Avisei que precisava ir embora. Eu disse que poderia marcar meu horário de saída e voltar, mas Harry me disse para ir descansar. Ele iria procurar Sarah e Mitch e mais tarde nos veríamos de novo.
Devolvi seu blazer, mas antes que eu pudesse ir de vez, Harry tirou do bolso interno a sacolinha com as fichas que ganhamos no cassino mais cedo. Hesitei em aceitar, afinal era muito dinheiro, mas ele me disse que aquele prêmio foi ganho com meu mérito, já que eu havia sido seu amuleto da sorte. Harry também disse que não era uma quantia que faria diferença, e mais uma vez eu me senti distante da sua realidade.
Voltei até o quarto 1794, estava com a chave mestra então consegui abrir a porta mesmo sem ninguém estando lá. Me troquei e deixei o vestido e o salto de Sarah próximos à sua mala. Meu bip tinha algumas notificações, mas nada muito alarmante, conseguiria me safar de uma noite ausente sem muito problema. Peguei meu carrinho e fui até a o ponto eletrônico para registrar meu horário de saída. Disse que meu bip parou de funcionar e minha chefe não fez muitas perguntas, só me orientou a pegar outro no próximo turno. Após isso, fui para casa.
Pensei em chegar cedo para ter tempo de ver Harry então às 16h eu já estava a caminho do Bellagio. Eu sabia que havia sido apenas uma noite, e que as chances de existir um relacionamento eram mínimas, mas só a ideia de estar com alguém que despertava em mim o que eu não podia explicar, já valia.
Subi até o quarto e bati na porta. Silêncio. Bati mais uma vez e novamente não obtive resposta. Tentei dizer que era serviço de quarto mas o silêncio permaneceu. Eles poderiam estar passeando, no dia anterior eles estavam andando pela Las Vegas Boulevard quando eu quase os atropelei, mas algo parecia não estar certo.
Abri o quarto com minha chave, e tive que me certificar que estava no local correto algumas vezes. O aposento estava vazio. Limpo e arrumado, pronto para receber um novo hóspede.
Eu andei pelo quarto, fui até o banheiro e até verifiquei embaixo das camas, olhei as gavetas e os armários atrás de algo, algum bilhete, qualquer coisa, mas não havia nem sinal de Harry, Sarah ou Mitch.
Sai dali aos prantos, não queria acreditar que havia sido abandonada daquela forma. Eu sabia que não iria embora com eles, mas me senti usada, Harry teve o que queria e foi embora como se eu nem existisse. Ele disse que ainda tínhamos tempo, que nos veríamos mais tarde, mas nada daquilo era verdade.
Fui até a recepção checar se meu desespero tinha fundamento. Afinal, eles poderiam apenas ter mudado de quarto, ou de hotel. Mas minhas esperanças se esvaíram quando a recepcionista me informou que o trio fez o checkout às 11 da manhã e que pediu um transporte direto para o aeroporto.
Eu poderia pedir os dados dele, incluindo algum telefone, na recepção, mas de que isso adiantaria? Se ele quisesse manter contato, teria feito por onde. Eu não era a primeira e não seria a última mulher a ser usada por um homem em Las Vegas.
Queria poder dizer que tudo voltou a ser como era antes depois disso, mas nada voltou ao normal nos dias que se passaram. A monotonia era a mesma, mas eu não era a mesma pessoa. Provei sensações e me permiti sentir o que eu não sentia há muito tempo e isso me fez enxergar a verdade. Antes eu trabalhava em piloto automático, não era como se eu gostasse de viver ali e daquela maneira, mas a partir daquele momento tudo gerava questionamentos na minha mente. Cada dia de trabalho era uma tortura, e se isso não bastasse eu não conseguia esquecer Harry.
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Shot At The Night
Hayran KurguTudo era parado, sem cor, uma melodia sem graça até o dia em que ele apareceu. De repente eu estava imersa em sentimentos, cores e formas, sensações nunca antes experimentadas pelo meu corpo, que apesar de jovem, carregava uma alma idosa. Sua chegad...