A questão é que acabei ficando aqui porque não tinha dinheiro para voltar, arrumei emprego em um hotel e estou aqui desde então.
— E sua família, quer dizer, você tem alguém em Sacramento?
Contei sobre minha família, sobre meu pai e sua morte precoce, sobre minha infância com minha mãe, sobre seu relacionamento com Richard, meus irmãos, e o inferno que minha vida virou. Não queria levar a conversa para esse lado, mas quando comecei a falar não consegui me conter. Harry ouvia tudo atentamente, em alguns momentos achei que ele estava prestes a chorar ou me abraçar.
Depois do meu desabafo foi a vez de Harry. Ele me disse que era herdeiro de uma companhia de seguros, que pertencia a seu pai. Me contou que era muito próximo de sua mãe e que tinha uma irmã, em um momento disse que elas adorariam me conhecer e que poderia me levar para Londres para me apresentar à elas. Harry havia estudado em Cambridge e estava se preparando para fazer uma especialização na London School of Economics, ele trabalhava na empresa com seu pai e morava em um apartamento no centro de Londres. Mesmo me sentindo intimidada com nossas diferenças não tive a sensação de que Harry fosse um playboy ou algo do tipo, pelo contrário, ele parecia ser bem simples.
— Você trabalha em um hotel cassino, mas já esteve em um cassino alguma vez? - Harry me perguntou olhando para o Caesars do outro lado da avenida.
— Nunca. - eu respondi e ele sorriu.
Mesmo não estando hospedado no hotel qualquer maior de idade com dinheiro pode frequentar os cassinos dos estabelecimentos. Depois de apresentar nossas identidades nos encaminhamos à Roleta, que como Harry me explicou, consiste em um jogo onde você aposta em qual número a bolinha vai cair.
Nós estávamos sentados lado a lado mas em um determinado momento nos inclinamos para focar na roleta, desse modo fiquei de costas para Harry, ele por sua vez chegou mais perto, e em alguns momentos pude sentir sua mão afastando meu cabelo.
Aquele era um jogo divertido, porém completamente voltado para o azar, se havia alguma técnica eu não seria capaz de percebê-la e muito menos explicá-la. Harry apostou algumas fichas, nada muito sério, haviam outras pessoas na mesa, mas ninguém parecia se importar com nosso entretenimento ali. Estávamos prestes a nos levantar quando Harry pediu uma ficha.
— 17 preto, por favor. - ele disse colocando o dinheiro na mesa.
Olhei para ele sem entender, e enquanto as outras pessoas finalizavam suas apostas a explicação veio.
— Da última vez que estive em Vegas perdi muito dinheiro nesse número. Foi nesse mesmo cassino. Quero fazer um teste antes de ir embora.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa a roleta girou, a bolinha branca seguia o sentido inverso, rodando rapidamente pela borda do círculo. Conforme a velocidade ia diminuindo, mais atenção era dedicada à roleta. Harry pousou uma das suas mãos no meu braço que estava apoiado na mesa, era a primeira vez que ele me tocava, pude sentir sua respiração próxima a minha nuca.Ouvimos o barulho característico da bolinha pulando de número em número até parar, e então o resultado veio.
— 17 Preto! - o croupier anunciou.
Olhei para Harry e ele sorriu. Recolhemos as fichas que ganhamos e as guardamos em uma espécie de sacola que o cassino fornece para o transporte das mesmas.
— Eu estava certo. Você me deu sorte. - Harry disse enquanto nos encaminhávamos para a saída.
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Shot At The Night
FanfictionTudo era parado, sem cor, uma melodia sem graça até o dia em que ele apareceu. De repente eu estava imersa em sentimentos, cores e formas, sensações nunca antes experimentadas pelo meu corpo, que apesar de jovem, carregava uma alma idosa. Sua chegad...