Ele veio de Gravatá.

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Recife - Janeiro de 1985.

A casa do estudante de Pernambuco estava uma confusão só e no meio dela estava Matias e sua mala, ele de cabelo raspado por ter passado no vestibular de medicina, necessitava de acomodação.

—Onde eu posso ficar?

—Em canto nenhum, tá lotado aqui.

—Moça, eu vim de Gravatá, não sei andar pelo Recife.

—Aí não é problema meu.

         Na saída ele vê um anúncio de aluguel de um quitinete no Espinheiro, depois de alguns ônibus errados, Matias já tinha lugar pra ficar no Recife.

Um mês depois.

        O primeiro dia de aula era caótico, veteranos fazendo trotes com os calouros, infiltrados do DOPS, o moço de Gravatá estava perdido, as coisas da capital eram grandes e distantes ao mesmo tempo.

—Você poderia me dizer onde fica esse prédio?

—Tu tá do lado errado da faculdade, isso fica perto do HC.

—HC?

—Hospital das Clinicas.

—Comunista?

—Matuto, isso sim.

Joabson ascendeu o cigarro enquanto Matias se afastava, o moço sentia falta de Gravatá, do cheiro do campo, Recife cheirava a fumaça e toda vez que ele chegava em casa; sempre se atrapalhava com as chaves, em sua cidade ele sempre executo ações de resistência contra a Ditadura, mas como fazer isso em uma cidade grande sem ser pego pela repressão? Matias era precavido, ele havia escondido os "livros perigosos" em baixo do piso.

Mabel era visada de diversas formas, seja por causa de sua aparências, seja por sua militância, nascida e criada em Olinda, livre como o vento, quando Matias a viu saindo do CCSA, ficou paralisado.

O último carnaval sob um governo ditatorial, Matias saiu de Star Wars com os amigos, a visão de Mabel vestida de melindrosa, fez o rapaz tomar coragem e ir falar com ela.

—Oi, meu nome é Matias.

—Mabel!

—Eu sou calouro de Medicina.

—Eu tô no 4º período de Sociais.

—Tu tem coragem de mamar em onça.

Ela ri.  

O amor de carnaval surgiu e o Moço de Gravatá mudou de opinião sobre Recife, a moça destemida fez outras cores surgirem pra ele, a cachaça também havia feito, acabada a folia ele pega o ônibus elétrico reflexivo.

As Eras do amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora