Militante.

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Vitória de Santo Antão- 1985.

A praça da matriz estava agitada naquele janeiro, Maria Elsa havia ido comprar água quando Josefo atravessa o seu caminho, vestido a moda da capital, ele causava arrepios na moça de vestido branco enfeitado de bicos.

—Deixa eu passar, por favor.

—Que isso Elsa?... Tá tão quente...

—Meu nome é Maria Elsa Acyoli de Amorin e não lhe estou dando intimidade.

—Ele está lhe incomodando moça?

—Eu já tô indo embora. 

—Qual quer coisa procure no campo dos sem-terra por Segismundo.

        Maria Elsa sai com a visão do rapaz que havia lhe defendido daquele homem asqueroso, de volta a igreja foi fazer suas orações, a sua mãe que estava usando um terno de linho, tomou a água quase toda.

—Mainha, aqueles sem-terra lá da BR...

—Por que esse interesse? Nem fale isso junto de seu pai, essa gente é tudo perigosa, são comunista.

—Mas se o governo desse terra pra esse povo...

—Perdeu o juízo Maria Elsa?

—Não.

—Acho que teu pai tem razão, tu tem que casar com Josefo Carvajal.

—Logo com ele.

—Moça de família não escolhe marido.

As duas voltaram para casa de alpendre, rosa e branca com o chão de madeira que Luzia esfregava bem; Severino Acyoli fumava charuto enquanto lia o Diário de Pernambuco.

—Avise a Maria Elsa que Josefo Carvajal vai vir aqui no sábado.

—Aqueles indigentes da BR, vão criar vida ali?

—Oxe Glaura! O que é isso agora?

—Curiosidade.

—Pois tá muito curiosa pro meu gosto.

Ao cair da noite, Maria Elsa pulou a janela do quarto, ela não era de fazer essas coisas, mas algo de curiosidade tinha ficado nela.

O assentamento dos sem-terra era improvisado, casinhas de lona e papelão, plantações de diversos alimentos, escola, cooperativa, associação de moradores e uma igreja.

 — Tá fazendo o que aqui moça?

—Tô procurando Segismundo.

O brilho dos olhos deles era perceptível, quem visse diziam que estavam apaixonados, ela estava ali trêmula como uma criança travessa.

—Tu tem duas horas pra dizer pra mim que isso não é errado.

Ele ri.

—Oxe, não tem nada de errado aqui.

Em plena noite do interior o vento soprava nos cabelos negros de Maria Elsa, convidando os amantes a um beijo.

As Eras do amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora